domingo, 20 de março de 2011

IX - FATOS PITORESCOS

Padre Padrinho

 

  O povo de Rincão dos Alves sempre se manteve fiel aos princípios religiosos com predominância ao catolicismo. Era tradicional, uma vez a cada 2 ou 3 anos, a realização de uma cerimônia de Crisma junto à Capela e depois, Igreja São João Evangelista, quando os jovens da faixa etária de 12 a 18 anos recebiam esta confirmação religiosa. Lá pelos idos de 1936, o bispo de Santa Maria chegou no Rincão para esta cerimônia religiosa e para isso o Padre José, da paróquia de Jaguari relacionava os crismandos. Ao interpelar Zeferino Machado(Neno, 15) para entrar na fila dos contemplados, respondeu-lhe: “Não tenho padrinho. Só aceito ser crismado se o Senhor for meu padrinho”. Não deu outra, o Padre José topou a parada e lá foi o Neno a tiracolo com o ministro de Deus em direção ao bispo para receber a água benta da crisma. A partir deste instante a noticia tomou conta do lugar e muita gente nem acreditava num fato que até hoje os mais antigos ainda se lembram com um sorriso malicioso. Foi um acontecimento inusitado em que o desafiante teve que cumprir sua palavra, uma vez que tinha certeza que o Pe. José recusaria sua proposta! (Fonte: Zeferino Machado, Neno)


Esta Criança Não tem Pai...?
 

  Mário Flores de Oliveira e Nair Machado de Oliveira tiveram um único filho biológico – Mário Iran de Oliveira. Todos moravam no Rincão dos Alves e se mudaram para a cidade de Jaguari em busca de ensino de melhor qualidade. Chegada a época da 1ª comunhão na escola, todos foram catequizados ao recebimento desse outro sacramento preconizado pela religião católica. No dia da celebração da missa e 1ª comunhão, Mário Flores, pai de Iran, não pode comparecer ao ato, de modo que Iran foi sozinho à frente do altar. Pe Nelson, o celebrante, ao chegar na frente do Iran, percebendo que estava sozinho, bradou em voz alta, com seu timbre agudo de voz , na frente de todos os fiéis presentes e soltou essa: “ ... essa criança não tem pai ?” Os professores e demais presentes ficaram estupefatos com a indelicadeza do ministro, mas sabiam que essa era sua marca registrada: falar alto, sem espinho na língua... dizer o que acha necessário... não importa o lugar...(Fonte: Idalina Simmi de Oliveira)

                                          Fogo no Jipe do Padre
 

Até os anos 60 o Padre da cidade de Jaguari ia rezar missa no Rincão dos Alves montado em Cavalo mantido pela própria Congregação Religiosa, devido a inexistência de veículo com robustez suficiente para enfrentar as estradas “carreteiras” da época. Com a melhoria das estradas, passaram a entrar os jipes(Jeep Willys, fabricação USA 1942)), tração nas 4 rodas e rodas de aros maiores. Desse modo, os religiosos passaram a usar o novo meio de transporte para os compromissos no interior do município. No inicio de 1964, o Padre Nelson Friedrich, hoje(2011) aos 93 anos de idade, ainda em atividade, assumiu o compromisso de rezar uma missa no Rincão dos Alves em memória de 1 ano de falecimento de Marcírio Machado. A missa havia sido encomendada pela Idalina Simmi de Oliveira, filha de Márcirio, que morava na cidade. Pediu carona ao Pe. Nelson que a levou junto sua sobrinha Neusa, e lá se foram estrada fora. Quando chegou na metade da estrada, Neusa alertou o Pe que havia uma fumaça estranha na frente do jipe. Pe Nelson, um zero à esquerda em mecânica, levantou o capô do motor e saiu uma tocha de fumaça, seguida de uma chama enorme. Olhou para o lado e percebeu que Neusa levava no braço um blusão branco, de linha, momento em que Pe. Nelson lhe disse: “Me dá este teu casaco para abafar a chama”. Neusa pensou rápido e atirou o blusão para outro lado na direção de uma sanga para evitar que sua vestimenta fosse inutilizada combatendo o fogo. Pe. Nelson usou outros meios de sufocar o incêndio e depois comentou: “A moça ficou tão nervosa que, ao invés de atirar o blusão para o meu lado, atirou na sanga”(Fonte: Neusa, sobrinha da Idalina)

                            Peripécias de um Casamento
 

Altair Sagin Machado, nascido no Rincão dos Alves, filho de Pedro Machado e Santa Saggin, na época morando em Bom Retiro, distrito de Nonoai-RS, distante a 20 Km de chão batido de terra vermelha até o centro da cidade, no dia do seu casamento enfrentou uma série de transtornos. Tudo preparado para a festa em Bom Retiro, porém chovia muito e a cerimônia religiosa seria na Igreja matriz da cidade. Altair, acompanhado de sua irmã Virginia Maria e da mãe Santa Sagin Machado, saíram de Fusca para a casa de um amigo em Nonoai para trocar roupa. No meio do percurso, devido ao lamaçal, o fusca capotou, ficando deitado e atolado, de modo que todos saíram ilesos do acidente. Poucos instantes depois passava um veículo que os socorreu. Deixaram o fusca no local, transferiram as malas com roupas do noivo para o veículo de socorro e seguiram para Nonoai. Chegando na cidade, local de destino, desembarcaram e esqueceram de descer as malas com as roupas do noivo que haviam ficado no carro que os socorreu. O veiculo saiu e ninguém sabia para onde e nem quem era seu dono. Extraviaram as malas com as roupas do nubente. Convocaram o Sr. Milton, amigo da família, para localizar o veículo desconhecido. Enquanto isso o tempo ia passando e os convidados aguardavam, ansiosos, o início da cerimônia na Igreja matriz. Um dos futuros cunhados foi avisar a noiva que Altair, o noivo, havia sofrido um acidente de automóvel e, ao receber a notícia, sem ouvir toda a ocorrência, desabou em desmaio. Depois que se recuperou do impacto, ficou sabendo que o caso não era grave e o casamento não seria interrompido. O padre, que iria celebrar a cerimônia se recolheu, inconformado com o atraso, mas realizou a cerimônia, mesmo com atraso, é claro. E para relembrar o episódio desse casamento, sua filha Mariana quando casou teve sua cerimônia de casamento requintada com cena do fusca tombado e o noivo atônito aguardando socorro.(Fonte: Virginia Maria, irmã do noivo)



Filho Extraviado
 

Lá pelos idos de 1945 Pedro Machado e família se transferiram, de “mala e cuia”, com toda a família do Rincão dos Alves para o interior de Nonoai-RS, em um caminhão com toldo onde outra família - de Manoel Viana - também era transportada para o mesmo destino. A família de Pedro era numerosa e nas paradas de descanso havia dificuldade na contagem dos filhos e ocupantes do veículo, pois viajavam embrenhados entre os móveis da mudança. Nas proximidades da cidade de Sarandi, suspeitaram da falta de um ocupante – o menino Aldemir, 7 anos. Retornaram e encontraram o dito que acabava de sair de trás de uma moita. Reintegrado à caravana, seguiram para o destino, Rio dos Indios e Bom Retiro, distrito de Nonoai onde iniciaram uma longa jornada de sucesso na plantação de soja.(Fonte: Maria Virginia,filha de Pedro Machado)


O Branqueamento da Guajuvira
 

Quem morava no interior do município de Jaguari,RS, localidade do Rincão dos Alves, lá pelos idos de 1940, tinha como alternativa de fonte de renda a extração de madeira de lei(só cerne ou alburne). Algumas espécies se destinavam à Estrada de Ferro, no auge de sua construção; outras, para mourões e tramas para cercados de pastagens, peças de mangueiras ou encerra de animais, bretes e outras finalidades. A rapazeada ajudava os pais nessa seara, mas a remuneração não retornava na forma de moeda. Por isso os jovens mantinham uma exploração paralela e clandestina visando a conseguir algum dinheiro para custear despesas de bailes e outras diversões, com possibilidade de agradar a namorada pagando um refrigerante ou um lanche. Certa vez, Zeferino Machado(Neno), recém chegado do serviço militar em 1945, juntamente com o amigo Geraldo Kerpel estavam branqueando uma guajuvira(madeira de boa qualidade), isto é, tirando a parte branca do tronco, de pouco valor comercial, deixando só no cerne, cuja parte maior da árvore estava na divisa de 2 posseiros de João Alves. Naquele instante chegava ao local o Sr. Mário Feliciani, intitulando-se dono da guajuvira. Era um período em que as terras estavam em inventário e começava uma disputa por áreas melhores. Quando a árvore foi cortada, pela sua inclinação natural, previa-se a queda em área de uso de Mário, mas ainda em propriedade de João Alves. Argumentou a posse do tronco, mesmo que os rapazes tivessem gasto muitas horas de trabalho para seu beneficiamento. A tora estava quase toda desdobrada em peças prontas para comercialização e tiveram de entregar o ouro para o bandido. Os moços já imaginavam o quanto poderiam obter com a venda do produto no Bolichão do Santo Picollo, estabelecido ao lado da Escola João Alves Machado. A alegria de Neno e Geraldo durou pouco. A madeira foi confiscada pelo Sr. Mário Feliciani, sem que ouvisse a argumentação de defesa, pois qualquer reclamação que chegasse aos ouvidos de João Alves era motivo de repreensão ao neto que se apropriava indevidamente de um bem que não era seu, nem tinha autorização para explorá-lo. Com a batalha perdida, ficou a mágoa da desconsideração e o desconforto de sofrer em silêncio a perda de um trabalho sem qualquer recompensa.(Fonte: Zeferino Machado, Neno)


Padre Amadeu – O Missionário Aloprado
 

Todo religioso que sai do seminário ou do centro de treinamento missionário é mandado para os diferentes locais para exercer a função catequista. Lá pelos anos 1935 foi designado para o Rincão dos Alves o Padre Amadeu, pertencente à ordem dos Missionários Redentoristas de Passo Fundo, o qual tinha a fama de querer mandar no destino dos seus catequizados. Tinha o hábito de fazer as reuniões separadas: Ou Só para mulheres ou só para homens. Logo na sua chegada foi solicitado a ele que fizesse um calendário das datas das visitas de missionários. – Respondeu que não era tarefa sua fazer tal programa nem divulgação. Dizia ainda que o povo não dava o devido valor a sua missão, por isso aquele povo era uma “esculhambação”. Certo dia fez uma reunião com as mulheres da localidade, a quem fez severas advertências para participar e acompanhar todas as reuniões para poder passar os ensinamentos aos filhos. Solicitou a elas que intimassem seus maridos para a reunião do dia seguinte no mesmo local junto à capela. Chegado o dia, apenas dois homens lá compareceram, quando o padre se exaltou reclamando que as mulheres não haviam transmitido a ordem a seus maridos. Mal acabou de falar, um dos homens presentes, Sr. Izaltino Machado, se levantou e respondeu. – Padre, na reunião de ontem haviam apenas seis mulheres e, 5 delas, eram viúvas! Com essa resposta o Padre murchou... resmungou e adiou o encontro.(Fonte: Zeferino Machado, Neno)


O Mestre da Régua


Em outra seção foi abordado o elenco de professores do Rincão dos Alves. Pedro Krahe não só ensinava “acolherar” as letras e praticar a aritmética como também puxava as orelhas dos bagunceiros em aula. Certa vez, assistindo a uma aula, Zeferino Machado(Neno), olhando firme para o mestre Pedro Krahe, recebeu de seu colega Nilo Kerpel, de repente, um cutucão nas costas com a ponta do lápis, instante em que deu um gritinho e se virou para trás. O Professor não gostou daquela atitude e tomou sua régua de meio metro, seção quadrada e se dirigiu ao Neno, desferindo-lhe uma reguada na cabeça, causando um profundo corte no couro cabeludo. O sangue brotou imediatamente e teve que ir para casa. Ao chegar lá, indagaram o que havia acontecido. Suas irmãs, muito boazinhas, perguntaram quem foi o autor daquela proeza e Neno respondeu – O Prof. Pedro Krahe ! As irmãs, em regozijo ao acontecido, completaram dizendo, nós vamos fazer um bolo para brindar o professor pelo seu excelente trabalho educativo. O Neno recebeu o castigo que merecia – uma reguada ! (Fonte: Zeferino Machado, Neno)


O Jerônimo e seu Caminhão


Jerônimo Snovareski morava no Passo do Salso – Rincão dos Alves – tinha um caminhão de frete e atendia as necessidades de transporte da vizinhança, porém gostava de tomar umas “cangibrinas” a ponto de ficar meio esquisito. Não somente era motorista como também entendia de mecânica, porém exercia esta função quando tinha vontade. Certa vez saiu a fazer um transporte em São Vicente do Sul, mas foi recomendado a colocar combustível só no tanque do caminhão – álcool no gogó... nem pensar. Mesmo assim Jerônimo driblava a vigilância e achava uma brecha para um golezinho. Quando ele e os ajudantes concluíram o trabalho já era noite. Estavam retornando a casa pela estrada de Mata e quando chegaram ao local denominado Santo Antonio deu uma pane no velho Internacional. Jerônimo nem pestanejou – abriu a porta do barulhento e saiu a pé, estrada a fora, enquanto seus companheiros de viagem insistiam para que levasse pelos menos seus pertences, inclusive abrigo, pasta com documentos e dinheiro. Não deu ouvido a ninguém e saiu resmungando e falando sozinho: “Não quer andar, que fique aí mesmo – não vou te adular”. Ao chegar em casa seu pai questionou seu gesto de abandonar do veículo naquele lugar deserto. No outro dia foram buscar o birrento internacional que pegou logo de primeira.(Fonte: Elni Snovareski, seu sobrinho)


O Outra do Jerônimo


Jerônimo era aficcionado no jogo de cartas, mas habilidoso, por isso quase sempre acabava ganhando as grandes paradas de apostas. Em razão disso ganhou o apelido de “Piranha”. Iniciava a jogar ainda cedo da noite e só retornava a casa a altas horas da madrugada. Certa noite, quando morava em São Vicente, exagerou no trago e perdeu o rumo da casa, passando a perambular por outras ruas. Depois de andar por vários lugares, resolveu pedir ajuda para a localização de sua casa. Perguntou a um cidadão que vinha em sua direção, porém não percebeu que era um brigadiano, já seu conhecido, se ele sabia onde morava o tal de “Piranha”. O soldado perguntou seu nome e ele respondeu: Jerônimo! O militar surpreso retrucou – mas Jerônimo é o mesmo Piranha ! – Eu sei que é, disse Jerônimo, só não sei onde ele mora!(Fonte: Elni Snovareski, seu sobrinho)


O Jerônimo no Quartel


Sua estatura ultrapassava o comprimento das camas beliches dos alojamentos da Bateria de Comando e Serviço(BCS) do 2º GA 75 Cav, de Santiago, onde serviu em 1956. Por isso quando deitava, o cobertor ficava curto e dormia de pés descobertos. Os soldados de serviço, malandros e maldosos, se divertiam em aprontar pegadinhas para o distinto. Queimavam um palito de fósforo deixando só o carvãozinho chamado mosquito mecânico. Embutiam o estilete nas rachaduras da sola do pé e acendiam com fósforo na ponta que progressivamente ia queimando. Quando a brasa atingia a sola do pé, Jerônimo soltava um urro de furioso e saía ofendendo e soltando “osso” até a 5ª geração da família do responsável. Este gesto acordava todos do alojamento, mobilizando cabo de dia, sargento de dia, resultando em punição para Jerônimo que provocava alteração e perturbava o sono dos outros.(Fonte: Bressan, contemporâneo de quartel)

                                  O Pouso do Teco Teco – Que Susto!


Teco Teco era o nome popular dado às aeronaves ou aviões de pequeno porte, monomotor, com capacidade para 2 pessoas. A população de Rincão dos Alves nunca tinha visto tal aparelho voador, a não ser voando a grandes alturas. Em meados de 1946, numa tarde de domingo, durante um Comércio de Carreiras na Cancha da Cruz, surgiu um avião monomotor piscando seus faróis, pedindo espaço para aterrisar na pista de corrida dos cavalos. Na primeira baixada e arremetida foi aquele esparramo de gente para todo lado. Poucos sabiam do acontecimento e quem não sabia tomou o rumo do mato e abrigo atrás das poucas casas que havia no local. Houve caso de mulheres, na pressa de fugir do artefato voador, que deixaram metade do vestido enroscado no arame farpado da cerca delimitadora da cancha. Os vendedores de quitutes só puderam levar um pouco do que estava exposto em suas bancas. Foi um abandono quase total do ambiente da Cancha da Cruz. Os que estão ainda vivos, quando se lembram do acontecido, soltam gargalhadas !


O Uma Prosa sem Fim


Os primos Zeferino Machado(Neno) e Nativo Machado de Oliveira quando se encontravam, travavam o cronômetro das horas. Cada qual queria contar sua façanha de imediato, chegando até se xingarem por um não deixar o outro falar. Nativo, com 4 filhos entre 5 e 14 anos, saiu do Rincão dos Alves para morar em Canoas-RS –Bairro Matias Velho, zona alagadiça em 1970. Trabalhava em serviços gerais, principalmente em serviços de segurança empresarial como vigia. Nas férias vinha à Jaguari visitar os parentes e amigos. Certa vez planejou passar 4 dias entre Santa Maria e Jaguari, Rincão dos Alves. Chegou em Santa Maria numa 4ª Feira a tarde, quando este redator manteve um curto diálogo e ficou sabendo de suas intenções de seguir para Jaguari e de lá, seguir direto à Canoas. No sábado à tarde, passando pela residência de Neno, lá ainda estava Nativo em altos papos e gestos retocando assuntos que nunca acabavam. Indagado sobre os planos da viagem, disse que resolveu cancelar a ida a Jaguari, pois faltou tempo para por a escrita em dia. Ao mesmo tempo se queixou do Neno dizendo que o impedia de expor assuntos ainda trancados na garganta. Disse que iria retornar domingo à noite para Canoas-RS, sem cumprir seu plano inicial de viagem, porque na 2ª feira deveria retomar o serviço de segurança que exercia naquela cidade. Qualquer um destes dois cidadãos, tem fama de passar noites em claro contando histórias e estórias sem se cansar, pois o fazem com prazer e alegria, além de se empolgarem com os feitos de sua época. Muitos amigos deles deixam de fazer visitas porque não dispõem de muito tempo e, para visitá-lo e dizer algumas palavras, é preciso usar um novo medidor do tempo – não mais minutos e horas, mas “dias” ou “semanas”.


A Malandragem do Cigano


A familia Hegres arrendava as terras da mãe, situadas numa ilha de um distrito de S. Vicente do Sul, a um Sr. da família Ambrós, que pagava regularmente 1/3 da produção em cada safra. Soube Ambrós, através de espiões, que as terras onde plantava ainda não tinham dono verdadeiro. Eram terras sobradas de medições da Carta Geral. Por isso formalizou um pedido judicial de Usucapião. Quando os Hegres souberam da trama, procurou um advogado que lhe disse não ter mais volta. O negócio já estava consumado, com a perda de 16 ha de área para Plantio e 2 ha de terra com mata. Ainda curtindo a desgraça de ter perdido uma área que considerava sua, apareceu na casa dos Hegres um cigano, com toda família, dizendo que sabia quem eram os mentores daquela idéia de tomar suas terras e tinha uma solução. Esta solução foi demonstrada em cima de uma mesa, usando um papel branco e sobre ele, quebrando um ovo, mostrando que aparecia o rosto de quem lhes havia prejudicado. Apresentou aos Hegres uma proposta de reverter a decisão judicial, mas tinha um custo. Como Hegres não dispunha, no momento, de moeda corrente, disse dispor de certa quantidade de soja na Cooperativa. Houve acordo de ceder 20 sacas do produto para o trabalho de reversão, ocasião em que autorizou entregar ao cigano espertalhão tal quantidade. Durante a negociação, a família do cigano se aproveitou do clima favorável a pedidos e começou a explorar os Hegres, requisitando galinha, leitão para a festinha do pequeno que já olhava com aqueles olhos redondos, além de outros produtos franqueados pela sensibilidade do patrão. Depois de alertado sobre o golpe, a ficha caiu e o cigano desapareceu.
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