segunda-feira, 21 de março de 2011

XIII - ATOS HERÓICOS E AVENTURAS

                                         Heroismo de uma mãe

  Na grande enchente do Rio Jaguari, em 1941, uma família com 3 (três) filhos, moradora nas margens deste Rio, foi surpreendida com a subida rápida do seu nível. Dona Cecília Marques, de apelido Porfíria, depois de ilhada, só teve tempo de pegar seus três filhos: Valdemar(7), coruja(5) e o pequeno (3) e subir numa árvore – um velho Alecrim e ali ficou durante três dias, sendo ameaçada de ser levada pela correnteza. Os vizinhos e parentes tentavam chegar de canoa ao local e desistiam de chegar ali devido a fúria das águas. Contam os expectadores que não conseguiam entender como essa mãe mantinha as crianças alertas e presas à árvore para não serem levadas pela correnteza. Os galhos do alecrim se curvavam a todo instante ameaçando arrastar os pendurados. A angústia daqueles que assistiam à iminente tragédia parecia ser da mesma intensidade daquela vivida pela mãe e seus filhos. Outro questionamento que intriga a qualquer pessoa se refere a fonte de energia para suportar tanto tempo sem cochilar, sabendo que qualquer descuido era fatal para aquela família! Em fim, as águas baixaram e os flagelados foram resgatados com vida. Foi uma vitória inexplicável! Um fato real que teve um final feliz! Por ironia do destino, o marido de dona Porfíria, que havia ficado fora daquela agressão da natureza, mais tarde, em 1984 foi tomado de surpresa na casa onde morava e morreu afogado, sozinho, no teto de sua casa. Dali não pôde sair a tempo de fugir da invasão das águas.

                                     Exemplo de Superação


  Há um dito popular ou ditado que diz: “Só damos o devido valor ao que nos pertence quando os perdemos” ou ainda: “Eu era feliz e não sabia”. Quantas vezes negligenciamos o cuidado com nossos pés e pernas, mãos e braços!. Arriscamos imprudentemente nossos órgãos de ação e locomoção como se fosse fácil substituí-los. Quem opera máquinas e equipamentos deve conhecê-los e tratá-los com maestria para não sofrer as conseqüências do seu mau uso. Deve o operador perceber que uma falha sua pode causar irreparáveis danos. Foi o que aconteceu com o Sr. João Antonio Rosa, quando tinha 16 anos de idade perdeu o braço esquerdo na correia do Engenho de Serra em que trabalhava. Houve tentativa de reimplante pelo Dr. Edú Marchiori da Silveira, porém os procedimentos médicos e as condições do acidente não contribuíram para o sucesso da operação. Ficou definitivamente sem o braço, mas isso não o impediu de ser um trabalhador produtivo e procurado pela maioria dos empregadores rurais. Trabalhava em igualdade de condições com outros parceiros e nunca se queixava de sua deficiência física. Ao contrário de muitos que, na falta de um dedo ou de uma mão, se jogam nas cordas alegando incapacidade para o trabalho. O Sr. João Antonio buscou alternativa, transferindo energia para outros membros atuantes, de modo que nunca rejeitou serviço, apesar da ausência do braço. Tornou-se uma pessoa estimada e exemplo de superação, além de ser um exemplar chefe de família. Veja a genealogia: Rosa II, página 78.(Fonte: Valdir Machado Kraetzig).



Marcírio e suas Aventuras
 

  Marcírio Machado de Oliveira nasceu em 06/06/1880 na localidade de Rincão dos Alves, 4º Distrito de Jaguari, filho de João Alves Machado e Marcolina Campos de Oliveira, o 4º filho de uma prole de 13 irmãos. Foi alfabetizado por pessoas contratadas na localidade e desde logo manifestou sua predestinação em buscar conhecimentos através da leitura de folhetos, jornais, revistas e livros. Nos bancos escolares não passou do equivalente ao 1º grau de hoje em razão da necessidade de ajudar a família nos afazeres da lavoura, criação de gado e extração de madeira. Lá por volta de 1907 contraiu matrimônio com Verginia Simmi, imigrante italiana, com quem teve 10 (Dez) filhos: Adelia, Idalina(Dilina), Olindo(Olinto), Pedro, João(Joanete), Antonio, Geni(Genita), Zeferino(Neno), Nair e Ireno(o Caçula). Alguns anos depois de casado, se estabeleceu com comércio de Secos e Molhados na Casa onde morou por longos anos seu filho Olindo.(Hoje lá moram a viúva de Olindo – Pina e o filho José de Oliveira com sua família). Ali comercializava produtos diversificados visando a atender as necessidades da população. Sua venda era abastecida por produtos vindo de fora como Cacequi, Rosário do Sul, São Gabriel, Livramento e Jaguari, trazidos por carreteiros que saíam do Rincão dos Alves levando madeira bruta ou beneficiada em forma de apetrechos de carreteiros, derivados do leite e carne(charque e embutidos). Os negócios iam bem, porém alguns percalços de família e a própria rotina do comércio mexeram com seu procedimento de vida. Deixou o Bolichão de Campanha por conta dos filhos e família e passou a viajar por este Rio Grande a fora. Saía sem dizer para aonde ia. Chegava a ficar 4 a 6 meses fora de casa sem saber aonde se encontrava. Quando retornava, cheio de saudade da família, sem dinheiro, só com a roupa do corpo, relatava sua viagem, locais onde parava, o que fazia e como vivia. A cidade de Porto Alegre era seu lugar preferido para ficar. Se encostava numa empresa e ali prestava serviços de Ofice Boy, servia cafezinho, serviços de cozinha. Nas horas de folga lia os jornais e se informava de todo movimento político da época e debatia assuntos da conjuntura nacional pois vivia no mundo da informação. Depois de algum tempo na sede, não resistia o ímpeto de voltar para aquela vida urbana de Porto Alegre. Procurava juntar alguma grana e de repente, sorrateiramente se evadia, sem dizer para onde. Assim ia levando a vida, de modo que os negócios já estavam por conta da Dona Virginia e Filhos. Em uma dessa saída do Rincão do Alves, pediu emprestado o cavalo do filho Olindo para ir a Taquarichim sem dizer que ia tomar o trem para Porto Alegre. Deixou o cavalo com a rédea atada em uma árvore e ali amanheceu, despertando a curiosidade dos moradores de quem era aquele animal. Descobriram mais tarde tratar-se de cavalgadura dos Machado do Rincão dos Alves. Avisados, foram buscar o animal que já passava sede e fome. Noutra saída, os filhos fizeram a colheita e entregaram os produtos nos armazéns de Atilio Sesti em Jaguari, porém, os louros dessa safra foram colhidos pelo Seu Marcírio que reembolsou a grana e saiu por aí. Ficou mais uma temporada fora até que terminasse o dindim. Em 1939, retornou de uma de suas viagens e encontrou sua esposa muito doente, vítima de um câncer no útero, quando então passou a cuidar dela até sua morte que ocorreu três meses depois de sua chegada. Em seguida ao seu falecimento passou a viajar novamente sem dizer para onde ia. Quando chegou a data marcada para sua filha Nair contrair matrimônio com Mário Flores de Oliveira, havia necessidade de autorização do pai, devido à menoridade da noiva. Seu Marcírio estava em lugar incerto e não sabido. Sua localização foi orientada por pessoas conhecidas dele na cidade de Jaguari que se fizesse uma procura por jornal da capital - O tradicional “Correio do Povo”. Alguns dias depois Sr. Marcírio, tomando conhecimento do anúncio, mandou uma autorização de Curitiba-PR, de modo que a filha pôde casar, porém, sem a presença do pai. Depois de 65 anos de idade, foi perdendo a vontade de viajar, em vista do peso dos anos e passou a viver numa chácara ao pé o Obelisco de Jaguari, próximo ao Passo do Tigre. Ali morou com sua filha Idalina, costureira de profissão, mais sua neta Neusa, filha de Antonio, com 3 anos de idade. Ali tinha vaca leiteira, horta e um lindo pomar. Tornou um ponto de recepção das famílias que vinham do Rincão dos Alves fazer compra ou consulta médica na cidade e se alojavam e se hospedavam, porém, muitos traziam produtos da colônia para ajudar na alimentação. O local, fértil na agricultura, porém minado de sócios indesejáveis: Gambá, Ouriço, cobras venenosas, lobo do mato, bugios, etc. Em noites quentes, era comum o transito das víboras pelo terreiro do Seu Marcirio e Dona Idalina, mas ninguém foi atacado por estes estranhos moradores. Apenas insistiam em dividir a colheita de banana, uva, etc. sem que tenham contribuído para sua produção. Esta espécie continua explorando os colonos até os nossos dias, todavia surgiram outras categorias mais danosas no mundo dos racionais. Por volta de 1950, seu filho Antonio comprou uma casa geminada na esquina da Av. 7 de Setembro e Rua do Bonato, para onde o trio se mudou, de mala e cuia, deixando a velha morada meio abandonada, ainda sob o olho do dono e de um guri, engordando a vaca para gerar leite. Marcírio era um relações públicas e tinha transito livre com as autoridades locais, principalmente com o juizado de menores, onde conseguia meninos infratores para cuidar das vacas leiteiras. Em contra partida dava alojamento, alimentação e mantinha matricula na escola. Já mais velho, cabelo grisalho, pernas meio cambaleando, passava de vizinho em vizinho contando histórias e estórias, relatando fatos de suas leituras e conhecimentos políticos numa forma de passar o tempo e cultura aos que gostavam de sua prosa. Seu estilo de homem simples, coração aberto, pele escurecida pelo tempo, mas parecia um descendente afro, com feições de homem branco. Com esta descrição fazia lembrar a figura descrita em versos por Jaime Caetano Braum, um dos maiores pajadores gaúchos, na poesia “Tio Anastácio”. Eis o texto: “Ficou sendo um destes índios Que se encontram nos galpões Ao derredor dos fogões Fala aos moços com paciência Do que aprendeu na existência Ao longo dos corredores Alegrias, Dissabores Curtidos pela experiência”. Gostava de contar estórias e história a sua neta Neusa, a quem chamava Nelza, bem como recitar versos de obras famosas de Castro Alves e Cassimiro de Abreu, principalmente, Meus 8 Anos: “ Ai que saudade que tenho; Da aurora de minha vida; De minha infância querida; Que os anos não trazem mais; Que amor, que sonhos, que flores; Daquelas tardes fagueiras; à sombra das bananeiras; Debaixo dos laranjais”; De tantos contos e histórias, a ouvinte, às vezes, adormecia feliz pela caricia de suas palavras invadirem seus ouvidos de forma maviosa e instrutiva. Nas suas rodas de chimarrão com os visitantes e conterrâneos se desenrolava num tom de saudade e boas recordações, sem tocar em discórdias que por ventura tenham acontecido no passado. Assim era Marcirio – o homem das viagens inesperadas. Chegou aos seus 82 anos, junto com uma enfermidade que alterou o processo metabólico/intestinal. Os medicamentos não controlaram sua doença. O seu enfraquecimento acentuado levou ao óbito em pouco tempo, partindo para outros planos em 23 de julho de 1963, depois de retornar ao seu Rincão dos Alves para onde pediu que fosse levado na esperança de encontrar a cura. O tempo transcorreu e Marcírio contou muitas histórias e estórias, porém não revelou os motivos dos seus freqüentes e prolongados afastamentos da família sem dizer o rumo que tomava. Supõe-se que essa atitude estranha tenha origem no trauma sofrido quando perdeu sua filha primogênita Adélia ainda na tenra idade – 18 anos.

                            Ireno Machado e sua trajetória


  Ireno Simi de Oliveira ou simplesmente Ireno Machado nasceu em 1935 no 4º Distrito de Jaguari, Rincão dos Alves. Já desde menino mostrava-se talentoso no manuseio de instrumentos musicais como gaita ponto, violão e pandeiro. Nos bailes, animados por seu irmão Antonio Machado de Oliveira, era o pandeirista. Mas tarde aprendeu a tocar violão, por conta própria, sem qualquer instrução de terceiros, porém, depois de aprender melhor recebeu aulas de outros mais experientes. Não demorou em aprender acordeon, do tipo 8 baixos e pianada – teclado. Gaita ponto não lhe agradava muito, por isso não se interessou em usá-la. Por isso deixou para seu irmão João(Joanete). Tentou formar parceria ou dupla com outros colegas músicos, mas não prosperou. Seguiu sua carreira solo. Casou muito jovem com Oracy Feliciani, professora municipal, com quem teve dois filhos: Vladimir(1952) e Edemir(1955). Vladimir, aos 5 anos de idade, com a separação de seus pais, foi morar com sua tia Idalina Simmi de Oliveira, na cidade de Jaguari, onde ficou até os 16/17, quando saiu para morar com seu pai no Rio de Janeiro. Já vivendo da profissão de músico, Ireno fazia apresentações ao vivo, vocal e instrumento, em rádios de Santa Maria, Jaguari, Uruguaiana, São Francisco de Assis, Livramento, Porto Alegre,etc. Tornou-se um exímio acordeonista que, aliado ao seu vestir elegante e charmoso, encantava as mulheres de todas as idades. Muitas delas, mesmo vivendo em famílias de postura exemplar na sociedade, não conseguiam resistir ao charme e encanto do artista da gaita, deixando-se levar pelo impulso de uma aventura imprevisível. Para se livrar do assédio local, foi morar em Porto Alegre, onde, após 2 anos de apresentações, conseguiu gravar um compacto de 8 músicas, todas de sua autoria-voz e instrumental próprio. Aos 40 anos, passou a morar no Rio de Janeiro, onde conheceu Luzia com quem se casou oficialmente, porém o convívio não foi muito longe, não só devido ao seu envolvimento com o mundo artístico, o que despertava ciúmes em sua mulher, mas a presença dos novos integrantes da família. Nessa época, seus dois filhos Vladimir e Edemir já moravam no Rio, com alternância no mesmo teto. Passou então a conviver com outra companheira, porém em tetos separados, constituindo-se num relacionamento não muito amistoso, obrigando-o a se envolver em discussões possessivas. Disto resultou na elevação da sua pressão arterial, culminando com um AVC fulminante, tirando-lhe a vida aos 42 anos de idade em fevereiro de 1972. Era vontade dos filhos a cremação do corpo do pai cujas cinzas seriam depositadas no fole de sua eterna companheira – a velha gaita das inesquecíveis serestas e Shows por onde andava. Por fim, seu sepultamento se deu no Cemitério do Cajú, Rio de Janeiro, onde jaz em descanso eterno, revivendo a saudade de todos que o amavam. E como última homenagem ao músico, foi colocada uma fotografia onde repousa debruçado sobre o acordeon, no túmulo de sua irmã mais velha – Idalina Simmi de Oliveira, no Cemitério do Rincão dos Alves – 4º Distrito de Jaguari-RS. Apesar de talentoso na composição e interpretação de músicas regionalistas gaúchas, em poucos acordes desenvolvia produção de outros ídolos e interpretes de qualquer período. Viveu numa época de elevada concorrência com outros músicos do seu tempo, o que se lamenta não ter vivido um pouco mais para alcançar a explosão dos Festivais da Canção Nativa que invadiu o Rio Grande poucos anos depois. Houve um aprimoramento nas composições musicais, abrindo um mercado abrangente e promissor no mundo da discografia, no qual Ireno teria, com certeza, espaço reservado. Faleceu sem realizar seu sonho - ser um seguidor de Mariosan, Irmãos Bertussi, Gaucho da Fronteira e tantos outros ídolos do seu tempo.




Trajetória do Vladimir
 

  Filho de Ireno Machado e Oracy Feliciani, nascido a 18/07/1950, aos 5 anos passou a morar com sua tia Idalina, devido à separação de seus pais. Estudou até a 4ª série do primário na Escola Guilhermina Javorski em Jaguari,RS, sempre com bom rendimento escolar. Foi estimulado a fazer a prova de Admissão ao Ginasial, sendo aprovado, porém, em paralelo passou a estudar desenho pelo curso do Instituto Universal Brasileiro. Encarou a tarefa com seriedade, respondendo prontamente as questões recebidas pelo correio, de modo que recebia menção honrosa nas avaliações periódicas. Aprendeu a arte de desenhar rapidamente, passando a fazer caricaturas e esboços reais de amigos e vizinhos, demonstrando o gosto pela arte escolhida. Reproduzia revista em quadrinhos com facilidade, demonstrando talento no manejo do lápis e do pincel. Na fase de menino-adolescente, já não obedecia mais à sua tia Idalina que, providenciou na devolução ao seu pai que morava no Rio de Janeiro. “Leva, dizia ela, que o filho é teu”!. Em 1966 Ireno, que morava sozinho no Rio, veio à Porto Alegre buscar o Vladimir que Idalina tinha levado de Jaguari. Nessa época, mantinha bons contratos em rádios do Rio divulgando sua música e animando festas de aniversário e casamento. Porém, com advento da Revolução de 31 de Março de 1964, os programas patrocinados pelo PTB na liderança do Presidente João Goulart e Leonel de Moura Brizola, foram retirados do ar, prejudicando as suas apresentações em veículos de comunicação ao vivo e gravado. Os recursos começaram a escassear, dificultando a escola e a manutenção de Vladimir. Ireno conquistou uma amizade sólida com o Tenente Argemiro Nascimento Lopes, natural de Santiago,RS, pai do Jornalista “Tim Lopes”, assassinado num baile funck no Rio de Janeiro. Tenente Argemiro conseguir internar Vladimir na FUNABEM, não como menor infrator, mas aluno sem recursos em Escolas do CIEP. Estudou no meio de marginais perigosos e ameaçadores; entre eles fizeram um acordo de não molestar o poeta e artista das imagens que a todos brindava com seus bem definido traços reproduzindo fotos e caricaturas dos internos. Não suportando a pressão do ambiente, abandonou a instituição e passou a morar com a mãe Oraci, junto com seu irmão Edemir, que tinha ido morar no Rio para apoiar seus dois filhos tão logo ocorreu morte de seu ex-marido Ireno. Vladimir estava se deixando dominar pelo liberalismo do mundo Hyppie, vivendo de pequenos trabalhos de arte e descuidando da aparência pessoal. Sua mãe oraci conseguiu retomar o controle das ações, quando conseguiu um trabalho na empresa aérea Cruzeiro do Sul como auxiliar de carga e descarga de bagagens. Lá não ficou muito tempo devido à dois motivos: o primeiro, quando controlava a distribuição de bagagem na parte dianteira da aeronave, dividiu mal a carga e o avião tocou o bico no chão, por isso deixou de exercer esta função; o segundo, ao curtir uma praia, dormiu demais em sol forte, esquecendo do tempo; além de levar uma queimada, chegou atrasado ao emprego, resultando num cartão vermelho da empresa. Com esforço da família conseguiu concluir o 2º grau e preparou o vestibular na UFRJ na área das Ciências e Artes Plásticas, opção desenho, gravuras, reproduções visuais e artísticas. Tão logo se formou, passou a integrar o quadro de docentes da própria UFRJ, iniciando como Prof. Auxiliar, seguindo como Adjunto e Titular. Fez Pós-Graduação, mestrado e doutorado na sua disciplina, tornando-se o único a ostentar o título de “Doutor” em toda sua família Machado, Oliveira, Feliciani e Simmi. Tem participado de inúmeras exposições de artes de caráter local, nacional e internacional. Tem feito exposições em São Paulo(Bienal), Rio e em Paris-França. Alguns de seus trabalhos gráficos já fizeram parte de cenários das novelas da Rede Globo de Televisão, conforme entrevista realizada em seus estúdios. Para chegar até essa posição privilegiada, a vida cobrou-lhe um pesado sacrifício, o que permite acrescentar em valor diferenciado a sua triunfal conquista. O primeiro, aos 12 anos de idade, passou a fugir do controle de sua tia Idalina. Estudava em Jaguari, turno da manhã e, logo após o almoço desaparecia das redondezas da residência e se perdia na imensidão do Rio Jaguari, buscando ambiente de diversão na companhia de colegas de aula e amigos. Em razão disso, devolveu o menino-adolescente ao seu pai que morava no Rio. Lá foi ele de mala e cuia. Mais tarde foi para lá também seu irmão Edemir. Com o falecimento do pai, Vladimir e o irmão ficaram sem apoio da família de sangue por um tempo até a chegada da mãe. Havia apenas a companheira de seu pai, Dona Nilde Ferreira que, por algum tempo, acompanhou os enteados na sua adaptação à vida de órfãos parternos. A morte do titular da família gerou uma pensão para a ex-esposa e para os meninos. Nilde Ferreira, um pouco mais velha que Ireno, freqüentava um Centro Espírita e tinha poderes mediúnicos e, acima de tudo acreditava no encaminhamento dos meninos em ambiente seguro. Idealizou uma viagem a Porto Alegre, mais precisamente a Viamão-RS, onde morava dona Oracy, mãe de Vladimir e Edemir, a fim de convencê-la a ceder a parcela que lhe cabia por pensão em favor da educação e sustentação de seus dois filhos que moravam no Rio. Este redator estava presente, juntamente com Idalina e Geni, irmãs de Ireno, momento em que Dona Oracy concordou na doação, Dona Nilde entrou em transe e passou a dar “passe” nas pessoas que estavam ao seu redor, porém antes, pediu-me um copo de água e sem beber, deixou reservado numa mesa. Em cada pessoa que tocava, dizia seus problemas e seu futuro, bem como qual providencia tomar. Passado mais de meia hora, segurou o copo de água, posicionou-se de costa para a porta e jogou a água fora por cima de sua cabeça, momento em que a entidade se desencarnou. Disse Nilde que aquela transformação era uma medida de socorro solicitado por ela ao sair de casa no Rio. Confirmou que ao sair do Rio, pediu apoio aos seus mentores e assistentes espirituais para que a acompanhasse nas suas tratativas. Se tivesse dificuldade em resolver os assuntos programados, eles estariam presentes para ajudá-la. Esta é a explicação daquele “furdunço” que se gerou num sábado á tarde de fevereiro de 1972 na residência de Dona Oracy em Viamão-RS. Em fim, missão sua cumprida e lá foi Nilde levando apoio aos meninos. Vladimir seguiu seu o caminho de sua vocação – as Artes Plásticas, vindo a casar com a carioca Anita Golub e, desse relacionamento vieram Mariana(1998) e Juliana(2000) ; Edemir, abraçou a cultura gaúcha, trabalhando em restaurante de comida sulina, tornando-se, mais tarde, um embaixador da cultura gaúcha no Rio de Janeiro. Casou também com mulher carioca, tendo com ela também duas filhas. Nilde Ferreira, era de origem portuguesa e tinha toda sua família morando em Portugal. Dizia que pretendia viver seus últimos dias na terra mãe. Não se sabe se isto aconteceu. Mas fica a lembrança e o reconhecimento da família Machado, iniciando pela Geni, irmã de Ireno, Vladimir e Edemir, filhos e D. Oraci, e tantos outros parentes, aos relevantes serviços de apoio dado por ocasião do internamento e assistência junto ao enfermo e, posteriormente nos seus funerais. Ela assumiu tudo, tanto em despesas gerais quanto em apoio moral, uma vez que Ireno não dispunha de qualquer plano de saúde. Nilde procurou manter um relacionamento de amizade mesmo após a morte de Ireno, vindo inúmeras vezes visitar D. Geni em Canoas-RS, porém, dois anos depois, o endereço deixado por ela não atendeu mais os contatos indicados. Esteja onde estiver, terá o eterno reconhecimento da família de Ireno! No resumo desta trajetória, pode dizer que Vladimir teve muitas mães. A biológica, D. Oraci; Idalina, a tia; Luzia, a madrasta1; a Nilde, a madrasta2. Este tortuoso caminho que o levou ao um final feliz traz uma mensagem de alento: as dificuldades da travessia de qualquer obstáculo enriquecem o aperfeiçoamento intelectual e cultural do individuo. Tudo isto permite confirmar o slogan de que Deus escreve certo por linhas tortas.




JOÃO ERNESTO KRAETZIG - O EXPEDICIONÁRIO
 

  Quando nossa Pátria se sentiu ultrajada pelos constantes ataques e torpedeamento de navios mercantes pelos nazistas na costa brasileira, o governo de Getulio Vargas reagiu e constituiu a Força Expedicionária Brasileira. Houve um chamamento dos patriotas, militares e civis, e entre eles, voluntariamente se apresentou João Kraetzig morador de Rincão dos Alves, margem direito do Rio Jaguari. Ingressou no Quartel do 4º RC – Regimento de Cavalaria, em Santiago onde iniciou o treinamento para integrar a FEB. Em 1943 embarcou, junto aos demais integrantes da Região, em um trem que os levaria até o Rio de Janeiro e logo para Recife onde tomariam o Navio com destino ao Teatro de Operações na Itália. No Rio de Janeiro, na frente do Palácio do Catete, Getulio Vargas falou à tropa justificando o ingresso do País no conflito – 2ª Guerra Mundial, encorajando os soldados a defenderem com denodo e heroísmo a nossa soberania. Desembarcaram em Nápoles e se apresentaram a 6ª Frota Americana onde receberam fardamento e símbolos que os identificavam na força Aliada :Brasil, Estados Unidos da América e Rússia. Como se sabe, lutavam contra os países do Eixo, formado pela Alemanha, Itália e Japão. Poucos meses depois de treinamento, João foi ao Front combater contra os patrícios alojados em uma montanha. As rajadas de metralhadores nunca cessavam, mas não intimidavam os brasileiros que avançavam confiantes. Na patrulha de João havia dois primos de Getulio Vargas – Arlindo e Orestes Muller Vargas, os quais numa investida contra os alemães conseguiram se apossar de 2 metralhadores: Uma (0.50)(Americana) de 600 tiros/min e outra de fabricação alemã(Thomson) de 1200 tiros/min. Durante o conflito João foi ferido no ombro e foi recolhido à enfermaria, ocasião em que mandou fazer uma fotografia sua e mandou para seus pais em Jaguari com os dizeres:” Remeto este retrato para meus pais, caso eu não volte da guerra, fica como lembrança. Se voltar vivo, quero-a de volta para minhas recordações”. E logo a seguir está uma cópia dessa fotografia, envolta pelo símbolo da República Federativa do Brasil. João esteve à disposição dos Exército Brasileiro cerca de 5 anos e 8 meses. Na linha de Frente esteve 3 meses e 28 dias. Retornou, depois de terminada a guerra, em 30 de agosto de 1946, receoso de não ser bem recebido, pois havia sito taxado de cruel por lutar contra seus patrícios, principalmente por se apresentar voluntário para combatê-los na Itália. Na época da guerra a população de origem alemã e austríaca era discriminada e ameaçada na sua liberdade. Todos eram vigiados com proibição de fazer reunião social ou de família ou outros encontros. Ao Chegar em casa de seus pais, João foi surpreendido com a grande recepção de boas vindas. A festa foi tão grande que se esqueceram de soltar os fogos de artifícios adquiridos para esta ocasião.
       No discurso de Getulio Vargas no Rio de Janeiro prometeu amparar as famílias e os participantes do conflito mundial que retornassem vivos. Todavia, João retornou a casa como reservista sem qualquer remuneração nem plano de saúde. Mais tarde, graças a uma proposição do Deputado Adilson Motta, através da Associação dos Ex-Pracinhas, foi estendida assistência médica do IPE a todos os veteranos da 2ª Grande Guerra, ainda no Governo de Alceu de Deus Collares. Em 1978 foi acometido de trombose em uma das pernas, quando o corpo clinico de Santa Maria emitiu parecer que a solução seria amputar a perna. Não conformado com o diagnóstico, a família buscou recurso no HGPA – Hospital Geral de Porto Alegre quando se submeteu a um tratamento de quase tortura com um peso de 28 kg sobre a pernas – resultado – recuperou a perna e passou a caminhar normalmente. Durante sua enfermidade, julgado incapaz de prover seus meios de subsistência, entrou com um processo de reforma, conseguindo uma reforma(aposentadoria) na condição de oficial de exército, com efeito retroativo desde sua saída das Forças Armadas. Quando tinha saúde para se locomover, João participava das solenidades em homenagem aos heróis da FEB. Veja documento mostrado logo abaixo.






FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA – FEB
 

  Nome dado à força militar brasileira constituída em 09/08/1943, em caráter sigiloso, para lutar na Europa ao lado dos países Aliados, contra os países do Eixo, na 2ª Guerra Mundial. Integrada inicialmente por uma divisão de infantaria, a FEB acabou por abranger todas as tropas brasileiras envolvidas no conflito. Adotou-se como lema:” A cobra está fumando”, em resposta àqueles que consideravam mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. Eis o simbolo:

A FEB perdeu a cerca de 460 soldados cuja ossada permaneceu durante anos no cemitério de Pistóia(Itália). Em outubro de 1960, suas cinzas foram transferidas para o Monumento Nacional dos Mortos da 2ª Guerra Mundial, erguido no Rio de Janeiro, no recém-criado aterro do Flamengo.






Eis algumas recordações da época da Guerra: 1941 a 1946


Veja demais fotos da familia de João Kraetzig em: Kraetzig: 1.1


Obs: “Esta publicação consigna uma homenagem ao herói rinconense por ter aceito o desafio de lutar em defesa dos brasileiros na condição de soldado voluntário contra seus patrícios. As atuais e futuras gerações de sua família sentirão orgulho sempre que se lembrarem dos feitos de João Ernesto Kraetzig na 2ª Grande Guerra integrante da FEB”.



Quem chegou lá !
 

O propósito deste título nada tem a ver com a trajetória inédita no país de um nordestino humilde que, viajando “em pau de arara”, quando criança e, ao cabo de alguns anos, chegou ao topo do desejo de qualquer político – a Presidencia da República. Luis Inácio Lula da Silva – o Presidente Lula, chegou lá. Nossa intenção nesta abordagem não é outra senão eleger os rinconenses que conquistaram espaços em diferentes áreas da atividade humana, indo longe, não tão longe quanto o Presidente Lula. Mas chegou, creio eu, onde nunca imaginavam que poderiam chegar, em virtude das circunstâncias do ponto de partida. Chegar lá não quer dizer: ter o mundo a seus pés. Quer dizer, acima de tudo, no espírito desta seleção, sentir-se realizado onde chegou e com opções de migrar para qualquer outra atividade que também fazia seu gênero. Esta escolha é pessoal e vem da família construtora desta obra. Poderia ser qualquer um dos citados a seguir - Vladimir Feliciani Machado, cuja trajetória está narrada no Capítulo XIII – ATOS HERÓICOS E AVENTURAS - Trajetória de Vladimir, o qual trilhou um caminho de alto risco, se superou e se defendeu de inúmeras ameaças para ostentar o título de Doutor na sua especialidade, conquista essa não registrada entre os conterrâneos rinconenses. Poderia ter sido seu pai, Ireno Machado de Oliveira, que graças ao seu talento conquistou o domínio do seu instrumento musical, porém teve vários tropeços sentimentais que lhe roubaram a vida ainda cedo. Também, no gênero musical, Álvaro Oliveira Feliciani, exímio acordeonista, comandou uma banda - Legenda – por muito tempo, vislubrando uma decolagem no mundo do disco, mas o grupo se defez. Seguiu a carreira solo e se redireciou para atuar em microfone de rádio e no ensino do manejo do teclado. Na política partidária, Álvaro exerceu um mandato de vereador na Câmara Municipal de Jaguari por um período de 4 anos. Na conquista do patrimônio territorial poder-se-ia apontar Santo Scalon Picolo que, aos poucos, foi engordando seu patrimônio até se tornar um quase latifundiário. Santo também exerceu um mandato de 4 anos como vereador na cidade de Jaguari,RS. Paulino Piecha, seguindo caminho semelhante constituiu um patrimônio bem superior a outros da localidade. João Gatiboni Machado, embora começando em nível mais elevado, soube conservar e ampliar as áreas recebidas. Muitos outros poderiam ser indicados, mas quer nos parecer que quem foi mais longe nasceu lá pelas bandas de São Xavier. Deve ter nascido pelos idos de 1941/42 e, desde cedo gostava da lida de campo, de uma boa pilcha e de arrastar a asa para as meninas. Se tivesse que contar nos dedos quantas namoradas teve, iria faltar dedo, mesmo contando os dos pés. No ano de 1.960, ainda civil, foi para a Escola de Sargento das Armas (EsSA), na cidade de Três Corações - MG, aonde fez o curso de formação e aperfeiçoamento de Sargento Artilheiro, sagrando-se no 1° lugar da turma e diretamente da EsSA, veio servir na Segunda Bateria do Regimento Mallet em Santa Maria-RS e sem abandonar os costumes gauchescos, paralelamente ao serviço militar, engajou-se nos estudos, cursando o ginásio e o c1ásico noturnos no Colégio Manoel Ribas. Concluído o Segundo Grau, prestou exames vestibulares para os Cursos de Direito e Economia, sendo aprovado em ambos. Em virtude das dificuldades encontradas para freqüentar o Curso de Direito que era diurno, matriculou-se, também, no Curso de Economia que funcionava à noite, formando-se em Economia no ano de 1.971 e em Direito no ano seguinte, 1.972. Ainda como sargento, juntamente com o saudoso Tenente João Teixeira Porto, esposo de Aristilda Rechia, colaboradora desta obra, teve a oportunidade de declamar poesia no programa: "O Grande Rodeio Coringa", apresentado por Darci Fagundes e Luiz Menezes pela Rádio Farroupilha. No ano de 1.973, prestou concurso para o Ministério Público Estadual e, aprovado, exonerou-se do Exército Brasileiro e foi nomeado Promotor Público, hoje Promotor de Justiça, e, na função de Promotor atuou como titular, pela ordem, nas Comarcas de Cacequi, São Pedro do Sul, Santiago, São Gabriel e Santa Maria e, como Promotor substituto em toda Região Centro-Fronteira, aposentando-se no ano de 1.988, como Promotor de 43 Entrância, hoje Entrância Final. Foi Professor do Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria, lecionando, durante quatorze anos, a disciplina de Processo Penal. Militou no Movimento Tradicionalista Gaúcho, aonde foi Peão, Patrão, Coordenador Regional, Conselheiro e Presidente de Congresso. Em Santa Maria, foi Presidente (Patrão) da Associação Tradicionalista Estância do Minuano e presidiu a 8o Tertúlia Musical Nativista. Em suas andanças e conquistas amorosas foi pealado pela Marilia Gonçales, tendo com ela o João Laureano e o João Vicente que desde tenra idade, juntamente com o pai, passaram a cultuar as lidas campeiras e o civismo, inclusive, desfilando a cavalo, todos os anos, nas datas consagradas à Pátria (sete de setembro) e ao Estado do Rio Grande do Sul (vinte de setembro). Os filhos cresceram, estudaram e hoje o João Laureano é Médico e o João Vicente é Médico Veterinário. Quando da sua aposentadoria preparou a " Estância Patacoada" na localidade de Loreto, entre São Vicente do Sul e São Francisco de Assis onde divide seu tempo de aposentado do MP com o escritório de advocacia em Santa Maria. Veja abaixo quem é o destaque, soltando o verbo no lançamento do Livro: Boca da Picada.

Walter Mendes Mucha, saudando Bressan, na Sociedade São Luiz, Boca da Picada, Jaguari,RS.
Marilia Gonçales Mucha e Neusa de Oliveira Bressan na Estância Patacoada





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XII - AS MARCAS DO DESTINO

                                 A Morte do Cavaleiro de Pala

  Certa vez um cidadão de origem polonesa que morava na serra e saiu para visitar a noiva na Linha 14, deveria passar pelo vau do Rio Jaguari onde hoje tem a pranchada do Poço Preto. Havia chovido muito na nascente e o rio estava cheio. Ao passar na porteira da propriedade de Márcirio Machado, Idalina alertou o cavaleiro de que o rio estava muito cheio e perigoso para atravessá-lo. O moço nem deu importância e prosseguiu a galope. Ao chegar junto ao Rio estava lá, lavando roupa a Sra Ignes Schopf que repetiu a recomendação sobre o perigo da travessia. Continuou seu propósito de prosseguir a travessia. Quando entrou na água, seu cavalo começou a nadar mas não conseguiu vencer a correnteza porque mantinha as rédeas curtas. Dona Ignes gritou-lhe: Frouxe as rédeas!!! Neste instante o cavalo deu um impulso a frente e o cavaleiro caiu na água, sendo levado pelo correnteza, deixando seu pala flutuando sobre a água. Seu corpo foi encontrado no lugar conhecido como Poço Preto três dias depois, por mergulhadores vindos de outros lugares, experientes em mergulhos e salva-vidas. O local ficou tomado de curiosos e de parentes do jovem desaparecido. O corpo do cavaleiro foi encontrado por um filho de Francisco Machado que, ao mergulhar, tocou na bota da vítima e os mergulhadores resgataram o corpo.





Criança Queimada
 

  Numa manhã fria de Julho de 1947, Nelza , 3ª filha de Antonio e Doralina Machado de Oliveira, com apenas 10 meses de idade, havia sido deixada pela mãe, sozinha, se aquecendo ao lado do fogão a lenha da família, enquanto saía para uma lavoura perto da casa, em busca de batatas para reforçar o almoço. Não demorou muito, mas o suficiente para o fogo atingir suas vestes e queimá-las totalmente. Quando a mãe retornou a casa, se deparou com aquela cena horrível com a menina já sem vida. Apesar de saber que fatos semelhantes a estes já acontecerem na vizinhança, as pessoas continuam acreditando que isso só ocorre com os outros.





Criança Enfaixada e sufocada
 

  Dona Porfíria morava num barraco com parede mista de barro e arbusto nas proximidades do Rio Jaguari. Sua filha engravidou e não revelou o nome do pai da criança, mas quando chegou o momento do parto, D. Porfíria fez as vezes de parteira e, como era de praxe enfaixar o recém-nascido, não poupou forças para prensar o rebento. Dizem que apertou tanto para evitar que a criança chorasse e anunciasse o acontecimento que deveria ficar em segredo de família. Em conseqüência do arrocho das faixas, a criança veio a falecer e D. Porfíria jogou o corpo no leito do Rio, o qual, mais tarde, foi encontrado por pescadores. Pagou seu crime na justiça com alguns anos de prisão. A filha, mãe da criança, não teve participação no delito, por isso não foi indiciada.





Afogamento em Água Rasa
 

  Lúcia Saggin, casada com Álvaro Silva, tinha 5 filhos ainda pequenos quando saiu de casa para lavar roupa no Rio Jaguari. Um amigo da família que passava nas proximidades, percebeu que havia uma mulher deitada na água rasa. Chegando perto constatou que já estava morta. Suspeita-se que tenha sofrido um desmaio ou mal súbito e caído na água onde lavava roupa, afogando-se. Devido à situação de trabalho do marido, não pôde assumir o controle dos pequenos, optando pela cessão a parentes e amigos para que se integrassem a uma nova família.





A Morte de Adélia
 

  Em 1925, Adélia(18) e Idalina(16) foram convidadas a participar de uma reunião dançante no Clube de Tiro ao Alvo da família de origem alemã situado do outro lado do Rio Jaguari. Era um domingo de muito sol e calor. Para chegar ao clube não havia ponte nem passarela para evitar o contato com a água. Às vezes, algum canoeiro, quando disponível, fazia a gentileza de passar os transeuntes que não queriam molhar os pés. Terminada a Matinê(dança no horário da tarde), as moças retornaram à casa, devendo, antes pisar na água, sobre as pedras soltas na travessia do Rio. Além do movimento das danças e da corrida para chegar em casa ainda de dia claro, entram na água com o corpo suado, de modo que houve um choque térmico, talvez pela demora no percurso de travessia. Ao chegar em casa, Adélia passou a sentir calafrios ou arrepios de frio, seguidos de febre alta. Tal façanha rendeu à Adélia uma intensa gripe que se transformou em Pontada de pneumonia. Sua avó Marcolina tinha em Adélia, filha primogênita de Marcírio, a neta do seu coração, não só pela sua invejável beleza física, mas também pela docilidade do seu trato para com a avó, por isso não media esforços na busca de cura para sua amada neta. Naquele dia estava em visita à casa de seu pai um Senhor de nome “Edegarzinho”, que fazia xarope e remédios para todas as moléstias comuns, passando a ministrar-lhe produtos de sua medicina campeira, sem, contudo, baixar a febre que se mantinha elevada. Depois de 5 dias de tentativa, procurou-se por outro curandeiro, Sr. Norberto Soares, que também não conseguiu reverter o quadro clinico da paciente. Esgotados os recursos caseiros e de curandeiros, procurou-se recursos no povoado de Jaguari, indo em busca do médico da cidade que, viajando ora de automóvel e de charrete, chegou ao local, porém já tarde demais, pois já não reconhecia mais as pessoa ao seu redor. Dois dias após, Adélia falecia, aos 18 anos de idade, vítima de pontada de pneumonia fulminante, deixando em desespero os parentes e amigos da família que viam nela o símbolo da beleza da mulher e o gesto simples de cativar as pessoas. Sua morte deixou um vazio na convivência familiar, desanimando, por um tempo, os acontecimentos de lazer como bailes, reuniões e festas populares. O impacto da perda calou tão profundo no coração daqueles que a amavam e testemunharam a sua luta pela sobrevivência que não conseguiam esquecer a cruzada fatídica do seu destino.





Ciúme Que Mata
 

  Rincão dos Alves, como acontece em qualquer outro lugar, foi palco de cenas de ciúmes de muitos jovens e homens maduros. Este comportamento, inexplicável para alguns, não escolhe indivíduo para se instalar, nem há receitas para diminuir seus efeitos maléficos. É próprio da natureza de pessoas de pouca firmeza e confiança em si mesmo, fatores que ajudam a levá-lo a procedimentos inesperados e prejudiciais a si e aos outros do seu convívio familiar. Houve o caso de um cidadão de boa índole, família tradicional do lugar, que havia perdido a visão de um olho, com a deformação parcial da cavidade ocular. Em razão disso recebeu o apelido pejorativo de “caolho”. Esta era sua ferida moral. Bastava tocar nesse nome e já se ofendia e se irritava, tanto vindo de estranhos quanto de pessoas da família. Devido ao seu estado emocional, foi acometido de ciúmes e suspeita de traição por parte de um de seus irmãos. Para confirmar sua suspeita mantinha o terreiro limpo para visualizar os vestígios de pisadas de estranhos no seu pátio interno. Sua mulher não podia sair longe de casa sem que perdesse de vista (do olho bom, é claro). As reclamações deste gesto eram freqüentes, gerando acirradas discussões sem acordo e sem respeito um com o outro. Um certo dia, pela manhã, sua mulher foi colher flor de laranjeira para fazer xarope quando seu marido se aproximou e a interpelou dizendo que estava ali para se expor aos seus admiradores, ocasião em que surgiu ferrenha discussão. Ao ouvi-la pronunciar a palavra de desaforo - “caolho desengonçado”, seu troco não foi outro senão sacar o revólver e desferir-lhe dois tiros a queima roupa atingindo-a mortalmente, seguido de suicídio com uma bala no ouvido. Duas mortes estúpidas por causa de ciúme doentio do chefe de família(Fonte: Idalina, Sobrinha dos falelcidos)





Veneno no Poço D´Água
 

  Outro fato, menos trágico, aconteceu com um rapaz do Rincão dos Alves que namorava uma professora que vinha lecionar no local, mas não era bem correspondido no amor. Sabia que ela tinha outro pretendente na localidade de sua residência e isto lhe despertava ciúme e medo de perdê-la para seu rival. Como de costume, as professoras do Rincão dos Alves, retornavam a casa de suas famílias em fins de semana e, nesta vez, sua namoradinha saiu dizendo que haveria um baile na sua localidade mas os organizadores não tinha convite para ele. Suspeitou que ela iria se encontrar nesse baile com o outro. Não achou outra saída senão criar um complicador no dia do baile, colocando veneno na água do poço com água potável da residência onde se realizava o baile. Ao retirar um balde de água, já ao anoitecer, alguém percebeu que havia algo estranho na água – uma substancia esbranquiçada cobria a superfície da água do balde e do poço. Suspeitaram da contaminação criminal e saíram em busca de responsável. Foi encontrada nas proximidades uma nota fiscal da compra de um produto tóxico, dando inicio as investigações sobre o autor da façanha. Denunciado à policia, as buscas recaíram no cidadão namorado de uma das moças do baile e que não se encontrava presente naquele dia. As buscas se concentraram em identificar o tipo de veneno e quem o vendia nas lojas da cidade. Feito isso, descobriram o comprador e confirmaram a suspeita. Este gesto vil gerou alguns anos de cadeia ao namorado ciumento, cuja pena foi cumprida na Casa de Correção de Porto Alegre. Mesmo que tenha cometido tentativa de homicídio, após o cumprimento da pena, retornou à Jaguari e casou-se com ela, tendo mais de 4 filhos. Deduz que o perdão da moça tenha encontrado respaldo na paixão que ele tinha pela namorada..(Fonte: Idalina, Prima)





A Morte de Olinto Ventura
 

  Olinto era um dos filhos de Álvaro Antonio Ventura de Oliveira. Tinha 21 anos de idade, em 1947, quando foi morto com tiros de revólver disparados por um senhor conhecido por Salgado – o mascateiro. Este homem havia chegado ao Rincão dos Alves entre 1942 e 1944, com uma companheira, passando a morar nas proximidades do Passo do Salso e falava com sotaque espanhol, daí ser conhecido também por castelhano. Sua profissão era de mascate. Trazia da cidade roupas já confeccionadas e enfeites diversos para vender aos moradores da redondeza viajando num Ford Bigode ou Fordeco 1928. Em suas saídas para o trabalho notou que Olinto visitava sua casa, levantando uma suspeita de marido enganado. Em razão disso, Salgado mudou residência para local desconhecido, todavia continuava trabalhando na região vendendo seus produtos. Certo dia, Olinto repontava uma tropa de gado pelo corredor a fora e, quando Salgado passou por ele, deu uma acelerada no Fordeco e esparramou a tropa, ocasião em que Olinto reclamou e xingou o castelhano. Este, inconformado com a ofensa, sacou o revólver e desferiu-lhe alguns tiros fatais. O Castelhano desapareceu do local, sem que se saiba para onde foi, fincando sem julgamento pelo crime que praticou.





O Suicídio de Mário
 

  Este é outro filho de Álvaro Antonio Ventura de Oliveira que teve um fim trágico. Era um homem de caráter exemplar, respeitado, estimado, participativo e, acima de tudo, lutador pelos bons costumes. Herdou do pai essa postura de cidadão cumpridor de seus deveres e conhecedor dos limites de seus direitos. Todavia, a sorte não lhe foi parceira em todos os momentos de sua existência. Em primeiro lugar, demorou em encontrar a mulher para a formação de sua família, por isso casou já maduro. Quando a encontrou, teve que procurar o futuro sogro, em lugar incerto e não sabido, para autorizar o casamento pois a noiva era de menor idade. Já casado, os filhos não se geravam devido à falha no aparelho feminino da parceira. Buscou recursos médicos em Cerro Largo, obtendo a má notícia de que sua mulher era estéril. Disse ainda o médico: “se Nair engravidar, pagarei todas as despesas de educação do filho que nascer”. Ainda solteiro, Mário Flores de Oliveira havia adotado extrajudicialmente um menino de 11 anos de idade, de nome Antonio, ao qual lhe deu educação familiar e escolar e, ainda, marcava uma rês por ano em seu nome. Ao casar, levou na bagagem o seu ajudante que permaneceu com a família até atingir 17 anos de idade. Como Nair não engravidava, mas continuava acreditando em tratamento, adotou uma menina de 3 anos de idade, de nome Catarina, apelido Naide, a qual criou como filha, conservando seu nome de registro original. Passados 7 anos, surgiu o milagre da gravidez, porém houve mau atendimento no parto e poucas horas depois faleceu João Olinto de Oliveira em 20/08/1953. Sete anos depois nascia o filho biológico, de nome Mário Iran de Oliveira, robusto e vigoroso para alegria da família e dos amigos. Em razão disso, quem conhecia a história, alguém perguntou ao Mário: “Vai procurar o médico de Cerro Largo e cobrar a educação do menino, prometida na época da consulta ?” – Respondeu que não precisava da ajuda dele – talvez tenha prometido isso para justificar sua renomada fama de médico ... O menino cresceu e a mãe Nair insistiu em educá-lo na cidade de Jaguari, para onde foi morar. Mário ficou no Rincão cuidando do gado e da plantação, indo visitar a família com certa freqüência, até que foi morar definitivamente na cidade. O seu trabalho no campo ia muito bem até quando preparou um lote acima de 100 bois para atender seu amigo Juaires Maciel, comprador de gado para um frigorífico no RS. Vendido o gado e, como de praxe, foi dado prazo de pagamento em 45 dias. Esgotado o prazo, a conta não foi paga, nem através da justiça. Soube mais tarde que o frigorífico havia entrado em falência e nunca mais viu a cor do dinheiro. Teve uma grande decepção e prejuízo, principalmente partindo de um amigo seu – que intermediou o negócio. O filho, já adolescente, cheio de energia para gastar, tinha na cidade tempo para tudo além de estudar e fazer trabalhos de casa. Quem teve uma formação familiar rigorosa, plena de detalhes medievais já arraigados, não se conformava com os hábitos das gerações mais modernas e urbanizadas. Algumas atitudes do filho criaram-lhe situações de constrangimento, conflitando com seus princípios de respeito e dignidade. Passou a auto-crítica de que não poderia andar na rua de cabeça erguida face as travessuras do filho. Não hesitou em vender a propriedade no Rincão dos Alves e buscar outra cidade onde poucos lhe conheciam. Ao anunciar a venda de sua propriedade, uma das áreas mais privilegiadas pela natureza no Rincão dos Alves, seus amigos e parentes foram ao seu encontro tentar interromper seu propósito de ir embora dali. Voltaram decepcionados por sua radicalização e por não concordar com àqueles que levavam a certeza de convencê-lo. Em Rivera, ROU, comprou uma propriedade maior do que era a sua, porém para chegar lá, havia necessidade de atravessar diversas propriedades particulares e abrir mais de 4 porteiras. Lá, as casas eram muito distantes umas das outras, de modo que havia um isolamento entre os vizinhos. Mário saía cedo de casa, com fiambre na garupa do cavalo e só retornava ao escurecer. Assim era sua vida no campo. Enquanto isso Nair ficava sozinha em casa, aguardando, ansiosa, o retorno do marido. Mário Iran, o filho, estudava o curso técnico e depois Engenharia Mecânica em Caxias do Sul. Nair não suportou aquela vida isolada por muito tempo e insistiu na transferência para Livramento, onde passou a morar enquanto Mário atendia o campo. Ele também não suportou o isolamento e veio morar na cidade onde estava a mulher. Colocou a venda a sua propriedade no Uruguai e aguardou os interessados na compra. Como o peso uruguaio estava em câmbio desfavorável, a propriedade foi vendida com preço aviltado, bem menor que o valor pago na compra, alguns anos antes. Mário não tinha plano de saúde particular nem contribuía para a previdência social. Nair, por conselho de amigos, se inscreveu no INSS como autônoma e conseguiu, mais tarde, a aposentadoria quando completou a idade para o benefício. Já morando na cidade, fora do ambiente campeiro, Mário não conseguiu suportar a pressão do tédio – doença moderna chamada “depressão”. Fez uma escolha trágica: acionou o gatilho do seu 38 ao pé do ouvido para ser sepultado na terra onde nasceu no Rincão do Alves, em cemitério próprio da família, junto aos seus pais e outros irmãos.





Uma vítima do Tatuzinho
 

  História trágica e surpreendente da menina Vitória, 13 anos, filha de família humilde, que morava e fazia serviços domésticos na residência de Marcírio Machado lá pelos idos de 1935. Era ativa e cuidadosa nos serviços da casa e sempre atenta às recomendações dos patrôes Idalina, Antonio, Olinto, Joanete e Pedro. Antonio tinha o costume tomar ovo cru e cedo já visitava o galinheiro. Vitória foi instruída a fazer a colheita de ovos bem cedo antes que o lagarto de duas pernas os consumisse. Nas suas caminhadas junto aos ninhos, percebeu que as formigas estavam devorando a lavoura de feijão de vagem. Comunicou o fato à família que iria providenciar em veneno de formiga. A menina, por iniciativa própria, foi até a casa da Sra Edder pedir formicida para aplicar no formigueiro. A última vez que foi vista, estava comendo um pedaço de pão. Como havia desaparecido por algum tempo, começaram a chamá-la em voz alta, porém não respondia. Saíram, então, a sua procura e foi encontrada caída no valo contendo certa porção de água, com a cabeça mergulhada, com a boca cheia de pão, já sem vida. A lata de Tatuzinho estava aberta e o veneno esparramado pelo chão nas encostas do valo. Supôe-se que, ao abrir a lata, tenha aspirado o gas mortífero do terrível formicida e desmaiado, caindo no valo e se afogado. Transcorridos alguns dias, a Sra Edder comentou na família que ao entregar o veneno à menina, se deu conta de que poderia ter sido para atender um pedido de uma moça da familia que recém havia brigado com o namorado e estava em estado depressivo, e poderia fazer mau uso do veneno. O choque não só abalou os familiares da menina como também a família que a abrigava. Tinham profunda admiração por ela devido à qualidades dos seus serviços. Houve um drama de consciência da Sra Edder, que se julgou culpada pela morte de Vitória ao colocar em mãos de uma pessoa inexperiente um produto altamente perigoso.




Vítima da Depressão
 

  A doença do corpo mata tanto quanto a da alma, do espírito, do baixo astral. Esta última desafia os especialistas quanto à sua origem: somática ou espiritual ? Há quem afirma se origina da falta de lítio no organismo; outros, atribuem ao abalo do sistema nervoso central que faz a pessoa mudar o comportamento de um instante a outro, perdendo o entusiasmo e o interesse pela vida e por tudo que a cerca. Talvez o pavor, o receio, o medo do insucesso seja um dos agravantes mais severos na sua incidência. Os recursos de tratamento psíquico ou neurológico tem efeito demorado, causando, na maioria das vezes, efeitos colaterais, obrigando a um reinicio de cura por outro caminho. Esta abordagem nos desafia a buscar explicação porque Edilce Machado Picolo não conseguiu superar a força negativa da depressão que vinha lhe atormentando desde a sua adolescência. Seus pais contratavam os melhores profissionais e instituições especializadas nessa área, e mesmo assim, perdiam as batalhas e, por fim, a guerra, contra esse mal. Edilce nasceu em 1943 no Rincão dos Alves e faleceu em 1969 na cidade de Taquara, já casada e mãe de dois filhos. Nasceu e cresceu sempre acompanhada de uma beleza física a encantar qualquer rapaz de sua época. Quer parecer que os dons são passados aos indivíduos em forma de pacote: trazem junto os risco da fragilidade da saúde. No período escolar, apesar das longas horas de estudo, Edilce não conseguia dominar as disciplinas, resultando em notas não esperadas nas avaliações. Ora, isto lhe causava estresse, sendo aconselhada a uma breve parada para acalmar os nervos. A cada crise um internamento em instituição por recomendação médica. Assim ia levando seu estado de saúde até que chegou a época do preparo para o casamento. Seu noivo viajou a negócio para a cidade de Taquara e Julgou que não mais voltaria para o casamento, por isso ingeriu substancias tóxicas. Nesta ocasião seus próprios pais convocaram seu noivo para lhe dizer que estava absolutamente livre para romper o noivado, isentando-o de qualquer compromisso com o casamento. O noivo respondeu não abrir mão do motivo que mantinha juntos - o amor, o qual sobrepunha a qualquer compromisso formal. Assim o casamento ocorreu com muita festa e emoção. Depois de uma longa e aparente estabilidade emocional, eis que surge outra crise, agora com os filhos na idade de 5 e 8 anos. Ao retornar de uma visita de terapia a um casal de amigos, passou a demonstrar falta de controle nas palavras. Três dias depois, quando o marido estava viajando, usou seu 38 para se despedir tragicamente de todos que a amavam incondicionalmente.





Recente vítima da depressão
 

  O mês de outubro de 2010 assinalou mais uma vítima da depressão no Rincão dos Alves. Quem poderia imaginar, um trabalhador saudável, cheio de planos e energia, dono de uma propriedade privilegiada pela natureza para o plantio de arroz irrigado, com as abundantes águas do Rio Jaguari, fosse ceder aos impulsos dessa maléfica doença ? Luiz Carlos Fiorin Santolin, pai de 2 filhos, situação econômica estabilizada, com equipamento de lavoura ao seu alcance, decide surpreender a família e os amigos, despedindo-se de forma trágica, usando uma corda no pescoço. Cena chocante para a esposa que retornava, de manhã, do ordenho das vacas e se depara com o marido pendurado e já sem vida. Criou-se uma situação de desespero, tentando buscar explicação lógica para tamanho desatino. Diante deste fato surgem situações opostas – um paradoxo: Quantas pessoas, cheias de dores e doenças, correm atrás de médicos e hospitais em busca da saúde para se livrar da morte ? De outro lado, vê-se gente cheia de saúde no corpo, procurando a morte! Eta mundo difícil de se entender !





A Vingança dos Maragatos
 

  Um fanático admirador do Partido Republicano (Chimango-lenço branco), de nome Faustino Jardim, casado com Cândida Alves Machado (Candinha), irmã de João Alves Machado, residente nas proximidades de Taquarichim, dono de muitas fazendas, tinha a fama de praticar violência contra seus adversários políticos – isto é, os Maragatos. Dizem que tinha prazer de torturar seus inimigos ou inimigos do seu Partido quando estes lhe incomodavam. Costumava sepultar suas vítimas, de preferência, decapitadas. Castigava as pessoas suspeitas de pertencer ao partido da oposição (Maragato-lenço vermelho). Acreditava que a supremacia do seu partido tinha que ser mantida à força, à bala ou no ferro branco. Uma de suas torturas preferidas era fazer uma armação de ripas de madeira, amarrar a vítima em cima dela e fazer uma fogueira sob seu corpo. Ali ia aumentando o volume da labareda até que confessasse seus ideais partidários. Certa vez seqüestrou a esposa de um adversário político, raspou-lhe a cabeça e mandou passar “graxa de égua”. ( Dizia que esta gordura não deixava nascer cabelo). Torturou-a para que contasse onde seu marido tinha se refugiado, a fim de que pudesse mandar matá-lo. A mulher era portadora de razoável poder econômico e muita coragem, por isso manteve-se fiel ao marido, não o denunciando. Mesmo assim foi liberada pelos carrascos, mas o marido sentenciado, depois de algum tempo, não se livrou da morte. Na saída prometeu ao malfeitor vingar a tortura que sofrera e iria contratar capangas para devolver os maus tratos. Ameaça não lhe intimidava, dizia ele. Outra forma de tortura ou castigo, principalmente a quem lhe prestava serviços e cometia falha, era servir comida com charque, sem tirar o sal, ou outras comidas bem salgadas nas refeições do almoço para provocar a sede. Mandava capinar e arar a terra sob um sol causticante sem que pudessem tomar água. Quem estava de castigo tinha que se submeter à tortura sem reclamar. Ele mesmo fiscalizava o cumprimento de suas ordens, armado de revólver, espingarda e facão. Sentado em uma enorme pedra lhe permitia visualizar todos os movimentos dos castigados. Quem se atrevesse a desobedecer-lhe, recebia uma carga de chumbo nas pernas ou no corpo para eliminá-lo. Por algum tempo vinha praticando estas barbáries junto com alguns capangas que o apoiavam. Certa vez uma de suas vítimas, aquela que o havia desafiado, armou uma tocaia para o poderoso chefão. Preparam um falso encontro político de sua facção em determinada residência e lá compareceu sem perceber a armadilha. Devolveram a violência com a mesma intensidade com que costumava atacar suas vítimas. A família recebeu o corpo do assassinado, mas sem a cabeça. Esta foi entregue como troféu aos que tinham sido vítimas dele. Todos estes atos bárbaros aconteceram, parecendo mais coisas de cinema, porém, quem viveu naqueles tempos não se surpreendia, acreditando na sua veracidade. Esta história tem diferentes versões, mas todas culminam num ponto em comum – a decapitação do velho Chimango!





Morte da Idalina –Exalta Vladimir
 

  “Recebi com surpresa e espanto a notícia da morte da querida tia Idalina. Surpresa porque eu já a considerava imortal aos 97 anos! E assim continuará enquanto eu viver, e na esperança - de – sangue , também eu, por outro lado, viver imortal, saudável, lúcido, desejável e desejante até os 100 anos. A tia Idalina era da estirpe dos Alves Machados : uma parte delirante mourisca (Al- Barish) e a outra portuguesa e espanhola, o machado que corta fundo, até o osso. Mantinha a nobreza dos aristocratas rurais–mesmo decadentes- donos de meio mundo: o Rincão dos João Alves. Nada a abalava e tudo era possível. Até o enigma de sua solteirice até o fim. Nunca a vi chorar,nem lamentar-se. Uma vez, ainda criança, fiz seu retrato enquanto costurava, um desenho considerado genial porque sua imagem foi desenhada com perfeição que ela mostrava a todos. Diante do sucesso, inventei a cópia por papel carbono, para distribuir a quem quisesse. Esse retrato está impresso na memória. Cada vez que pinto um retrato, que sai por encanto, sem dificuldade, é esse retrato da tia Idalina que se repete. Acho que ela viveu assim também; por encanto e sem dificuldade, desfrutando da atenção de vocês, como uma espécie de deusa- do –lar, terrível e generosa ao mesmo tempo. Agora enterrada no cemitério das coxilhas do Rincão dos Alves, retorna à grande mãe, a terra que a viu nascer e viver esta curta vida, permitindo no fim uma boa morte. A lua cheia, que já viu muitas civilizações desaparecerem, iluminará também o cemitério do Rincão, onde estão enterrados gente querida da família. Afrontando a indiferença cósmica, em um túmulo está escrito na pedra o nome da tia Idalina, a lembrar que em 50 mil anos, alguém viveu discretamente 97 anos. Um abraço a todos, e aproveitemos bem, porque a vida é só uma. Do vlad” (E-mail enviado por Vladirmir quando soube da morte da sua tia Idalina)





Idalina - Dura na queda
 

  Idalina Simmi de Oliveira – Nasceu em 25 de agosto de 1909, na localidade de Rincão dos Alves, 4º Distrito de Jaguari,RS e faleceu, solteira, dia 27/06/2006, aos 97 anos de idade, na Clinica Geriátrica N.S. Lourdes, em Sta Maria, devido à insuficiência cardíaca e respiratória. Ao 16 anos sentiu a dor da perda da irmã primogênita Adélia, com 18 anos de idade, vítima de pneumonia aguda. Aos 22 anos, perdeu a mãe, D. Virginia Simmi, vitima de câncer uterino, ficando responsável, junto com seu irmão Olindo(Olinto) pelos irmãos menores e pelos negócios da família, já que seu pai Marcírio tinha o hábito aventureiro de tomar rumo desconhecido e viajar pelo mundo a fora. Eram 10 irmãos na família: Adélia(*1907/+1925), Idalina(1909/+2006), Olindo (1912/+2002), João(Joanete)(1914/+2004), Pedro(1915/+2008), Antonio(1917/+1985), Geni(1919), Zeferino(1923), Nair(1925), Ireno(1932/1972). Gostava muito de baile e dançava com leveza, despertando o interesse de muitos moços de sua época. Era muito severa no tratamento com seus pretendentes a namoro. Certa vez um deles tentou pegar sua mão e logo recolheu dizendo que, para homem, não se dava confiança, nem mesmo depois de casada. Tal atitude ia melindrando seus conquistadores, mas mesmo assim teve paixão por um deles de nome Eugenio Edder(Oigne). O rapaz foi acometido de uma turberculose incurável e veio a falecer em breve. Em sinal de luto permanente, Idalina não conseguiu se relacionar com nenhum outro moço de sua idade. Ficou absorvida no trabalho da casa cuidando dos irmãos menores e costurando para a família e para outros, pois havia aprendido a arte de costurar com Dona Gema em curso promovido por sua avó Marcolina. Ficou na companhia dos irmãos até a idade de 47 anos quando então foi morar na cidade de Jaguari onde seu pai Marcírio havia comprado uma chácara no sopé do obelisco da cidade. Passou a costurar profissionalmente e, ao mesmo tempo, ensinar meninas”aprendizes” na arte de corte e costura. Seu pai Marcírio tinha a subsistência do arrendamento de propriedades no Rincão dos Alves. Tinha paixão por andanças, mas, devido à idade avançada, abandonou as viagens de aventura. Na bagagem para Jaguari, Idalina trouxe sua sobrinha Neusa(5), filha de Antonio, compondo o trio morador da chácara. Mais tarde veio morar na família, Vladimir Feliciani Machado(5), Filho de seu irmão caçula- Ireno, que havia se separado de sua esposa Oraci. Aos 21 anos de Idade, sua sobrinha Neusa casou-se, indo morar em Santa Maria. Aos 17 anos de idade, Vladimir foi devolvido ao controle do pai que morava no Rio de Janeiro. Veja trajetória de Vladimir noutra seção. Idalina, já morando sozinha em Jaguari, em 1966, foi convidada pela sobrinha Neusa para morar na companhia do casal Neusa e Hermes Bressan em Santa Maria, com eles ficando 40 anos, até 2006 quando veio a falecer com 97 anos de idade.
                       Eis a evolução da fisionomia da Idalina nas diferentes etapas de sua existência.


84 anos          (86)                         (94)                       (96)                      (97)

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XI - POLÍTICA PARTIDÁRIA - IDEOLOGIA

                                  Herança Partidária

  A herança política dos ideais farroupilhas veio passando de geração em geração até nossos dias, reativada nos Centros de Tradições Gaúchas(CTG) e nos Movimentos de Tradição Gaúcha(MTG). Os partidos políticos da época eram: Chimangos ou Ximangos(lenço branco ou republicanos) e Maragatos(lenço vermelho). Chimango(ave falconídea) era um apelido dado pelos federalistas governistas em 1893, aos membros do Partido Republicano. Maragato era o nome dado ao participante da Revolução Federalista de 1893, chefiada por Gaspar Silveira Martins(1834/1901), contrário ao partido então dominante, cujo chefe era Julio de Castilhos(1860/1903). Maragato fazia parte do movimento Aliança Libertadora de 1923, liderada por Assis Brasil(1857/1938) inimigo do Presidente do RS – Augusto Borges de Medeiros(1863/1961)(Fonte: Novo Aurélio – Sec XXI). A maioria do povo de Rincão dos Alves herdou a ideologia Chimango, não por livre arbítrio, mas por influencia de seu líder maior da época – João Alves Machado. Quem ler a obra: ALBUM ILUSTRADO - PARTIDO REPUBLICANO CASTILHISTA – RS, página 260, vai encontrar o texto abaixo e a foto de capa deste trabalho(João Alves Machado e seus onze filhos).
Veja o texto da Pagína 18 - Partido Republicano
Após João Alves Machado, poucos tiveram a vocação para a liderança política partidária, apenas preferência por um ou outro partido político que, em época de eleição passavam a demonstrar suas tendências e preferências por ideologias partidárias. Neste contexto veio salvar a família Oliveira Machado, em segundo grau, Álvaro de Oliveira Feliciani que, logo após sair do conjunto musical que liderava, exerceu um mandato de vereador na cidade de Jaguari, retornando logo a área de sua vocação profissional – a música. Também Santo Scalon Picolo, casado com Alzira Machado de Oliveira, exerceu um mandato de vereador no período de 1968 a 1972.

Os Piquetes de Cavalaria


  Lá pelos idos de 1930, mais de 800 homens da ala dos Republicanos(Chimangos) acamparam junto ao sangradouro próximo à propriedade atual de João Silva(João Tigre) onde usurpavam os fazendeiros requisitando rezes e outros animais de abate para alimentar toda a tropa. Ali foram carneadas mais de 8 reses dos vizinhos sem qualquer indenização ou pagamento. Os adversários políticos, Maragatos(lenço vermelho), pejorativamente chamados de “Pica-Pau” eram ultrajados, maltratados e tinham que esconder sua identificação ideológica para não sofrer represália. Quem aparecia vestindo um lenço vermelho era intimado a escondê-lo, caso contrário seria arrancado do seu pescoço. Certa vez Olindo(Olinto) Machado de Oliveira, filho de Márcirio, que gostava de usar lenço vermelho, sem qualquer interesse partidário, foi chamado á presença de João Alves para justificar seu ato ofensivo aos Republicanos. Nem todos os Chimangos obedeciam aos princípios de respeito aos seus correligionários. Havia muito roubo de cavalos encilhados, deixando seus donos privados de seus meios de locomoção, sem um mínimo de respeito e sentimento humanitário nos males que lhes causavam. A família da facção partidária era resguardada da agressão que imperava no meio dos aventureiros, enquanto a dos adversários políticos tinha que buscar lugar mais seguro fora da casa residencial. Isto é, embrenhar-se no mato. Dentre os Maragatos mais convictos da região estavam: Sr. Álvaro Ventura de Oliveira, seus pais João Ventura, casado com Dona Rita, seus filhos Mário Flores de Oliveira, Arnaldo(Tuto), Almerindo, Euclides Maciel, e outros. Em 1920, outro republicano, de origem Uruguaia, Dr. Carlos Del Rio, Dentista, Genro de Faustino Jardim e Dona Cândida Alves Machado, morador em Taquarichim, se juntou aos Chimangos, passando a conviver com os ideais castilhistas, tendo logo em seguida ao seu casamento o dissabor de presenciar a tragédia da decapitação do seu sogro, por vingança política, em razão da crueldade praticado com seus adversários de partido na revolução de 1930.


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X - RELIGIÃO, MISTICISMO E FÉ

Religião,Seitas,Crenças e Crendices
 

  Qual povo não tem seus gurus ou guias espirituais ? A maioria das pessoas acredita na existência de um ser superior a comandar as ações de cada indivíduo. Cada povo tem seu Deus, sua Divindade, seus guias, seus protetores, seus mágicos, seus líderes, seus ídolos espírituais(Santos de devoção), suas crenças. O povo de Rincão dos Alves sempre seguiu a orientação da Igreja Católica – baseada nos ensinamentos de Cristo, tendo como base a Igreja Católica Apostólica Romana. Apesar de já cultuar esta religião na localidade, foi reforçada com a vinda dos imigrantes Italianos, alemães e outros que trouxeram na bagagem imigratória os hábitos religiosos de mesma linha espiritual. A religiosidade desse povo iniciou efetivamente com o trabalho dos missionários, após a intervenção dos jesuítas. A exemplo da imigração italiana que, ao chegar no local de assentamento, uma das primeiras construções seria o templo: capela, igreja. Rincão dos Alves construiu sua capela e, mais tarde, a igreja São João Evangelista – o padroeiro da localidade. Ali era rezada uma missa por mês ou quando havia festa em sua homenagem ou evento religioso especial como casamento, cerimônia fúnebre de alguém de destaque . No mais das vezes era rezado o terço regido por leigos treinados por sua vontade própria. A religião constituiu-se, ao longo da história, um porto seguro para as pessoas de fé, principalmente as tementes a Deus. Tal assertiva se respalda nos ditos comuns como: Até amanhã, se Deus quiser ! Se Deus quiser, amanhã farei um bom negócio ! Aquilo foi terrível – um Deus nos acuda ! Em italiano: Dio Santo ! Santo Dio ! Estes hábitos eram passados de geração em geração, porém tem havido uma invasão de outras seitas ou religiões, de modo a dividir os fiéis católicos com outras tendências espirituais, apesar de prevalecer a católica, base da espiritualidade do local.

                                 Igreja São João Evangelista


  Esta igreja foi construída no local onde já havia uma capela e inaugurada em 1943. Estavam presentes ao evento o Prefeito Municipal de Jaguari, Sr. Miguel chimileski, o vigário Pe. José, autoridades da cidade, construtores, contribuintes e fiéis em geral. Esta capela tornou-se o cartão postal de Rincão dos Alves, como se pode observar na capa desta publicação.





Mitos e Assombração
 

  “No creo em brujas... Que las hay, las hay...” Em todo lugar, principalmente no interior de município onde a população é menos densa, cria-se um mito(mistura de medo com pavor) em torno de aparições noturnas, ruídos sem conhecer a origem, vozes estranhas vindas de todos os lados, tudo isso deixando o indivíduo baratinado e sem saber o que fazer. O medo toma conta dele causando arrepios e calafrios obrigando a correr sem rumo ou retornar à origem, ficando sem coragem para andar à noite. Este fenômeno leva as pessoas a criarem uma exceção aos seus direitos de ir e vir sem serem molestadas. Ora, isso está escrito no ordenamento jurídico mas não na cartilha da mente. As pessoas são levadas a dizer que o lugar ou a casa onde passam está “mal assombrada”. Esta crendice causa pavor, terror e desconforto até naqueles que se julgam mais corajosos. A situação se agrava ainda mais quando um grupo se reúne à noite e começa contar “causos” de assombração. Nestas alturas os corajosos se calam, procurando esconder o medo camuflado que carregam dentro de si. É hora de confirmar a máxima: quem tem..., aperta! - No Rincão, mais de 3 depoimentos já surgiram sobre fatos acontecidos em horário noturno. Um deles aconteceu na encruzilhada próximo à residência de Gentil Machado de Oliveira. Certa vez o próprio Gentil se deslocava para casa, em noite de luar, quando avistou uma mulher encostada na cerca de arame farpado e falava baixinho. Ao chegar perto perguntou se precisava de ajuda. – Apenas disse algumas palavras e disse-lhe que iria encontrar enterrada uma caixa com objetos interessantes. Após isso desapareceu. Passados 2 ou 3 anos, lavrando a terra encontrou uma caixa enterrada, mas não tinha bulhufas. E daí.... É, ficou nisso... - Em outra ocasião um morador do local, Sr. Dário Simmi, em noite de lua cheia, voltava da casa da namorada Neri Peres, e nas proximidades do cerro apareceu um porco , atravessando a estrada. Pegou uma vara e tentava passar por ele, mas o suíno bloqueava seu caminho. Este trecho que fazia em poucos minutos, acabou levando horas tentando se livrar do animal. Ao chegar próximo à casa de seu pai, onde havia uma sanga, o bicho desapareceu. Chegou em casa de madrugada, nervoso e bateu tanto na porta que a quebrou. - Os filhos de José de Oliveira contam que, certa noite, pescavam no Poço Preto(curva do Rio Jaguari, logo abaixo da pranchada) quando, de repente sentiram um cheiro forte de flores aromáticas e as árvores ao redor começaram a se mexer. Ora, causou um pânico e os rapazes deixaram até as linhas na água na promessa de não mais pescar naquele lugar à noite. Os mitos, os azares, o olho gordo, as assombrações, os lugares assombrados, as mandingas, as feitiçarias, os descarrêgos, as bruxarias, os trabalhos das bruxas e feiticeiros, os rogadores de praga, as crenças, as religiões, as seitas, os hábitos religiosos, os costumes de beija-mão, os pedidos de bênção aos mais velhos passaram a integrar o tropel de lembranças dos rinconenses. A reza do terço, participação da missa dominical, o hábito das orações antes e depois das refeições, tudo isso já está integrado a cultura do seu povo. O olho gordo também não ficava a dever – lá estava ele presente nas ações do Tio Lolô. Criou-se um mito em torno dele sobre sua vontade de realizar negócios com animais ou objetos de estimação de outros. Quando se agradava de um animal e mostrava desejo de possuí-lo, mesmo que o dono não quisesse negociá-lo na oportunidade, tinha que se desfazer do bicho, pois se não vendesse, o respectivo morreria ou sofreria de peste ou se inutilizava por acidente. Era colocar os olhos e já estava sentenciado. Tal fama ficou abertamente conhecida e reconhecida de modo que todos da redondeza temiam sua presença onde estavam os animais.

                                       Caso Misterioso
                    ( menina de 5 anos que atravessou o rio)



  Em meados do ano 2000, uma menina de 5 anos de idade acompanhava sua avó e outro irmão numa visita a uma amigo. Durante a visita, a menina, que brincava no pátio com outras crianças desapareceu. Todos da família saíram em desespero a sua procura e, de repente, viram os chinelos da menina boiando próximo à margem do rio. Veio logo a suspeita de afogamento. Um dos rapazes nadou até uma pedra no centro do rio e passou a procurar sinais nas proximidades. Dali avistou, do outro lado do rio, alguém que se movimentava no meio da capoeira. Lá chegando, constatou ser a menina procurada. Estava molhada, tremendo de frio e toda suja de lama. Perguntado a ela como havia chegado até lá, atravessando o rio, em lugar onde não “dava pé”, respondeu: “ Foi um tio que me ajudou atravessar”. No local não havia canoa nem sinal de que alguém estivesse por ali. Foi, no entender da família, um fato misterioso ou inexplicável. Para alguns, o tio citado pela menina seria o “Homem de Pala” que havia morrido afogado a poucos metros do local( Este fato foi narrado noutra sessão desta obra) Durante algum tempo foram ouvidas muitas pessoas para tentar explicar o fenômeno, porém nada se apurou. Os representes da igreja católica não admitiram explicação espírita sobre o caso, mas as evidencias não descartam tal suspeita. Passou, então, a ser um caso misterioso.





A Fama da Cigana Anita
 

  Ainda nos anos 50 uma família de nômades – ciganos – passou a morar por longo tempo no Rincão dos Alves, nas proximidades da atual Escola João Alves Machado, conquistando a amizade e simpatia dos moradores. A esposa do cigano chefe usava a magia de “Ver La Suerte” e por isso despertava o interesse dos jovens, homens e mulheres, em saber com quem iriam casar-se. A freqüência à casa da cigana Anita era intensa e, mesmo não coincidindo as previsões anunciadas, os consulentes ficavam curtindo a expectativa de um bom partido no namoro ou casamento. Veja a foto, a seguir, da família de ciganos acompanhada de Santo Picolo e esposa Alzira Machado:
Foto: 1940: Atrás: Alzira,Anita, Cigano1,Cigano2, Santo Picolo,Amig1,Amigo2
                                            Frente: Cigana c/filho, mais 5 filhos de cigano.
           



Os Benzedores


  Havia benzedura para todos os males do corpo como: dor de cabeça, distensão muscular, picada de inseto(aranha, escorpião, marimbondo), cobreiro(provocado por lesma, sapo, largarta), erupções da pele provocada por aroeira, polens e outras formas de alergia, picada de cobra, mordida de animais domésticos, outros. A prática da benzedura recaía em pessoas sensíveis a essa crendice na qual se atribuía fé e obtinha bons resultados. Não havia pagamento, mas troca de favores em objetos ou serviço. Dentre os que exerciam esta arte da fé estava Dona Marciuniria, que também era Lavadora de Roupa e Pedro Prudente, como era conhecido, porém havia outros amadores operando em âmbito familiar.




Olho Gordo ou Olho Grosso


  A luta entre o bem e o mal já remonta desde o Velho Testamento. No mundo dos mortais há quem acredita nas bruxas, nos feiticeiros, no feito dos maldosos, nos benefícios das Benzeduras, etc., porém, outros nem tanto. Tudo não passa de imaginação ou mitos criados pelo próprio indivíduo. Seja lá o que for, a reincidência de fatos, as evidências dos acontecimentos e o desfecho final levam as pessoas a não descartarem tais fenômenos. Há gente que não acredita em Olho Gordo ou Olho grosso, mas há exemplo de indivíduos com poderes sobrenaturais que, basta um olhar ou a insatisfação de seus desejos, para levar à desgraça quem contraria suas intenções. Por exemplo, se chegasse Tio Lolô na casa de um vizinho e se agradasse de um animal ou objeto, propondo compra e o dono dissesse não estar a venda, era prejuízo certo. Se fosse animal, morreria dali a poucos dias. Se objeto, quebraria no manuseio ou deixaria de funcionar. Certa vez chegou na casa de uma família de origem alemã, lado direito do Rio Jaguari, e viu um galo de rinha no terreiro. Ao saber que havia pedido emprestado para reprodução, pediu por sub-empréstimo, sendo negado pelo responsável pelo galináceo. Três dias depois, o galo, que esbanjava saúde, caiu morto no meio do terreiro.




Bruxaria


  Era costume da população dizer que, quando algo desejado não acontecia, havia sapo enterrado, trabalho de feitiçaria ou bruxaria. Numa cancha de carreira, quando o favorito ficava atrás ou perdia a corrida, diziam que fizeram bruxaria, manearam um sapo na trilha do favorito. No jogo de futebol, se o atacante não conseguia vazar o goleiro, diziam que havia sapo enterrado debaixo da goleira.




Crendices populares


  Mulher que varrer de noite e não deixar o lixo atrás da porta, vai ficar viúva em breve. Abrir o guarda-chuva dentro de casa, provoca tempestade. Se passar debaixo de escada móvel, não vai casar. Fica solteira(o). Quando ver a lua nova pela 1ª vez, faça o sinal da cruz para se livrar da picada de cobra. Na visita, se entrar pela porta da frente e sair pelos fundos, não mais voltará àquela casa. Debaixo de aroeira brava troque a saudação: de manhã diga boa tarde e VV. Se não fizer, a irritação da pela será inevitável. Evite a queda de raio – Diga: Santa Bárbara , após o relâmpago ! Se der tempo... (Santa Bárbara e São Simão – nos livrem deste trovão !) Se for pedir algo em qualquer casa ou repartição, acesse o 1º degrau ou portal com pé direito. Dá sorte !