segunda-feira, 21 de março de 2011

XII - AS MARCAS DO DESTINO

                                 A Morte do Cavaleiro de Pala

  Certa vez um cidadão de origem polonesa que morava na serra e saiu para visitar a noiva na Linha 14, deveria passar pelo vau do Rio Jaguari onde hoje tem a pranchada do Poço Preto. Havia chovido muito na nascente e o rio estava cheio. Ao passar na porteira da propriedade de Márcirio Machado, Idalina alertou o cavaleiro de que o rio estava muito cheio e perigoso para atravessá-lo. O moço nem deu importância e prosseguiu a galope. Ao chegar junto ao Rio estava lá, lavando roupa a Sra Ignes Schopf que repetiu a recomendação sobre o perigo da travessia. Continuou seu propósito de prosseguir a travessia. Quando entrou na água, seu cavalo começou a nadar mas não conseguiu vencer a correnteza porque mantinha as rédeas curtas. Dona Ignes gritou-lhe: Frouxe as rédeas!!! Neste instante o cavalo deu um impulso a frente e o cavaleiro caiu na água, sendo levado pelo correnteza, deixando seu pala flutuando sobre a água. Seu corpo foi encontrado no lugar conhecido como Poço Preto três dias depois, por mergulhadores vindos de outros lugares, experientes em mergulhos e salva-vidas. O local ficou tomado de curiosos e de parentes do jovem desaparecido. O corpo do cavaleiro foi encontrado por um filho de Francisco Machado que, ao mergulhar, tocou na bota da vítima e os mergulhadores resgataram o corpo.





Criança Queimada
 

  Numa manhã fria de Julho de 1947, Nelza , 3ª filha de Antonio e Doralina Machado de Oliveira, com apenas 10 meses de idade, havia sido deixada pela mãe, sozinha, se aquecendo ao lado do fogão a lenha da família, enquanto saía para uma lavoura perto da casa, em busca de batatas para reforçar o almoço. Não demorou muito, mas o suficiente para o fogo atingir suas vestes e queimá-las totalmente. Quando a mãe retornou a casa, se deparou com aquela cena horrível com a menina já sem vida. Apesar de saber que fatos semelhantes a estes já acontecerem na vizinhança, as pessoas continuam acreditando que isso só ocorre com os outros.





Criança Enfaixada e sufocada
 

  Dona Porfíria morava num barraco com parede mista de barro e arbusto nas proximidades do Rio Jaguari. Sua filha engravidou e não revelou o nome do pai da criança, mas quando chegou o momento do parto, D. Porfíria fez as vezes de parteira e, como era de praxe enfaixar o recém-nascido, não poupou forças para prensar o rebento. Dizem que apertou tanto para evitar que a criança chorasse e anunciasse o acontecimento que deveria ficar em segredo de família. Em conseqüência do arrocho das faixas, a criança veio a falecer e D. Porfíria jogou o corpo no leito do Rio, o qual, mais tarde, foi encontrado por pescadores. Pagou seu crime na justiça com alguns anos de prisão. A filha, mãe da criança, não teve participação no delito, por isso não foi indiciada.





Afogamento em Água Rasa
 

  Lúcia Saggin, casada com Álvaro Silva, tinha 5 filhos ainda pequenos quando saiu de casa para lavar roupa no Rio Jaguari. Um amigo da família que passava nas proximidades, percebeu que havia uma mulher deitada na água rasa. Chegando perto constatou que já estava morta. Suspeita-se que tenha sofrido um desmaio ou mal súbito e caído na água onde lavava roupa, afogando-se. Devido à situação de trabalho do marido, não pôde assumir o controle dos pequenos, optando pela cessão a parentes e amigos para que se integrassem a uma nova família.





A Morte de Adélia
 

  Em 1925, Adélia(18) e Idalina(16) foram convidadas a participar de uma reunião dançante no Clube de Tiro ao Alvo da família de origem alemã situado do outro lado do Rio Jaguari. Era um domingo de muito sol e calor. Para chegar ao clube não havia ponte nem passarela para evitar o contato com a água. Às vezes, algum canoeiro, quando disponível, fazia a gentileza de passar os transeuntes que não queriam molhar os pés. Terminada a Matinê(dança no horário da tarde), as moças retornaram à casa, devendo, antes pisar na água, sobre as pedras soltas na travessia do Rio. Além do movimento das danças e da corrida para chegar em casa ainda de dia claro, entram na água com o corpo suado, de modo que houve um choque térmico, talvez pela demora no percurso de travessia. Ao chegar em casa, Adélia passou a sentir calafrios ou arrepios de frio, seguidos de febre alta. Tal façanha rendeu à Adélia uma intensa gripe que se transformou em Pontada de pneumonia. Sua avó Marcolina tinha em Adélia, filha primogênita de Marcírio, a neta do seu coração, não só pela sua invejável beleza física, mas também pela docilidade do seu trato para com a avó, por isso não media esforços na busca de cura para sua amada neta. Naquele dia estava em visita à casa de seu pai um Senhor de nome “Edegarzinho”, que fazia xarope e remédios para todas as moléstias comuns, passando a ministrar-lhe produtos de sua medicina campeira, sem, contudo, baixar a febre que se mantinha elevada. Depois de 5 dias de tentativa, procurou-se por outro curandeiro, Sr. Norberto Soares, que também não conseguiu reverter o quadro clinico da paciente. Esgotados os recursos caseiros e de curandeiros, procurou-se recursos no povoado de Jaguari, indo em busca do médico da cidade que, viajando ora de automóvel e de charrete, chegou ao local, porém já tarde demais, pois já não reconhecia mais as pessoa ao seu redor. Dois dias após, Adélia falecia, aos 18 anos de idade, vítima de pontada de pneumonia fulminante, deixando em desespero os parentes e amigos da família que viam nela o símbolo da beleza da mulher e o gesto simples de cativar as pessoas. Sua morte deixou um vazio na convivência familiar, desanimando, por um tempo, os acontecimentos de lazer como bailes, reuniões e festas populares. O impacto da perda calou tão profundo no coração daqueles que a amavam e testemunharam a sua luta pela sobrevivência que não conseguiam esquecer a cruzada fatídica do seu destino.





Ciúme Que Mata
 

  Rincão dos Alves, como acontece em qualquer outro lugar, foi palco de cenas de ciúmes de muitos jovens e homens maduros. Este comportamento, inexplicável para alguns, não escolhe indivíduo para se instalar, nem há receitas para diminuir seus efeitos maléficos. É próprio da natureza de pessoas de pouca firmeza e confiança em si mesmo, fatores que ajudam a levá-lo a procedimentos inesperados e prejudiciais a si e aos outros do seu convívio familiar. Houve o caso de um cidadão de boa índole, família tradicional do lugar, que havia perdido a visão de um olho, com a deformação parcial da cavidade ocular. Em razão disso recebeu o apelido pejorativo de “caolho”. Esta era sua ferida moral. Bastava tocar nesse nome e já se ofendia e se irritava, tanto vindo de estranhos quanto de pessoas da família. Devido ao seu estado emocional, foi acometido de ciúmes e suspeita de traição por parte de um de seus irmãos. Para confirmar sua suspeita mantinha o terreiro limpo para visualizar os vestígios de pisadas de estranhos no seu pátio interno. Sua mulher não podia sair longe de casa sem que perdesse de vista (do olho bom, é claro). As reclamações deste gesto eram freqüentes, gerando acirradas discussões sem acordo e sem respeito um com o outro. Um certo dia, pela manhã, sua mulher foi colher flor de laranjeira para fazer xarope quando seu marido se aproximou e a interpelou dizendo que estava ali para se expor aos seus admiradores, ocasião em que surgiu ferrenha discussão. Ao ouvi-la pronunciar a palavra de desaforo - “caolho desengonçado”, seu troco não foi outro senão sacar o revólver e desferir-lhe dois tiros a queima roupa atingindo-a mortalmente, seguido de suicídio com uma bala no ouvido. Duas mortes estúpidas por causa de ciúme doentio do chefe de família(Fonte: Idalina, Sobrinha dos falelcidos)





Veneno no Poço D´Água
 

  Outro fato, menos trágico, aconteceu com um rapaz do Rincão dos Alves que namorava uma professora que vinha lecionar no local, mas não era bem correspondido no amor. Sabia que ela tinha outro pretendente na localidade de sua residência e isto lhe despertava ciúme e medo de perdê-la para seu rival. Como de costume, as professoras do Rincão dos Alves, retornavam a casa de suas famílias em fins de semana e, nesta vez, sua namoradinha saiu dizendo que haveria um baile na sua localidade mas os organizadores não tinha convite para ele. Suspeitou que ela iria se encontrar nesse baile com o outro. Não achou outra saída senão criar um complicador no dia do baile, colocando veneno na água do poço com água potável da residência onde se realizava o baile. Ao retirar um balde de água, já ao anoitecer, alguém percebeu que havia algo estranho na água – uma substancia esbranquiçada cobria a superfície da água do balde e do poço. Suspeitaram da contaminação criminal e saíram em busca de responsável. Foi encontrada nas proximidades uma nota fiscal da compra de um produto tóxico, dando inicio as investigações sobre o autor da façanha. Denunciado à policia, as buscas recaíram no cidadão namorado de uma das moças do baile e que não se encontrava presente naquele dia. As buscas se concentraram em identificar o tipo de veneno e quem o vendia nas lojas da cidade. Feito isso, descobriram o comprador e confirmaram a suspeita. Este gesto vil gerou alguns anos de cadeia ao namorado ciumento, cuja pena foi cumprida na Casa de Correção de Porto Alegre. Mesmo que tenha cometido tentativa de homicídio, após o cumprimento da pena, retornou à Jaguari e casou-se com ela, tendo mais de 4 filhos. Deduz que o perdão da moça tenha encontrado respaldo na paixão que ele tinha pela namorada..(Fonte: Idalina, Prima)





A Morte de Olinto Ventura
 

  Olinto era um dos filhos de Álvaro Antonio Ventura de Oliveira. Tinha 21 anos de idade, em 1947, quando foi morto com tiros de revólver disparados por um senhor conhecido por Salgado – o mascateiro. Este homem havia chegado ao Rincão dos Alves entre 1942 e 1944, com uma companheira, passando a morar nas proximidades do Passo do Salso e falava com sotaque espanhol, daí ser conhecido também por castelhano. Sua profissão era de mascate. Trazia da cidade roupas já confeccionadas e enfeites diversos para vender aos moradores da redondeza viajando num Ford Bigode ou Fordeco 1928. Em suas saídas para o trabalho notou que Olinto visitava sua casa, levantando uma suspeita de marido enganado. Em razão disso, Salgado mudou residência para local desconhecido, todavia continuava trabalhando na região vendendo seus produtos. Certo dia, Olinto repontava uma tropa de gado pelo corredor a fora e, quando Salgado passou por ele, deu uma acelerada no Fordeco e esparramou a tropa, ocasião em que Olinto reclamou e xingou o castelhano. Este, inconformado com a ofensa, sacou o revólver e desferiu-lhe alguns tiros fatais. O Castelhano desapareceu do local, sem que se saiba para onde foi, fincando sem julgamento pelo crime que praticou.





O Suicídio de Mário
 

  Este é outro filho de Álvaro Antonio Ventura de Oliveira que teve um fim trágico. Era um homem de caráter exemplar, respeitado, estimado, participativo e, acima de tudo, lutador pelos bons costumes. Herdou do pai essa postura de cidadão cumpridor de seus deveres e conhecedor dos limites de seus direitos. Todavia, a sorte não lhe foi parceira em todos os momentos de sua existência. Em primeiro lugar, demorou em encontrar a mulher para a formação de sua família, por isso casou já maduro. Quando a encontrou, teve que procurar o futuro sogro, em lugar incerto e não sabido, para autorizar o casamento pois a noiva era de menor idade. Já casado, os filhos não se geravam devido à falha no aparelho feminino da parceira. Buscou recursos médicos em Cerro Largo, obtendo a má notícia de que sua mulher era estéril. Disse ainda o médico: “se Nair engravidar, pagarei todas as despesas de educação do filho que nascer”. Ainda solteiro, Mário Flores de Oliveira havia adotado extrajudicialmente um menino de 11 anos de idade, de nome Antonio, ao qual lhe deu educação familiar e escolar e, ainda, marcava uma rês por ano em seu nome. Ao casar, levou na bagagem o seu ajudante que permaneceu com a família até atingir 17 anos de idade. Como Nair não engravidava, mas continuava acreditando em tratamento, adotou uma menina de 3 anos de idade, de nome Catarina, apelido Naide, a qual criou como filha, conservando seu nome de registro original. Passados 7 anos, surgiu o milagre da gravidez, porém houve mau atendimento no parto e poucas horas depois faleceu João Olinto de Oliveira em 20/08/1953. Sete anos depois nascia o filho biológico, de nome Mário Iran de Oliveira, robusto e vigoroso para alegria da família e dos amigos. Em razão disso, quem conhecia a história, alguém perguntou ao Mário: “Vai procurar o médico de Cerro Largo e cobrar a educação do menino, prometida na época da consulta ?” – Respondeu que não precisava da ajuda dele – talvez tenha prometido isso para justificar sua renomada fama de médico ... O menino cresceu e a mãe Nair insistiu em educá-lo na cidade de Jaguari, para onde foi morar. Mário ficou no Rincão cuidando do gado e da plantação, indo visitar a família com certa freqüência, até que foi morar definitivamente na cidade. O seu trabalho no campo ia muito bem até quando preparou um lote acima de 100 bois para atender seu amigo Juaires Maciel, comprador de gado para um frigorífico no RS. Vendido o gado e, como de praxe, foi dado prazo de pagamento em 45 dias. Esgotado o prazo, a conta não foi paga, nem através da justiça. Soube mais tarde que o frigorífico havia entrado em falência e nunca mais viu a cor do dinheiro. Teve uma grande decepção e prejuízo, principalmente partindo de um amigo seu – que intermediou o negócio. O filho, já adolescente, cheio de energia para gastar, tinha na cidade tempo para tudo além de estudar e fazer trabalhos de casa. Quem teve uma formação familiar rigorosa, plena de detalhes medievais já arraigados, não se conformava com os hábitos das gerações mais modernas e urbanizadas. Algumas atitudes do filho criaram-lhe situações de constrangimento, conflitando com seus princípios de respeito e dignidade. Passou a auto-crítica de que não poderia andar na rua de cabeça erguida face as travessuras do filho. Não hesitou em vender a propriedade no Rincão dos Alves e buscar outra cidade onde poucos lhe conheciam. Ao anunciar a venda de sua propriedade, uma das áreas mais privilegiadas pela natureza no Rincão dos Alves, seus amigos e parentes foram ao seu encontro tentar interromper seu propósito de ir embora dali. Voltaram decepcionados por sua radicalização e por não concordar com àqueles que levavam a certeza de convencê-lo. Em Rivera, ROU, comprou uma propriedade maior do que era a sua, porém para chegar lá, havia necessidade de atravessar diversas propriedades particulares e abrir mais de 4 porteiras. Lá, as casas eram muito distantes umas das outras, de modo que havia um isolamento entre os vizinhos. Mário saía cedo de casa, com fiambre na garupa do cavalo e só retornava ao escurecer. Assim era sua vida no campo. Enquanto isso Nair ficava sozinha em casa, aguardando, ansiosa, o retorno do marido. Mário Iran, o filho, estudava o curso técnico e depois Engenharia Mecânica em Caxias do Sul. Nair não suportou aquela vida isolada por muito tempo e insistiu na transferência para Livramento, onde passou a morar enquanto Mário atendia o campo. Ele também não suportou o isolamento e veio morar na cidade onde estava a mulher. Colocou a venda a sua propriedade no Uruguai e aguardou os interessados na compra. Como o peso uruguaio estava em câmbio desfavorável, a propriedade foi vendida com preço aviltado, bem menor que o valor pago na compra, alguns anos antes. Mário não tinha plano de saúde particular nem contribuía para a previdência social. Nair, por conselho de amigos, se inscreveu no INSS como autônoma e conseguiu, mais tarde, a aposentadoria quando completou a idade para o benefício. Já morando na cidade, fora do ambiente campeiro, Mário não conseguiu suportar a pressão do tédio – doença moderna chamada “depressão”. Fez uma escolha trágica: acionou o gatilho do seu 38 ao pé do ouvido para ser sepultado na terra onde nasceu no Rincão do Alves, em cemitério próprio da família, junto aos seus pais e outros irmãos.





Uma vítima do Tatuzinho
 

  História trágica e surpreendente da menina Vitória, 13 anos, filha de família humilde, que morava e fazia serviços domésticos na residência de Marcírio Machado lá pelos idos de 1935. Era ativa e cuidadosa nos serviços da casa e sempre atenta às recomendações dos patrôes Idalina, Antonio, Olinto, Joanete e Pedro. Antonio tinha o costume tomar ovo cru e cedo já visitava o galinheiro. Vitória foi instruída a fazer a colheita de ovos bem cedo antes que o lagarto de duas pernas os consumisse. Nas suas caminhadas junto aos ninhos, percebeu que as formigas estavam devorando a lavoura de feijão de vagem. Comunicou o fato à família que iria providenciar em veneno de formiga. A menina, por iniciativa própria, foi até a casa da Sra Edder pedir formicida para aplicar no formigueiro. A última vez que foi vista, estava comendo um pedaço de pão. Como havia desaparecido por algum tempo, começaram a chamá-la em voz alta, porém não respondia. Saíram, então, a sua procura e foi encontrada caída no valo contendo certa porção de água, com a cabeça mergulhada, com a boca cheia de pão, já sem vida. A lata de Tatuzinho estava aberta e o veneno esparramado pelo chão nas encostas do valo. Supôe-se que, ao abrir a lata, tenha aspirado o gas mortífero do terrível formicida e desmaiado, caindo no valo e se afogado. Transcorridos alguns dias, a Sra Edder comentou na família que ao entregar o veneno à menina, se deu conta de que poderia ter sido para atender um pedido de uma moça da familia que recém havia brigado com o namorado e estava em estado depressivo, e poderia fazer mau uso do veneno. O choque não só abalou os familiares da menina como também a família que a abrigava. Tinham profunda admiração por ela devido à qualidades dos seus serviços. Houve um drama de consciência da Sra Edder, que se julgou culpada pela morte de Vitória ao colocar em mãos de uma pessoa inexperiente um produto altamente perigoso.




Vítima da Depressão
 

  A doença do corpo mata tanto quanto a da alma, do espírito, do baixo astral. Esta última desafia os especialistas quanto à sua origem: somática ou espiritual ? Há quem afirma se origina da falta de lítio no organismo; outros, atribuem ao abalo do sistema nervoso central que faz a pessoa mudar o comportamento de um instante a outro, perdendo o entusiasmo e o interesse pela vida e por tudo que a cerca. Talvez o pavor, o receio, o medo do insucesso seja um dos agravantes mais severos na sua incidência. Os recursos de tratamento psíquico ou neurológico tem efeito demorado, causando, na maioria das vezes, efeitos colaterais, obrigando a um reinicio de cura por outro caminho. Esta abordagem nos desafia a buscar explicação porque Edilce Machado Picolo não conseguiu superar a força negativa da depressão que vinha lhe atormentando desde a sua adolescência. Seus pais contratavam os melhores profissionais e instituições especializadas nessa área, e mesmo assim, perdiam as batalhas e, por fim, a guerra, contra esse mal. Edilce nasceu em 1943 no Rincão dos Alves e faleceu em 1969 na cidade de Taquara, já casada e mãe de dois filhos. Nasceu e cresceu sempre acompanhada de uma beleza física a encantar qualquer rapaz de sua época. Quer parecer que os dons são passados aos indivíduos em forma de pacote: trazem junto os risco da fragilidade da saúde. No período escolar, apesar das longas horas de estudo, Edilce não conseguia dominar as disciplinas, resultando em notas não esperadas nas avaliações. Ora, isto lhe causava estresse, sendo aconselhada a uma breve parada para acalmar os nervos. A cada crise um internamento em instituição por recomendação médica. Assim ia levando seu estado de saúde até que chegou a época do preparo para o casamento. Seu noivo viajou a negócio para a cidade de Taquara e Julgou que não mais voltaria para o casamento, por isso ingeriu substancias tóxicas. Nesta ocasião seus próprios pais convocaram seu noivo para lhe dizer que estava absolutamente livre para romper o noivado, isentando-o de qualquer compromisso com o casamento. O noivo respondeu não abrir mão do motivo que mantinha juntos - o amor, o qual sobrepunha a qualquer compromisso formal. Assim o casamento ocorreu com muita festa e emoção. Depois de uma longa e aparente estabilidade emocional, eis que surge outra crise, agora com os filhos na idade de 5 e 8 anos. Ao retornar de uma visita de terapia a um casal de amigos, passou a demonstrar falta de controle nas palavras. Três dias depois, quando o marido estava viajando, usou seu 38 para se despedir tragicamente de todos que a amavam incondicionalmente.





Recente vítima da depressão
 

  O mês de outubro de 2010 assinalou mais uma vítima da depressão no Rincão dos Alves. Quem poderia imaginar, um trabalhador saudável, cheio de planos e energia, dono de uma propriedade privilegiada pela natureza para o plantio de arroz irrigado, com as abundantes águas do Rio Jaguari, fosse ceder aos impulsos dessa maléfica doença ? Luiz Carlos Fiorin Santolin, pai de 2 filhos, situação econômica estabilizada, com equipamento de lavoura ao seu alcance, decide surpreender a família e os amigos, despedindo-se de forma trágica, usando uma corda no pescoço. Cena chocante para a esposa que retornava, de manhã, do ordenho das vacas e se depara com o marido pendurado e já sem vida. Criou-se uma situação de desespero, tentando buscar explicação lógica para tamanho desatino. Diante deste fato surgem situações opostas – um paradoxo: Quantas pessoas, cheias de dores e doenças, correm atrás de médicos e hospitais em busca da saúde para se livrar da morte ? De outro lado, vê-se gente cheia de saúde no corpo, procurando a morte! Eta mundo difícil de se entender !





A Vingança dos Maragatos
 

  Um fanático admirador do Partido Republicano (Chimango-lenço branco), de nome Faustino Jardim, casado com Cândida Alves Machado (Candinha), irmã de João Alves Machado, residente nas proximidades de Taquarichim, dono de muitas fazendas, tinha a fama de praticar violência contra seus adversários políticos – isto é, os Maragatos. Dizem que tinha prazer de torturar seus inimigos ou inimigos do seu Partido quando estes lhe incomodavam. Costumava sepultar suas vítimas, de preferência, decapitadas. Castigava as pessoas suspeitas de pertencer ao partido da oposição (Maragato-lenço vermelho). Acreditava que a supremacia do seu partido tinha que ser mantida à força, à bala ou no ferro branco. Uma de suas torturas preferidas era fazer uma armação de ripas de madeira, amarrar a vítima em cima dela e fazer uma fogueira sob seu corpo. Ali ia aumentando o volume da labareda até que confessasse seus ideais partidários. Certa vez seqüestrou a esposa de um adversário político, raspou-lhe a cabeça e mandou passar “graxa de égua”. ( Dizia que esta gordura não deixava nascer cabelo). Torturou-a para que contasse onde seu marido tinha se refugiado, a fim de que pudesse mandar matá-lo. A mulher era portadora de razoável poder econômico e muita coragem, por isso manteve-se fiel ao marido, não o denunciando. Mesmo assim foi liberada pelos carrascos, mas o marido sentenciado, depois de algum tempo, não se livrou da morte. Na saída prometeu ao malfeitor vingar a tortura que sofrera e iria contratar capangas para devolver os maus tratos. Ameaça não lhe intimidava, dizia ele. Outra forma de tortura ou castigo, principalmente a quem lhe prestava serviços e cometia falha, era servir comida com charque, sem tirar o sal, ou outras comidas bem salgadas nas refeições do almoço para provocar a sede. Mandava capinar e arar a terra sob um sol causticante sem que pudessem tomar água. Quem estava de castigo tinha que se submeter à tortura sem reclamar. Ele mesmo fiscalizava o cumprimento de suas ordens, armado de revólver, espingarda e facão. Sentado em uma enorme pedra lhe permitia visualizar todos os movimentos dos castigados. Quem se atrevesse a desobedecer-lhe, recebia uma carga de chumbo nas pernas ou no corpo para eliminá-lo. Por algum tempo vinha praticando estas barbáries junto com alguns capangas que o apoiavam. Certa vez uma de suas vítimas, aquela que o havia desafiado, armou uma tocaia para o poderoso chefão. Preparam um falso encontro político de sua facção em determinada residência e lá compareceu sem perceber a armadilha. Devolveram a violência com a mesma intensidade com que costumava atacar suas vítimas. A família recebeu o corpo do assassinado, mas sem a cabeça. Esta foi entregue como troféu aos que tinham sido vítimas dele. Todos estes atos bárbaros aconteceram, parecendo mais coisas de cinema, porém, quem viveu naqueles tempos não se surpreendia, acreditando na sua veracidade. Esta história tem diferentes versões, mas todas culminam num ponto em comum – a decapitação do velho Chimango!





Morte da Idalina –Exalta Vladimir
 

  “Recebi com surpresa e espanto a notícia da morte da querida tia Idalina. Surpresa porque eu já a considerava imortal aos 97 anos! E assim continuará enquanto eu viver, e na esperança - de – sangue , também eu, por outro lado, viver imortal, saudável, lúcido, desejável e desejante até os 100 anos. A tia Idalina era da estirpe dos Alves Machados : uma parte delirante mourisca (Al- Barish) e a outra portuguesa e espanhola, o machado que corta fundo, até o osso. Mantinha a nobreza dos aristocratas rurais–mesmo decadentes- donos de meio mundo: o Rincão dos João Alves. Nada a abalava e tudo era possível. Até o enigma de sua solteirice até o fim. Nunca a vi chorar,nem lamentar-se. Uma vez, ainda criança, fiz seu retrato enquanto costurava, um desenho considerado genial porque sua imagem foi desenhada com perfeição que ela mostrava a todos. Diante do sucesso, inventei a cópia por papel carbono, para distribuir a quem quisesse. Esse retrato está impresso na memória. Cada vez que pinto um retrato, que sai por encanto, sem dificuldade, é esse retrato da tia Idalina que se repete. Acho que ela viveu assim também; por encanto e sem dificuldade, desfrutando da atenção de vocês, como uma espécie de deusa- do –lar, terrível e generosa ao mesmo tempo. Agora enterrada no cemitério das coxilhas do Rincão dos Alves, retorna à grande mãe, a terra que a viu nascer e viver esta curta vida, permitindo no fim uma boa morte. A lua cheia, que já viu muitas civilizações desaparecerem, iluminará também o cemitério do Rincão, onde estão enterrados gente querida da família. Afrontando a indiferença cósmica, em um túmulo está escrito na pedra o nome da tia Idalina, a lembrar que em 50 mil anos, alguém viveu discretamente 97 anos. Um abraço a todos, e aproveitemos bem, porque a vida é só uma. Do vlad” (E-mail enviado por Vladirmir quando soube da morte da sua tia Idalina)





Idalina - Dura na queda
 

  Idalina Simmi de Oliveira – Nasceu em 25 de agosto de 1909, na localidade de Rincão dos Alves, 4º Distrito de Jaguari,RS e faleceu, solteira, dia 27/06/2006, aos 97 anos de idade, na Clinica Geriátrica N.S. Lourdes, em Sta Maria, devido à insuficiência cardíaca e respiratória. Ao 16 anos sentiu a dor da perda da irmã primogênita Adélia, com 18 anos de idade, vítima de pneumonia aguda. Aos 22 anos, perdeu a mãe, D. Virginia Simmi, vitima de câncer uterino, ficando responsável, junto com seu irmão Olindo(Olinto) pelos irmãos menores e pelos negócios da família, já que seu pai Marcírio tinha o hábito aventureiro de tomar rumo desconhecido e viajar pelo mundo a fora. Eram 10 irmãos na família: Adélia(*1907/+1925), Idalina(1909/+2006), Olindo (1912/+2002), João(Joanete)(1914/+2004), Pedro(1915/+2008), Antonio(1917/+1985), Geni(1919), Zeferino(1923), Nair(1925), Ireno(1932/1972). Gostava muito de baile e dançava com leveza, despertando o interesse de muitos moços de sua época. Era muito severa no tratamento com seus pretendentes a namoro. Certa vez um deles tentou pegar sua mão e logo recolheu dizendo que, para homem, não se dava confiança, nem mesmo depois de casada. Tal atitude ia melindrando seus conquistadores, mas mesmo assim teve paixão por um deles de nome Eugenio Edder(Oigne). O rapaz foi acometido de uma turberculose incurável e veio a falecer em breve. Em sinal de luto permanente, Idalina não conseguiu se relacionar com nenhum outro moço de sua idade. Ficou absorvida no trabalho da casa cuidando dos irmãos menores e costurando para a família e para outros, pois havia aprendido a arte de costurar com Dona Gema em curso promovido por sua avó Marcolina. Ficou na companhia dos irmãos até a idade de 47 anos quando então foi morar na cidade de Jaguari onde seu pai Marcírio havia comprado uma chácara no sopé do obelisco da cidade. Passou a costurar profissionalmente e, ao mesmo tempo, ensinar meninas”aprendizes” na arte de corte e costura. Seu pai Marcírio tinha a subsistência do arrendamento de propriedades no Rincão dos Alves. Tinha paixão por andanças, mas, devido à idade avançada, abandonou as viagens de aventura. Na bagagem para Jaguari, Idalina trouxe sua sobrinha Neusa(5), filha de Antonio, compondo o trio morador da chácara. Mais tarde veio morar na família, Vladimir Feliciani Machado(5), Filho de seu irmão caçula- Ireno, que havia se separado de sua esposa Oraci. Aos 21 anos de Idade, sua sobrinha Neusa casou-se, indo morar em Santa Maria. Aos 17 anos de idade, Vladimir foi devolvido ao controle do pai que morava no Rio de Janeiro. Veja trajetória de Vladimir noutra seção. Idalina, já morando sozinha em Jaguari, em 1966, foi convidada pela sobrinha Neusa para morar na companhia do casal Neusa e Hermes Bressan em Santa Maria, com eles ficando 40 anos, até 2006 quando veio a falecer com 97 anos de idade.
                       Eis a evolução da fisionomia da Idalina nas diferentes etapas de sua existência.


84 anos          (86)                         (94)                       (96)                      (97)

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