segunda-feira, 21 de março de 2011

X - RELIGIÃO, MISTICISMO E FÉ

Religião,Seitas,Crenças e Crendices
 

  Qual povo não tem seus gurus ou guias espirituais ? A maioria das pessoas acredita na existência de um ser superior a comandar as ações de cada indivíduo. Cada povo tem seu Deus, sua Divindade, seus guias, seus protetores, seus mágicos, seus líderes, seus ídolos espírituais(Santos de devoção), suas crenças. O povo de Rincão dos Alves sempre seguiu a orientação da Igreja Católica – baseada nos ensinamentos de Cristo, tendo como base a Igreja Católica Apostólica Romana. Apesar de já cultuar esta religião na localidade, foi reforçada com a vinda dos imigrantes Italianos, alemães e outros que trouxeram na bagagem imigratória os hábitos religiosos de mesma linha espiritual. A religiosidade desse povo iniciou efetivamente com o trabalho dos missionários, após a intervenção dos jesuítas. A exemplo da imigração italiana que, ao chegar no local de assentamento, uma das primeiras construções seria o templo: capela, igreja. Rincão dos Alves construiu sua capela e, mais tarde, a igreja São João Evangelista – o padroeiro da localidade. Ali era rezada uma missa por mês ou quando havia festa em sua homenagem ou evento religioso especial como casamento, cerimônia fúnebre de alguém de destaque . No mais das vezes era rezado o terço regido por leigos treinados por sua vontade própria. A religião constituiu-se, ao longo da história, um porto seguro para as pessoas de fé, principalmente as tementes a Deus. Tal assertiva se respalda nos ditos comuns como: Até amanhã, se Deus quiser ! Se Deus quiser, amanhã farei um bom negócio ! Aquilo foi terrível – um Deus nos acuda ! Em italiano: Dio Santo ! Santo Dio ! Estes hábitos eram passados de geração em geração, porém tem havido uma invasão de outras seitas ou religiões, de modo a dividir os fiéis católicos com outras tendências espirituais, apesar de prevalecer a católica, base da espiritualidade do local.

                                 Igreja São João Evangelista


  Esta igreja foi construída no local onde já havia uma capela e inaugurada em 1943. Estavam presentes ao evento o Prefeito Municipal de Jaguari, Sr. Miguel chimileski, o vigário Pe. José, autoridades da cidade, construtores, contribuintes e fiéis em geral. Esta capela tornou-se o cartão postal de Rincão dos Alves, como se pode observar na capa desta publicação.





Mitos e Assombração
 

  “No creo em brujas... Que las hay, las hay...” Em todo lugar, principalmente no interior de município onde a população é menos densa, cria-se um mito(mistura de medo com pavor) em torno de aparições noturnas, ruídos sem conhecer a origem, vozes estranhas vindas de todos os lados, tudo isso deixando o indivíduo baratinado e sem saber o que fazer. O medo toma conta dele causando arrepios e calafrios obrigando a correr sem rumo ou retornar à origem, ficando sem coragem para andar à noite. Este fenômeno leva as pessoas a criarem uma exceção aos seus direitos de ir e vir sem serem molestadas. Ora, isso está escrito no ordenamento jurídico mas não na cartilha da mente. As pessoas são levadas a dizer que o lugar ou a casa onde passam está “mal assombrada”. Esta crendice causa pavor, terror e desconforto até naqueles que se julgam mais corajosos. A situação se agrava ainda mais quando um grupo se reúne à noite e começa contar “causos” de assombração. Nestas alturas os corajosos se calam, procurando esconder o medo camuflado que carregam dentro de si. É hora de confirmar a máxima: quem tem..., aperta! - No Rincão, mais de 3 depoimentos já surgiram sobre fatos acontecidos em horário noturno. Um deles aconteceu na encruzilhada próximo à residência de Gentil Machado de Oliveira. Certa vez o próprio Gentil se deslocava para casa, em noite de luar, quando avistou uma mulher encostada na cerca de arame farpado e falava baixinho. Ao chegar perto perguntou se precisava de ajuda. – Apenas disse algumas palavras e disse-lhe que iria encontrar enterrada uma caixa com objetos interessantes. Após isso desapareceu. Passados 2 ou 3 anos, lavrando a terra encontrou uma caixa enterrada, mas não tinha bulhufas. E daí.... É, ficou nisso... - Em outra ocasião um morador do local, Sr. Dário Simmi, em noite de lua cheia, voltava da casa da namorada Neri Peres, e nas proximidades do cerro apareceu um porco , atravessando a estrada. Pegou uma vara e tentava passar por ele, mas o suíno bloqueava seu caminho. Este trecho que fazia em poucos minutos, acabou levando horas tentando se livrar do animal. Ao chegar próximo à casa de seu pai, onde havia uma sanga, o bicho desapareceu. Chegou em casa de madrugada, nervoso e bateu tanto na porta que a quebrou. - Os filhos de José de Oliveira contam que, certa noite, pescavam no Poço Preto(curva do Rio Jaguari, logo abaixo da pranchada) quando, de repente sentiram um cheiro forte de flores aromáticas e as árvores ao redor começaram a se mexer. Ora, causou um pânico e os rapazes deixaram até as linhas na água na promessa de não mais pescar naquele lugar à noite. Os mitos, os azares, o olho gordo, as assombrações, os lugares assombrados, as mandingas, as feitiçarias, os descarrêgos, as bruxarias, os trabalhos das bruxas e feiticeiros, os rogadores de praga, as crenças, as religiões, as seitas, os hábitos religiosos, os costumes de beija-mão, os pedidos de bênção aos mais velhos passaram a integrar o tropel de lembranças dos rinconenses. A reza do terço, participação da missa dominical, o hábito das orações antes e depois das refeições, tudo isso já está integrado a cultura do seu povo. O olho gordo também não ficava a dever – lá estava ele presente nas ações do Tio Lolô. Criou-se um mito em torno dele sobre sua vontade de realizar negócios com animais ou objetos de estimação de outros. Quando se agradava de um animal e mostrava desejo de possuí-lo, mesmo que o dono não quisesse negociá-lo na oportunidade, tinha que se desfazer do bicho, pois se não vendesse, o respectivo morreria ou sofreria de peste ou se inutilizava por acidente. Era colocar os olhos e já estava sentenciado. Tal fama ficou abertamente conhecida e reconhecida de modo que todos da redondeza temiam sua presença onde estavam os animais.

                                       Caso Misterioso
                    ( menina de 5 anos que atravessou o rio)



  Em meados do ano 2000, uma menina de 5 anos de idade acompanhava sua avó e outro irmão numa visita a uma amigo. Durante a visita, a menina, que brincava no pátio com outras crianças desapareceu. Todos da família saíram em desespero a sua procura e, de repente, viram os chinelos da menina boiando próximo à margem do rio. Veio logo a suspeita de afogamento. Um dos rapazes nadou até uma pedra no centro do rio e passou a procurar sinais nas proximidades. Dali avistou, do outro lado do rio, alguém que se movimentava no meio da capoeira. Lá chegando, constatou ser a menina procurada. Estava molhada, tremendo de frio e toda suja de lama. Perguntado a ela como havia chegado até lá, atravessando o rio, em lugar onde não “dava pé”, respondeu: “ Foi um tio que me ajudou atravessar”. No local não havia canoa nem sinal de que alguém estivesse por ali. Foi, no entender da família, um fato misterioso ou inexplicável. Para alguns, o tio citado pela menina seria o “Homem de Pala” que havia morrido afogado a poucos metros do local( Este fato foi narrado noutra sessão desta obra) Durante algum tempo foram ouvidas muitas pessoas para tentar explicar o fenômeno, porém nada se apurou. Os representes da igreja católica não admitiram explicação espírita sobre o caso, mas as evidencias não descartam tal suspeita. Passou, então, a ser um caso misterioso.





A Fama da Cigana Anita
 

  Ainda nos anos 50 uma família de nômades – ciganos – passou a morar por longo tempo no Rincão dos Alves, nas proximidades da atual Escola João Alves Machado, conquistando a amizade e simpatia dos moradores. A esposa do cigano chefe usava a magia de “Ver La Suerte” e por isso despertava o interesse dos jovens, homens e mulheres, em saber com quem iriam casar-se. A freqüência à casa da cigana Anita era intensa e, mesmo não coincidindo as previsões anunciadas, os consulentes ficavam curtindo a expectativa de um bom partido no namoro ou casamento. Veja a foto, a seguir, da família de ciganos acompanhada de Santo Picolo e esposa Alzira Machado:
Foto: 1940: Atrás: Alzira,Anita, Cigano1,Cigano2, Santo Picolo,Amig1,Amigo2
                                            Frente: Cigana c/filho, mais 5 filhos de cigano.
           



Os Benzedores


  Havia benzedura para todos os males do corpo como: dor de cabeça, distensão muscular, picada de inseto(aranha, escorpião, marimbondo), cobreiro(provocado por lesma, sapo, largarta), erupções da pele provocada por aroeira, polens e outras formas de alergia, picada de cobra, mordida de animais domésticos, outros. A prática da benzedura recaía em pessoas sensíveis a essa crendice na qual se atribuía fé e obtinha bons resultados. Não havia pagamento, mas troca de favores em objetos ou serviço. Dentre os que exerciam esta arte da fé estava Dona Marciuniria, que também era Lavadora de Roupa e Pedro Prudente, como era conhecido, porém havia outros amadores operando em âmbito familiar.




Olho Gordo ou Olho Grosso


  A luta entre o bem e o mal já remonta desde o Velho Testamento. No mundo dos mortais há quem acredita nas bruxas, nos feiticeiros, no feito dos maldosos, nos benefícios das Benzeduras, etc., porém, outros nem tanto. Tudo não passa de imaginação ou mitos criados pelo próprio indivíduo. Seja lá o que for, a reincidência de fatos, as evidências dos acontecimentos e o desfecho final levam as pessoas a não descartarem tais fenômenos. Há gente que não acredita em Olho Gordo ou Olho grosso, mas há exemplo de indivíduos com poderes sobrenaturais que, basta um olhar ou a insatisfação de seus desejos, para levar à desgraça quem contraria suas intenções. Por exemplo, se chegasse Tio Lolô na casa de um vizinho e se agradasse de um animal ou objeto, propondo compra e o dono dissesse não estar a venda, era prejuízo certo. Se fosse animal, morreria dali a poucos dias. Se objeto, quebraria no manuseio ou deixaria de funcionar. Certa vez chegou na casa de uma família de origem alemã, lado direito do Rio Jaguari, e viu um galo de rinha no terreiro. Ao saber que havia pedido emprestado para reprodução, pediu por sub-empréstimo, sendo negado pelo responsável pelo galináceo. Três dias depois, o galo, que esbanjava saúde, caiu morto no meio do terreiro.




Bruxaria


  Era costume da população dizer que, quando algo desejado não acontecia, havia sapo enterrado, trabalho de feitiçaria ou bruxaria. Numa cancha de carreira, quando o favorito ficava atrás ou perdia a corrida, diziam que fizeram bruxaria, manearam um sapo na trilha do favorito. No jogo de futebol, se o atacante não conseguia vazar o goleiro, diziam que havia sapo enterrado debaixo da goleira.




Crendices populares


  Mulher que varrer de noite e não deixar o lixo atrás da porta, vai ficar viúva em breve. Abrir o guarda-chuva dentro de casa, provoca tempestade. Se passar debaixo de escada móvel, não vai casar. Fica solteira(o). Quando ver a lua nova pela 1ª vez, faça o sinal da cruz para se livrar da picada de cobra. Na visita, se entrar pela porta da frente e sair pelos fundos, não mais voltará àquela casa. Debaixo de aroeira brava troque a saudação: de manhã diga boa tarde e VV. Se não fizer, a irritação da pela será inevitável. Evite a queda de raio – Diga: Santa Bárbara , após o relâmpago ! Se der tempo... (Santa Bárbara e São Simão – nos livrem deste trovão !) Se for pedir algo em qualquer casa ou repartição, acesse o 1º degrau ou portal com pé direito. Dá sorte !

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