segunda-feira, 21 de março de 2011

XIII - ATOS HERÓICOS E AVENTURAS

                                         Heroismo de uma mãe

  Na grande enchente do Rio Jaguari, em 1941, uma família com 3 (três) filhos, moradora nas margens deste Rio, foi surpreendida com a subida rápida do seu nível. Dona Cecília Marques, de apelido Porfíria, depois de ilhada, só teve tempo de pegar seus três filhos: Valdemar(7), coruja(5) e o pequeno (3) e subir numa árvore – um velho Alecrim e ali ficou durante três dias, sendo ameaçada de ser levada pela correnteza. Os vizinhos e parentes tentavam chegar de canoa ao local e desistiam de chegar ali devido a fúria das águas. Contam os expectadores que não conseguiam entender como essa mãe mantinha as crianças alertas e presas à árvore para não serem levadas pela correnteza. Os galhos do alecrim se curvavam a todo instante ameaçando arrastar os pendurados. A angústia daqueles que assistiam à iminente tragédia parecia ser da mesma intensidade daquela vivida pela mãe e seus filhos. Outro questionamento que intriga a qualquer pessoa se refere a fonte de energia para suportar tanto tempo sem cochilar, sabendo que qualquer descuido era fatal para aquela família! Em fim, as águas baixaram e os flagelados foram resgatados com vida. Foi uma vitória inexplicável! Um fato real que teve um final feliz! Por ironia do destino, o marido de dona Porfíria, que havia ficado fora daquela agressão da natureza, mais tarde, em 1984 foi tomado de surpresa na casa onde morava e morreu afogado, sozinho, no teto de sua casa. Dali não pôde sair a tempo de fugir da invasão das águas.

                                     Exemplo de Superação


  Há um dito popular ou ditado que diz: “Só damos o devido valor ao que nos pertence quando os perdemos” ou ainda: “Eu era feliz e não sabia”. Quantas vezes negligenciamos o cuidado com nossos pés e pernas, mãos e braços!. Arriscamos imprudentemente nossos órgãos de ação e locomoção como se fosse fácil substituí-los. Quem opera máquinas e equipamentos deve conhecê-los e tratá-los com maestria para não sofrer as conseqüências do seu mau uso. Deve o operador perceber que uma falha sua pode causar irreparáveis danos. Foi o que aconteceu com o Sr. João Antonio Rosa, quando tinha 16 anos de idade perdeu o braço esquerdo na correia do Engenho de Serra em que trabalhava. Houve tentativa de reimplante pelo Dr. Edú Marchiori da Silveira, porém os procedimentos médicos e as condições do acidente não contribuíram para o sucesso da operação. Ficou definitivamente sem o braço, mas isso não o impediu de ser um trabalhador produtivo e procurado pela maioria dos empregadores rurais. Trabalhava em igualdade de condições com outros parceiros e nunca se queixava de sua deficiência física. Ao contrário de muitos que, na falta de um dedo ou de uma mão, se jogam nas cordas alegando incapacidade para o trabalho. O Sr. João Antonio buscou alternativa, transferindo energia para outros membros atuantes, de modo que nunca rejeitou serviço, apesar da ausência do braço. Tornou-se uma pessoa estimada e exemplo de superação, além de ser um exemplar chefe de família. Veja a genealogia: Rosa II, página 78.(Fonte: Valdir Machado Kraetzig).



Marcírio e suas Aventuras
 

  Marcírio Machado de Oliveira nasceu em 06/06/1880 na localidade de Rincão dos Alves, 4º Distrito de Jaguari, filho de João Alves Machado e Marcolina Campos de Oliveira, o 4º filho de uma prole de 13 irmãos. Foi alfabetizado por pessoas contratadas na localidade e desde logo manifestou sua predestinação em buscar conhecimentos através da leitura de folhetos, jornais, revistas e livros. Nos bancos escolares não passou do equivalente ao 1º grau de hoje em razão da necessidade de ajudar a família nos afazeres da lavoura, criação de gado e extração de madeira. Lá por volta de 1907 contraiu matrimônio com Verginia Simmi, imigrante italiana, com quem teve 10 (Dez) filhos: Adelia, Idalina(Dilina), Olindo(Olinto), Pedro, João(Joanete), Antonio, Geni(Genita), Zeferino(Neno), Nair e Ireno(o Caçula). Alguns anos depois de casado, se estabeleceu com comércio de Secos e Molhados na Casa onde morou por longos anos seu filho Olindo.(Hoje lá moram a viúva de Olindo – Pina e o filho José de Oliveira com sua família). Ali comercializava produtos diversificados visando a atender as necessidades da população. Sua venda era abastecida por produtos vindo de fora como Cacequi, Rosário do Sul, São Gabriel, Livramento e Jaguari, trazidos por carreteiros que saíam do Rincão dos Alves levando madeira bruta ou beneficiada em forma de apetrechos de carreteiros, derivados do leite e carne(charque e embutidos). Os negócios iam bem, porém alguns percalços de família e a própria rotina do comércio mexeram com seu procedimento de vida. Deixou o Bolichão de Campanha por conta dos filhos e família e passou a viajar por este Rio Grande a fora. Saía sem dizer para aonde ia. Chegava a ficar 4 a 6 meses fora de casa sem saber aonde se encontrava. Quando retornava, cheio de saudade da família, sem dinheiro, só com a roupa do corpo, relatava sua viagem, locais onde parava, o que fazia e como vivia. A cidade de Porto Alegre era seu lugar preferido para ficar. Se encostava numa empresa e ali prestava serviços de Ofice Boy, servia cafezinho, serviços de cozinha. Nas horas de folga lia os jornais e se informava de todo movimento político da época e debatia assuntos da conjuntura nacional pois vivia no mundo da informação. Depois de algum tempo na sede, não resistia o ímpeto de voltar para aquela vida urbana de Porto Alegre. Procurava juntar alguma grana e de repente, sorrateiramente se evadia, sem dizer para onde. Assim ia levando a vida, de modo que os negócios já estavam por conta da Dona Virginia e Filhos. Em uma dessa saída do Rincão do Alves, pediu emprestado o cavalo do filho Olindo para ir a Taquarichim sem dizer que ia tomar o trem para Porto Alegre. Deixou o cavalo com a rédea atada em uma árvore e ali amanheceu, despertando a curiosidade dos moradores de quem era aquele animal. Descobriram mais tarde tratar-se de cavalgadura dos Machado do Rincão dos Alves. Avisados, foram buscar o animal que já passava sede e fome. Noutra saída, os filhos fizeram a colheita e entregaram os produtos nos armazéns de Atilio Sesti em Jaguari, porém, os louros dessa safra foram colhidos pelo Seu Marcírio que reembolsou a grana e saiu por aí. Ficou mais uma temporada fora até que terminasse o dindim. Em 1939, retornou de uma de suas viagens e encontrou sua esposa muito doente, vítima de um câncer no útero, quando então passou a cuidar dela até sua morte que ocorreu três meses depois de sua chegada. Em seguida ao seu falecimento passou a viajar novamente sem dizer para onde ia. Quando chegou a data marcada para sua filha Nair contrair matrimônio com Mário Flores de Oliveira, havia necessidade de autorização do pai, devido à menoridade da noiva. Seu Marcírio estava em lugar incerto e não sabido. Sua localização foi orientada por pessoas conhecidas dele na cidade de Jaguari que se fizesse uma procura por jornal da capital - O tradicional “Correio do Povo”. Alguns dias depois Sr. Marcírio, tomando conhecimento do anúncio, mandou uma autorização de Curitiba-PR, de modo que a filha pôde casar, porém, sem a presença do pai. Depois de 65 anos de idade, foi perdendo a vontade de viajar, em vista do peso dos anos e passou a viver numa chácara ao pé o Obelisco de Jaguari, próximo ao Passo do Tigre. Ali morou com sua filha Idalina, costureira de profissão, mais sua neta Neusa, filha de Antonio, com 3 anos de idade. Ali tinha vaca leiteira, horta e um lindo pomar. Tornou um ponto de recepção das famílias que vinham do Rincão dos Alves fazer compra ou consulta médica na cidade e se alojavam e se hospedavam, porém, muitos traziam produtos da colônia para ajudar na alimentação. O local, fértil na agricultura, porém minado de sócios indesejáveis: Gambá, Ouriço, cobras venenosas, lobo do mato, bugios, etc. Em noites quentes, era comum o transito das víboras pelo terreiro do Seu Marcirio e Dona Idalina, mas ninguém foi atacado por estes estranhos moradores. Apenas insistiam em dividir a colheita de banana, uva, etc. sem que tenham contribuído para sua produção. Esta espécie continua explorando os colonos até os nossos dias, todavia surgiram outras categorias mais danosas no mundo dos racionais. Por volta de 1950, seu filho Antonio comprou uma casa geminada na esquina da Av. 7 de Setembro e Rua do Bonato, para onde o trio se mudou, de mala e cuia, deixando a velha morada meio abandonada, ainda sob o olho do dono e de um guri, engordando a vaca para gerar leite. Marcírio era um relações públicas e tinha transito livre com as autoridades locais, principalmente com o juizado de menores, onde conseguia meninos infratores para cuidar das vacas leiteiras. Em contra partida dava alojamento, alimentação e mantinha matricula na escola. Já mais velho, cabelo grisalho, pernas meio cambaleando, passava de vizinho em vizinho contando histórias e estórias, relatando fatos de suas leituras e conhecimentos políticos numa forma de passar o tempo e cultura aos que gostavam de sua prosa. Seu estilo de homem simples, coração aberto, pele escurecida pelo tempo, mas parecia um descendente afro, com feições de homem branco. Com esta descrição fazia lembrar a figura descrita em versos por Jaime Caetano Braum, um dos maiores pajadores gaúchos, na poesia “Tio Anastácio”. Eis o texto: “Ficou sendo um destes índios Que se encontram nos galpões Ao derredor dos fogões Fala aos moços com paciência Do que aprendeu na existência Ao longo dos corredores Alegrias, Dissabores Curtidos pela experiência”. Gostava de contar estórias e história a sua neta Neusa, a quem chamava Nelza, bem como recitar versos de obras famosas de Castro Alves e Cassimiro de Abreu, principalmente, Meus 8 Anos: “ Ai que saudade que tenho; Da aurora de minha vida; De minha infância querida; Que os anos não trazem mais; Que amor, que sonhos, que flores; Daquelas tardes fagueiras; à sombra das bananeiras; Debaixo dos laranjais”; De tantos contos e histórias, a ouvinte, às vezes, adormecia feliz pela caricia de suas palavras invadirem seus ouvidos de forma maviosa e instrutiva. Nas suas rodas de chimarrão com os visitantes e conterrâneos se desenrolava num tom de saudade e boas recordações, sem tocar em discórdias que por ventura tenham acontecido no passado. Assim era Marcirio – o homem das viagens inesperadas. Chegou aos seus 82 anos, junto com uma enfermidade que alterou o processo metabólico/intestinal. Os medicamentos não controlaram sua doença. O seu enfraquecimento acentuado levou ao óbito em pouco tempo, partindo para outros planos em 23 de julho de 1963, depois de retornar ao seu Rincão dos Alves para onde pediu que fosse levado na esperança de encontrar a cura. O tempo transcorreu e Marcírio contou muitas histórias e estórias, porém não revelou os motivos dos seus freqüentes e prolongados afastamentos da família sem dizer o rumo que tomava. Supõe-se que essa atitude estranha tenha origem no trauma sofrido quando perdeu sua filha primogênita Adélia ainda na tenra idade – 18 anos.

                            Ireno Machado e sua trajetória


  Ireno Simi de Oliveira ou simplesmente Ireno Machado nasceu em 1935 no 4º Distrito de Jaguari, Rincão dos Alves. Já desde menino mostrava-se talentoso no manuseio de instrumentos musicais como gaita ponto, violão e pandeiro. Nos bailes, animados por seu irmão Antonio Machado de Oliveira, era o pandeirista. Mas tarde aprendeu a tocar violão, por conta própria, sem qualquer instrução de terceiros, porém, depois de aprender melhor recebeu aulas de outros mais experientes. Não demorou em aprender acordeon, do tipo 8 baixos e pianada – teclado. Gaita ponto não lhe agradava muito, por isso não se interessou em usá-la. Por isso deixou para seu irmão João(Joanete). Tentou formar parceria ou dupla com outros colegas músicos, mas não prosperou. Seguiu sua carreira solo. Casou muito jovem com Oracy Feliciani, professora municipal, com quem teve dois filhos: Vladimir(1952) e Edemir(1955). Vladimir, aos 5 anos de idade, com a separação de seus pais, foi morar com sua tia Idalina Simmi de Oliveira, na cidade de Jaguari, onde ficou até os 16/17, quando saiu para morar com seu pai no Rio de Janeiro. Já vivendo da profissão de músico, Ireno fazia apresentações ao vivo, vocal e instrumento, em rádios de Santa Maria, Jaguari, Uruguaiana, São Francisco de Assis, Livramento, Porto Alegre,etc. Tornou-se um exímio acordeonista que, aliado ao seu vestir elegante e charmoso, encantava as mulheres de todas as idades. Muitas delas, mesmo vivendo em famílias de postura exemplar na sociedade, não conseguiam resistir ao charme e encanto do artista da gaita, deixando-se levar pelo impulso de uma aventura imprevisível. Para se livrar do assédio local, foi morar em Porto Alegre, onde, após 2 anos de apresentações, conseguiu gravar um compacto de 8 músicas, todas de sua autoria-voz e instrumental próprio. Aos 40 anos, passou a morar no Rio de Janeiro, onde conheceu Luzia com quem se casou oficialmente, porém o convívio não foi muito longe, não só devido ao seu envolvimento com o mundo artístico, o que despertava ciúmes em sua mulher, mas a presença dos novos integrantes da família. Nessa época, seus dois filhos Vladimir e Edemir já moravam no Rio, com alternância no mesmo teto. Passou então a conviver com outra companheira, porém em tetos separados, constituindo-se num relacionamento não muito amistoso, obrigando-o a se envolver em discussões possessivas. Disto resultou na elevação da sua pressão arterial, culminando com um AVC fulminante, tirando-lhe a vida aos 42 anos de idade em fevereiro de 1972. Era vontade dos filhos a cremação do corpo do pai cujas cinzas seriam depositadas no fole de sua eterna companheira – a velha gaita das inesquecíveis serestas e Shows por onde andava. Por fim, seu sepultamento se deu no Cemitério do Cajú, Rio de Janeiro, onde jaz em descanso eterno, revivendo a saudade de todos que o amavam. E como última homenagem ao músico, foi colocada uma fotografia onde repousa debruçado sobre o acordeon, no túmulo de sua irmã mais velha – Idalina Simmi de Oliveira, no Cemitério do Rincão dos Alves – 4º Distrito de Jaguari-RS. Apesar de talentoso na composição e interpretação de músicas regionalistas gaúchas, em poucos acordes desenvolvia produção de outros ídolos e interpretes de qualquer período. Viveu numa época de elevada concorrência com outros músicos do seu tempo, o que se lamenta não ter vivido um pouco mais para alcançar a explosão dos Festivais da Canção Nativa que invadiu o Rio Grande poucos anos depois. Houve um aprimoramento nas composições musicais, abrindo um mercado abrangente e promissor no mundo da discografia, no qual Ireno teria, com certeza, espaço reservado. Faleceu sem realizar seu sonho - ser um seguidor de Mariosan, Irmãos Bertussi, Gaucho da Fronteira e tantos outros ídolos do seu tempo.




Trajetória do Vladimir
 

  Filho de Ireno Machado e Oracy Feliciani, nascido a 18/07/1950, aos 5 anos passou a morar com sua tia Idalina, devido à separação de seus pais. Estudou até a 4ª série do primário na Escola Guilhermina Javorski em Jaguari,RS, sempre com bom rendimento escolar. Foi estimulado a fazer a prova de Admissão ao Ginasial, sendo aprovado, porém, em paralelo passou a estudar desenho pelo curso do Instituto Universal Brasileiro. Encarou a tarefa com seriedade, respondendo prontamente as questões recebidas pelo correio, de modo que recebia menção honrosa nas avaliações periódicas. Aprendeu a arte de desenhar rapidamente, passando a fazer caricaturas e esboços reais de amigos e vizinhos, demonstrando o gosto pela arte escolhida. Reproduzia revista em quadrinhos com facilidade, demonstrando talento no manejo do lápis e do pincel. Na fase de menino-adolescente, já não obedecia mais à sua tia Idalina que, providenciou na devolução ao seu pai que morava no Rio de Janeiro. “Leva, dizia ela, que o filho é teu”!. Em 1966 Ireno, que morava sozinho no Rio, veio à Porto Alegre buscar o Vladimir que Idalina tinha levado de Jaguari. Nessa época, mantinha bons contratos em rádios do Rio divulgando sua música e animando festas de aniversário e casamento. Porém, com advento da Revolução de 31 de Março de 1964, os programas patrocinados pelo PTB na liderança do Presidente João Goulart e Leonel de Moura Brizola, foram retirados do ar, prejudicando as suas apresentações em veículos de comunicação ao vivo e gravado. Os recursos começaram a escassear, dificultando a escola e a manutenção de Vladimir. Ireno conquistou uma amizade sólida com o Tenente Argemiro Nascimento Lopes, natural de Santiago,RS, pai do Jornalista “Tim Lopes”, assassinado num baile funck no Rio de Janeiro. Tenente Argemiro conseguir internar Vladimir na FUNABEM, não como menor infrator, mas aluno sem recursos em Escolas do CIEP. Estudou no meio de marginais perigosos e ameaçadores; entre eles fizeram um acordo de não molestar o poeta e artista das imagens que a todos brindava com seus bem definido traços reproduzindo fotos e caricaturas dos internos. Não suportando a pressão do ambiente, abandonou a instituição e passou a morar com a mãe Oraci, junto com seu irmão Edemir, que tinha ido morar no Rio para apoiar seus dois filhos tão logo ocorreu morte de seu ex-marido Ireno. Vladimir estava se deixando dominar pelo liberalismo do mundo Hyppie, vivendo de pequenos trabalhos de arte e descuidando da aparência pessoal. Sua mãe oraci conseguiu retomar o controle das ações, quando conseguiu um trabalho na empresa aérea Cruzeiro do Sul como auxiliar de carga e descarga de bagagens. Lá não ficou muito tempo devido à dois motivos: o primeiro, quando controlava a distribuição de bagagem na parte dianteira da aeronave, dividiu mal a carga e o avião tocou o bico no chão, por isso deixou de exercer esta função; o segundo, ao curtir uma praia, dormiu demais em sol forte, esquecendo do tempo; além de levar uma queimada, chegou atrasado ao emprego, resultando num cartão vermelho da empresa. Com esforço da família conseguiu concluir o 2º grau e preparou o vestibular na UFRJ na área das Ciências e Artes Plásticas, opção desenho, gravuras, reproduções visuais e artísticas. Tão logo se formou, passou a integrar o quadro de docentes da própria UFRJ, iniciando como Prof. Auxiliar, seguindo como Adjunto e Titular. Fez Pós-Graduação, mestrado e doutorado na sua disciplina, tornando-se o único a ostentar o título de “Doutor” em toda sua família Machado, Oliveira, Feliciani e Simmi. Tem participado de inúmeras exposições de artes de caráter local, nacional e internacional. Tem feito exposições em São Paulo(Bienal), Rio e em Paris-França. Alguns de seus trabalhos gráficos já fizeram parte de cenários das novelas da Rede Globo de Televisão, conforme entrevista realizada em seus estúdios. Para chegar até essa posição privilegiada, a vida cobrou-lhe um pesado sacrifício, o que permite acrescentar em valor diferenciado a sua triunfal conquista. O primeiro, aos 12 anos de idade, passou a fugir do controle de sua tia Idalina. Estudava em Jaguari, turno da manhã e, logo após o almoço desaparecia das redondezas da residência e se perdia na imensidão do Rio Jaguari, buscando ambiente de diversão na companhia de colegas de aula e amigos. Em razão disso, devolveu o menino-adolescente ao seu pai que morava no Rio. Lá foi ele de mala e cuia. Mais tarde foi para lá também seu irmão Edemir. Com o falecimento do pai, Vladimir e o irmão ficaram sem apoio da família de sangue por um tempo até a chegada da mãe. Havia apenas a companheira de seu pai, Dona Nilde Ferreira que, por algum tempo, acompanhou os enteados na sua adaptação à vida de órfãos parternos. A morte do titular da família gerou uma pensão para a ex-esposa e para os meninos. Nilde Ferreira, um pouco mais velha que Ireno, freqüentava um Centro Espírita e tinha poderes mediúnicos e, acima de tudo acreditava no encaminhamento dos meninos em ambiente seguro. Idealizou uma viagem a Porto Alegre, mais precisamente a Viamão-RS, onde morava dona Oracy, mãe de Vladimir e Edemir, a fim de convencê-la a ceder a parcela que lhe cabia por pensão em favor da educação e sustentação de seus dois filhos que moravam no Rio. Este redator estava presente, juntamente com Idalina e Geni, irmãs de Ireno, momento em que Dona Oracy concordou na doação, Dona Nilde entrou em transe e passou a dar “passe” nas pessoas que estavam ao seu redor, porém antes, pediu-me um copo de água e sem beber, deixou reservado numa mesa. Em cada pessoa que tocava, dizia seus problemas e seu futuro, bem como qual providencia tomar. Passado mais de meia hora, segurou o copo de água, posicionou-se de costa para a porta e jogou a água fora por cima de sua cabeça, momento em que a entidade se desencarnou. Disse Nilde que aquela transformação era uma medida de socorro solicitado por ela ao sair de casa no Rio. Confirmou que ao sair do Rio, pediu apoio aos seus mentores e assistentes espirituais para que a acompanhasse nas suas tratativas. Se tivesse dificuldade em resolver os assuntos programados, eles estariam presentes para ajudá-la. Esta é a explicação daquele “furdunço” que se gerou num sábado á tarde de fevereiro de 1972 na residência de Dona Oracy em Viamão-RS. Em fim, missão sua cumprida e lá foi Nilde levando apoio aos meninos. Vladimir seguiu seu o caminho de sua vocação – as Artes Plásticas, vindo a casar com a carioca Anita Golub e, desse relacionamento vieram Mariana(1998) e Juliana(2000) ; Edemir, abraçou a cultura gaúcha, trabalhando em restaurante de comida sulina, tornando-se, mais tarde, um embaixador da cultura gaúcha no Rio de Janeiro. Casou também com mulher carioca, tendo com ela também duas filhas. Nilde Ferreira, era de origem portuguesa e tinha toda sua família morando em Portugal. Dizia que pretendia viver seus últimos dias na terra mãe. Não se sabe se isto aconteceu. Mas fica a lembrança e o reconhecimento da família Machado, iniciando pela Geni, irmã de Ireno, Vladimir e Edemir, filhos e D. Oraci, e tantos outros parentes, aos relevantes serviços de apoio dado por ocasião do internamento e assistência junto ao enfermo e, posteriormente nos seus funerais. Ela assumiu tudo, tanto em despesas gerais quanto em apoio moral, uma vez que Ireno não dispunha de qualquer plano de saúde. Nilde procurou manter um relacionamento de amizade mesmo após a morte de Ireno, vindo inúmeras vezes visitar D. Geni em Canoas-RS, porém, dois anos depois, o endereço deixado por ela não atendeu mais os contatos indicados. Esteja onde estiver, terá o eterno reconhecimento da família de Ireno! No resumo desta trajetória, pode dizer que Vladimir teve muitas mães. A biológica, D. Oraci; Idalina, a tia; Luzia, a madrasta1; a Nilde, a madrasta2. Este tortuoso caminho que o levou ao um final feliz traz uma mensagem de alento: as dificuldades da travessia de qualquer obstáculo enriquecem o aperfeiçoamento intelectual e cultural do individuo. Tudo isto permite confirmar o slogan de que Deus escreve certo por linhas tortas.




JOÃO ERNESTO KRAETZIG - O EXPEDICIONÁRIO
 

  Quando nossa Pátria se sentiu ultrajada pelos constantes ataques e torpedeamento de navios mercantes pelos nazistas na costa brasileira, o governo de Getulio Vargas reagiu e constituiu a Força Expedicionária Brasileira. Houve um chamamento dos patriotas, militares e civis, e entre eles, voluntariamente se apresentou João Kraetzig morador de Rincão dos Alves, margem direito do Rio Jaguari. Ingressou no Quartel do 4º RC – Regimento de Cavalaria, em Santiago onde iniciou o treinamento para integrar a FEB. Em 1943 embarcou, junto aos demais integrantes da Região, em um trem que os levaria até o Rio de Janeiro e logo para Recife onde tomariam o Navio com destino ao Teatro de Operações na Itália. No Rio de Janeiro, na frente do Palácio do Catete, Getulio Vargas falou à tropa justificando o ingresso do País no conflito – 2ª Guerra Mundial, encorajando os soldados a defenderem com denodo e heroísmo a nossa soberania. Desembarcaram em Nápoles e se apresentaram a 6ª Frota Americana onde receberam fardamento e símbolos que os identificavam na força Aliada :Brasil, Estados Unidos da América e Rússia. Como se sabe, lutavam contra os países do Eixo, formado pela Alemanha, Itália e Japão. Poucos meses depois de treinamento, João foi ao Front combater contra os patrícios alojados em uma montanha. As rajadas de metralhadores nunca cessavam, mas não intimidavam os brasileiros que avançavam confiantes. Na patrulha de João havia dois primos de Getulio Vargas – Arlindo e Orestes Muller Vargas, os quais numa investida contra os alemães conseguiram se apossar de 2 metralhadores: Uma (0.50)(Americana) de 600 tiros/min e outra de fabricação alemã(Thomson) de 1200 tiros/min. Durante o conflito João foi ferido no ombro e foi recolhido à enfermaria, ocasião em que mandou fazer uma fotografia sua e mandou para seus pais em Jaguari com os dizeres:” Remeto este retrato para meus pais, caso eu não volte da guerra, fica como lembrança. Se voltar vivo, quero-a de volta para minhas recordações”. E logo a seguir está uma cópia dessa fotografia, envolta pelo símbolo da República Federativa do Brasil. João esteve à disposição dos Exército Brasileiro cerca de 5 anos e 8 meses. Na linha de Frente esteve 3 meses e 28 dias. Retornou, depois de terminada a guerra, em 30 de agosto de 1946, receoso de não ser bem recebido, pois havia sito taxado de cruel por lutar contra seus patrícios, principalmente por se apresentar voluntário para combatê-los na Itália. Na época da guerra a população de origem alemã e austríaca era discriminada e ameaçada na sua liberdade. Todos eram vigiados com proibição de fazer reunião social ou de família ou outros encontros. Ao Chegar em casa de seus pais, João foi surpreendido com a grande recepção de boas vindas. A festa foi tão grande que se esqueceram de soltar os fogos de artifícios adquiridos para esta ocasião.
       No discurso de Getulio Vargas no Rio de Janeiro prometeu amparar as famílias e os participantes do conflito mundial que retornassem vivos. Todavia, João retornou a casa como reservista sem qualquer remuneração nem plano de saúde. Mais tarde, graças a uma proposição do Deputado Adilson Motta, através da Associação dos Ex-Pracinhas, foi estendida assistência médica do IPE a todos os veteranos da 2ª Grande Guerra, ainda no Governo de Alceu de Deus Collares. Em 1978 foi acometido de trombose em uma das pernas, quando o corpo clinico de Santa Maria emitiu parecer que a solução seria amputar a perna. Não conformado com o diagnóstico, a família buscou recurso no HGPA – Hospital Geral de Porto Alegre quando se submeteu a um tratamento de quase tortura com um peso de 28 kg sobre a pernas – resultado – recuperou a perna e passou a caminhar normalmente. Durante sua enfermidade, julgado incapaz de prover seus meios de subsistência, entrou com um processo de reforma, conseguindo uma reforma(aposentadoria) na condição de oficial de exército, com efeito retroativo desde sua saída das Forças Armadas. Quando tinha saúde para se locomover, João participava das solenidades em homenagem aos heróis da FEB. Veja documento mostrado logo abaixo.






FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA – FEB
 

  Nome dado à força militar brasileira constituída em 09/08/1943, em caráter sigiloso, para lutar na Europa ao lado dos países Aliados, contra os países do Eixo, na 2ª Guerra Mundial. Integrada inicialmente por uma divisão de infantaria, a FEB acabou por abranger todas as tropas brasileiras envolvidas no conflito. Adotou-se como lema:” A cobra está fumando”, em resposta àqueles que consideravam mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. Eis o simbolo:

A FEB perdeu a cerca de 460 soldados cuja ossada permaneceu durante anos no cemitério de Pistóia(Itália). Em outubro de 1960, suas cinzas foram transferidas para o Monumento Nacional dos Mortos da 2ª Guerra Mundial, erguido no Rio de Janeiro, no recém-criado aterro do Flamengo.






Eis algumas recordações da época da Guerra: 1941 a 1946


Veja demais fotos da familia de João Kraetzig em: Kraetzig: 1.1


Obs: “Esta publicação consigna uma homenagem ao herói rinconense por ter aceito o desafio de lutar em defesa dos brasileiros na condição de soldado voluntário contra seus patrícios. As atuais e futuras gerações de sua família sentirão orgulho sempre que se lembrarem dos feitos de João Ernesto Kraetzig na 2ª Grande Guerra integrante da FEB”.



Quem chegou lá !
 

O propósito deste título nada tem a ver com a trajetória inédita no país de um nordestino humilde que, viajando “em pau de arara”, quando criança e, ao cabo de alguns anos, chegou ao topo do desejo de qualquer político – a Presidencia da República. Luis Inácio Lula da Silva – o Presidente Lula, chegou lá. Nossa intenção nesta abordagem não é outra senão eleger os rinconenses que conquistaram espaços em diferentes áreas da atividade humana, indo longe, não tão longe quanto o Presidente Lula. Mas chegou, creio eu, onde nunca imaginavam que poderiam chegar, em virtude das circunstâncias do ponto de partida. Chegar lá não quer dizer: ter o mundo a seus pés. Quer dizer, acima de tudo, no espírito desta seleção, sentir-se realizado onde chegou e com opções de migrar para qualquer outra atividade que também fazia seu gênero. Esta escolha é pessoal e vem da família construtora desta obra. Poderia ser qualquer um dos citados a seguir - Vladimir Feliciani Machado, cuja trajetória está narrada no Capítulo XIII – ATOS HERÓICOS E AVENTURAS - Trajetória de Vladimir, o qual trilhou um caminho de alto risco, se superou e se defendeu de inúmeras ameaças para ostentar o título de Doutor na sua especialidade, conquista essa não registrada entre os conterrâneos rinconenses. Poderia ter sido seu pai, Ireno Machado de Oliveira, que graças ao seu talento conquistou o domínio do seu instrumento musical, porém teve vários tropeços sentimentais que lhe roubaram a vida ainda cedo. Também, no gênero musical, Álvaro Oliveira Feliciani, exímio acordeonista, comandou uma banda - Legenda – por muito tempo, vislubrando uma decolagem no mundo do disco, mas o grupo se defez. Seguiu a carreira solo e se redireciou para atuar em microfone de rádio e no ensino do manejo do teclado. Na política partidária, Álvaro exerceu um mandato de vereador na Câmara Municipal de Jaguari por um período de 4 anos. Na conquista do patrimônio territorial poder-se-ia apontar Santo Scalon Picolo que, aos poucos, foi engordando seu patrimônio até se tornar um quase latifundiário. Santo também exerceu um mandato de 4 anos como vereador na cidade de Jaguari,RS. Paulino Piecha, seguindo caminho semelhante constituiu um patrimônio bem superior a outros da localidade. João Gatiboni Machado, embora começando em nível mais elevado, soube conservar e ampliar as áreas recebidas. Muitos outros poderiam ser indicados, mas quer nos parecer que quem foi mais longe nasceu lá pelas bandas de São Xavier. Deve ter nascido pelos idos de 1941/42 e, desde cedo gostava da lida de campo, de uma boa pilcha e de arrastar a asa para as meninas. Se tivesse que contar nos dedos quantas namoradas teve, iria faltar dedo, mesmo contando os dos pés. No ano de 1.960, ainda civil, foi para a Escola de Sargento das Armas (EsSA), na cidade de Três Corações - MG, aonde fez o curso de formação e aperfeiçoamento de Sargento Artilheiro, sagrando-se no 1° lugar da turma e diretamente da EsSA, veio servir na Segunda Bateria do Regimento Mallet em Santa Maria-RS e sem abandonar os costumes gauchescos, paralelamente ao serviço militar, engajou-se nos estudos, cursando o ginásio e o c1ásico noturnos no Colégio Manoel Ribas. Concluído o Segundo Grau, prestou exames vestibulares para os Cursos de Direito e Economia, sendo aprovado em ambos. Em virtude das dificuldades encontradas para freqüentar o Curso de Direito que era diurno, matriculou-se, também, no Curso de Economia que funcionava à noite, formando-se em Economia no ano de 1.971 e em Direito no ano seguinte, 1.972. Ainda como sargento, juntamente com o saudoso Tenente João Teixeira Porto, esposo de Aristilda Rechia, colaboradora desta obra, teve a oportunidade de declamar poesia no programa: "O Grande Rodeio Coringa", apresentado por Darci Fagundes e Luiz Menezes pela Rádio Farroupilha. No ano de 1.973, prestou concurso para o Ministério Público Estadual e, aprovado, exonerou-se do Exército Brasileiro e foi nomeado Promotor Público, hoje Promotor de Justiça, e, na função de Promotor atuou como titular, pela ordem, nas Comarcas de Cacequi, São Pedro do Sul, Santiago, São Gabriel e Santa Maria e, como Promotor substituto em toda Região Centro-Fronteira, aposentando-se no ano de 1.988, como Promotor de 43 Entrância, hoje Entrância Final. Foi Professor do Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria, lecionando, durante quatorze anos, a disciplina de Processo Penal. Militou no Movimento Tradicionalista Gaúcho, aonde foi Peão, Patrão, Coordenador Regional, Conselheiro e Presidente de Congresso. Em Santa Maria, foi Presidente (Patrão) da Associação Tradicionalista Estância do Minuano e presidiu a 8o Tertúlia Musical Nativista. Em suas andanças e conquistas amorosas foi pealado pela Marilia Gonçales, tendo com ela o João Laureano e o João Vicente que desde tenra idade, juntamente com o pai, passaram a cultuar as lidas campeiras e o civismo, inclusive, desfilando a cavalo, todos os anos, nas datas consagradas à Pátria (sete de setembro) e ao Estado do Rio Grande do Sul (vinte de setembro). Os filhos cresceram, estudaram e hoje o João Laureano é Médico e o João Vicente é Médico Veterinário. Quando da sua aposentadoria preparou a " Estância Patacoada" na localidade de Loreto, entre São Vicente do Sul e São Francisco de Assis onde divide seu tempo de aposentado do MP com o escritório de advocacia em Santa Maria. Veja abaixo quem é o destaque, soltando o verbo no lançamento do Livro: Boca da Picada.

Walter Mendes Mucha, saudando Bressan, na Sociedade São Luiz, Boca da Picada, Jaguari,RS.
Marilia Gonçales Mucha e Neusa de Oliveira Bressan na Estância Patacoada





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