domingo, 20 de março de 2011

VII - MEIOS DE DIVERSÃO

MEIOS DE DIVERSÃO,


     As carreteadas se constituíam na só um evento de comércio, mas também uma cruzada de lazer, pois em cada parada de descanso não faltava a roda de chimarrão, o conto de causos, as cantorias, as trovas e as músicas executadas pelos próprios participantes do comboio. A gaita, o violão e o pandeiro ditavam o ritmo, sem faltar o trago, enquanto o carreteiro – o arroz, fervia na trempe. Andavam sempre juntos para dividir as tarefas e prestar socorro mutuamente. Assim era a vida dos carreteiros.


As Carreiradas


      As “carreiradas” tinham suas estrelas: os empresários (donos de cavalos), quitandeiras/Quituteiras(encarregadas dos lanches), os apostadores, corredores(jóqueis), os juízes. As brigas, os namoros e as exibições, as pacholices, as roubadas de namoro, faziam parte do cenário da grande festa. A repercussão do evento nas redondezas e nos municípios vizinhos sustentava a prosa por alguns dias. Os tratadores de cavalos, os comissários de jogos, os segredos dos tempos de cada animal, os jóqueis comprados, as marmeladas, eram ingredientes inseparáveis. Distancia percorrida – tiro curto, médio, longo, tudo isso fazia parte do Comércio de Carreiras. O palco principal deste espetáculo de patas de cavalo era a Cancha da Cruz, sinônimo de festa e muito mais, inclusive tema de música de nosso folclore gaúcho. Havia outra cancha reta na propriedade de Carlos Del Rio, entre Taquarichim e Mata, apresentando um requinte adicional: Durante o dia - Carreirada. À noite, Festa dos comissários, donos de cavalos, visitantes, em farra com bebedeira, chinaredo e carteado. As mulheres daqueles que lá ficavam à noite se vestiam de quituteiras ou lancheiras para não largar o pé dos maridos. Era fiscalização 24 horas por dia. Contam que Virginia Simmi tinha Idalina(7) com febre alta e largou tudo para vigiar o velho Marcírio que lá se encontrava. Levava quitutes e lanches só para despistar os espiões noturnos.


Lazer e suas Modalidades

      Quando as ondas de rádio não havia chegado ainda às casas do interior, as famílias tinham como diversão imediata a visita noturna aos parentes ou vizinho para contar causos, tomar chimarrão, jogar carta, ouvir música executada pelo dono da casa. Em fins de semana, alguns moradores tinham o hábito de reunir os filhos, embarcar numa carreta ou carroça com toldo e passar 2 ou 3 dias na casa de parentes ou amigos quando moravam longe. Aos domingos, quando havia carreiras, geralmente em cancha reta, a maioria se concentrava nas suas proximidades, não só para apreciar a disparada dos esbeltos” parelheiros” como também passear, namorar, vender quitutes e fazer apostas. A festa maior estava nos bailes. No passado, era em casa de moradia adaptada para o fandango. Mais tarde, com a construção de Sociedade ou Clube, as festas em geral passaram a estes apropriados estabelecimentos. As quermesses – festa popular junto ás capelas e igrejas, eram outra atração e ponto de reunião. Junto aos clubes havia cancha de bochas cujos participantes promoviam desafios e jogos com outras sociedades não só para competir mas principalmente para aumentar o circulo de amizade entre os participantes. A população mais jovem também praticava o futebol, porém sem camiseta de identificação nem chuteiras. Jogavam de pés descalços em gramado irregular – eram jogos de “pelada”. Na Sociedade Harmonia de Rincão dos Alves foi construída uma quadra de piso de cimento para a prática de futebol de salão, porém o atleta se obrigava a usar calçado – o tênis. Também foi construída uma cancha de bochas, inicialmente em piso de chão batido. Alguns anos depois, passou a piso sintético. Os bochófilos se reuniam para promover torneios entre sociedades, de modo que nos dias de disputa havia grande concentração de jogadores e visitantes, sem faltar, obviamente, o tradicional churrasco gordo para engraxar o bigode – de quem tivesse, é claro. O pessoal mais idoso se reunia em torno de uma mesa para jogar carta e tomar trago ou chimarrão. Ultimamente no Rincão dos Alves formou-se um grupo de aficionado no jogo de cartas, em diversas modalidades, os quais viajam longe para participar dessa saudável diversão. Os jogadores ficam tão concentrados em suas disputas que esquecem de se alimentar e de controlar o tempo. Quando se dão conta, o galo já está anunciando o novo dia – é madrugada ! A pescaria e o banho no Rio Jaguari, também fazem parte do rol de diversões dos Rinconenses, para quem gosta da arte, certamente ! Para aumentar as opções e modalidades de diversão, a Juventude dos anos 60 promoveu um encontro no Clube Harmonia em 2003, para recordar as aventuras, as farras, as folias e as festas daquela época. Também vem ocorrendo comemorações de aniversário de 80 anos e acima desta idade, como forma de celebrar a vida e aproximar os amigos e parentes que moram longe. Outros meios de diversão do passado eram Baile de Retorno dos carreteiros, as festas de surpresa, as festas populares, as galinhadas, as domingueiras, as matinês, as distinções dos convidados, as homenagens, as comemorações. Nestes eventos não faltavam os penetras, os abusados, os encrenqueiros, os brigões, os valentões, os arruaceiros, os faroleiros, os perturbadores de baile, a turma do deixa disso, os trapaceiros, os caloteiros, tudo era farra. Festas populares junto às capelas, igrejas, sociedades, sob a coordenação dos festeiros, tinham intenção arrecadatória que, aliada ao prazer de trabalhar pela comunidade, gerava recursos para a melhoria de novos ambientes de lazer e atividades sociais.


As Galinhadas


      Quando alguém da localidade fazia aniversário, era comum fazer um arroz com galinha, mas as galinhas eram do próprio aniversariante sem que ele soubesse. No dia do acontecimento, um grupo ousado e corajoso, invadia o galinheiro e fazia a retirada das penosas para o jantar baile, chamado “SURPRESA”(solpresa). Fazia a batida na casa do dono ao anoitecer e logo iam chegando os intrusos com as galinhas prontas para colocar na panela. O arroz, a salada, sobremesa, a bebida tudo era conseguido com os organizadores da festa. Ninguém podia reclamar da devassa no galinheiro – tinha que engolir sorrindo em nome de expressão como: “O bom cabrito não berra” ou “Pimenta nos olhos dos outros é colírio nos seus”

Um comentário:

  1. Alguns meios de diversão, como jogo de cartas(carpeta ou carteado, tava(jogo do osso)e Carreiradas(comércio de carreira) arruinaram a vida de muitos moradores de Rincão dos Alves. Os aficcionados em jogos dessa natureza cruzavam a noite e a madrugada grudados nos instrumentos de azar, e, consequentemente, não tinham ânimo para o trabalho do sustento da família. Muitos perderam no jogo o pequeno patrimônio que tinham.

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