terça-feira, 22 de março de 2011

XVIII - A NATUREZA E O CLIMA

XVIII - A NATUREZA E O CLIMA

A Incerteza do Tempo
 

Quem trabalha na terra e dela depende para retirar seu sustento e sobrevivência, deve ter uma amiga permanente chamada “sorte”. O Produtor Rural passa a vida inteira rezando para que o patrão lá de riba lhe conceda tempo bom para que tenha êxito no seu trabalho. Tenha boa produção de gado, porco gordo no chiqueiro, frango ou galinha no terreiro, ovelha e gado no campo e, principalmente produtos agrícolas. Rezar para que lavoura de soja, milho, hortaliças, arroz, fumo e outras culturas prosperem e lhe tragam razoável retorno financeiro.
O que é então tempo bom ? - Não é chuva volumosa nem torrencial que abarrota os rios e sai a campo fora levando tudo por diante, inclusive a camada fértil de terra naturalmente já adubada. Não é como o Rio Nilo, do Egito, que em suas cheias deixa na terra o gratuito húmus fertilizante – a dádiva do Nilo !
Aqui, quando ocorre enchente, a água arrasta tudo que está na sua direção, inclusive árvores e arbustos. Invade ainda os campos ameaçando arrastar o gado e interromper o transito nas estradas principais de acesso a certos lugares de passagem obrigatória. Nas áreas de encostas de morros, sem curva de nível, leva a terra fértil para lugares não aproveitáveis.
Tempo bom não é a estiagem prolongada nem seca causticante que esvazia o Rio Jaguari, as sangas, os lajeados, os açudes, com supressão das vertentes de água natural; nem aquele que deixa os animais e plantas em situação difícil de atingir um desenvolvimento saudável.
Tempo bom não é a geada intensa que inutiliza as hortaliças e outras culturas sensíveis ao frio intenso, nem a chuva fina e fria dos meses de julho e agosto que leva para a cova animais de pouca gordura sob a pele.
Tempo bom também não é a queda de granizo na lavoura nem o ataque de pragas de insetos devoradores como a lagarta do soja, o gafanhoto que vem em forma de nuvem e arrasa tudo que encontra; o pulgão do fumo, a lagarta do milho, o bicho do mato como o ouriço, a caturra, ave que ataca o milho ainda verde e tantos outros inimigos gratuitos que colhem o que não plantaram nem contribuíram para ajudar o produtor rural.
Tempo bom não são as rajadas de vento que envergam as culturas de grão prontos, dobrando as hastes do soja, do trigo, do arroz, os quais, em contato com o solo, brotam perdendo a qualidade ou se tornando difícil sua colheita.
O produtor rural vive um permanente risco de nada ou pouco colher que começa já no preparo do solo. Deve estar seco para entrar a máquina na época da aradura. A umidade deve ser suficiente para germinar a semente antes que os pássaros venham meter o bico e encher o papo.
No caso do arroz, tem que haver água em abundancia para sufocar o inço sem prejudicar o crescimento da planta. Noutras culturas a chuva continuada não permite a limpeza da lavoura mecanizada. Na época da colheita o solo tem que estar enxuto ou seco para as máquinas entrarem e operarem com eficiência. A lavoura deve ser colhida imediatamente tão logo fique madura, a fim de não correr o risco de ser levada pelas enchentes ou brotar no pé.
Conclui-se que uma boa colheita é um premio de loteria. É uma loteria esportiva do passado, com treze apostas ou mais, para ser contemplado como um prêmio. Poucos faziam 13 pontos para levar o prêmio máximo, isto é, a conversão em moeda ou poder de troca acima do valor esperado.
Quem pensa que o produto já na casa ou no galpão já havia acertado na loteria – engana-se. Ainda tem mais uma briga – a comercialização justa e garantida. Se todos os produtores da grande região fizessem boa colheita, o volume de oferta elevado jogava o preço lá para baixo. Era o momento de escolher a época certa para o faturamento do seu produto para quem podia esperar uma melhora no preço. Quem precisava resgatar títulos ou papagaios em banco, se sujeitava a vender a qualquer preço imediatamente. Se corria, o bicho pegava... Se parasse, o bicho comia ! Então, era melhor correr... Pernas... para que te quero !

                              
A abordagem anterior, relatando os riscos que cruzam os caminhos dos produtores rurais, não os faz mudar de atividade ou abandonar a vida do campo. Quem lá nasceu, viveu, cresceu, ficará sempre gostando do seu lugar de origem. Apesar do trabalho penoso, ao enfrentar inverno de demoradas geadas, chuvas frias ou verão causticante de queimar a pele, o produtor rural tem a flexibilidade de escolher o melhor horário para exercer sua atividade. No campo se leva uma vida simples, sem se preocupar muito com o visual. Na cidade, há exigência de uma melhor apresentação, por isso deve gastar mais no vestir para não se envergonhar ao ser confundido com desocupado, mesmo que tenha reservas econômicas e trabalho para a sua sobrevivência.
No campo há ar puro e segurança. As casas ficam de portas encostadas enquanto os donos vão ao trabalho da roça ou lavoura. Lá todos se conhecem e qualquer pessoa estranha ao lugar – logo é percebida e acompanhada em seus passos. Na cidade tem que ser tudo na base da chave e do cadeado e, mesmo assim, quando voltar do trabalho pode encontrar a casa arrombada e sem seus pertences conquistados com suor e dignidade.
Atualmente no campo existe o mesmo conforto da área urbana – eletrodomésticos de todos os tipos, veículos automotores de trabalho e de passeio e serviços de comunicação – telefone fixo e móvel.
Com a melhoria das estradas e a variedade de veículos automotores existentes no mercado, unidos à facilidade de adquiri-los, as distancias foram encurtadas no tempo, podendo, em situação de emergência, ficar próximo dos recursos em poucos minutos.
Quem trabalha no campo tem o privilégio de se aposentar, por idade, 5 anos a menos de quem trabalho na zona urbana. Por outro lado, houve um sensível aumento das pessoas aposentadas na zona rural, de modo que há uma garantia na saúde, educação e no vestir, uma vez que a alimentação vem da terra e está ao seu alcance – se a safra não falhar...
Sabemos que os governos das três esferas incentivam a fixação do homem ao campo, porque este não se preparou para trabalhar na cidade; a não ser seus filhos que buscam educação e lá encontram sua vocação para outra atividade. Porém, quem não estudou ou não quer estudar, e vai tentar trabalho na cidade, só vai encontrar sub-emprego, a não ser que acerte na loteria dos números ou do casamento. Outros trabalhadores, sem recursos financeiros, saem do interior para engordar o cinturão de flagelados em área de risco da zona urbana. Deixam a vida de Sargento no campo para viver como soldado raso na cidade.
Nada do que se está relatando tem regra fixa. Há os ajustes normais e naturais, distribuindo as pessoas de acordo com sua vocação para qualquer atividade humana. Costuma-se dizer:” Esta não é minha praia”, quer dizer, não se sente bem fazendo tal coisa. Outro dito popular: “ Ovelha não é para mato”, isto é, está trabalhando em lugar errado, não gosta do que está fazendo.
Há outro fator a ser levado em conta e que o força ao abandono do campo - é o tamanho da propriedade. Quando o chefe de família tem os filhos pequenos, a sua propriedade lhe dá sustentação. Quando os filhos casam, aí começa a encurtar a propriedade e alguém deve cair fora. Não há lugar para todos. Ficam no local quem tem vocação laboral e financeira para a terra.

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A Vida no Campo

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