terça-feira, 22 de março de 2011

XVII - MISCELÂNEA

Espanhol dos Pomares

  Logo após a revolução de 1930 aportou em Taquarichim o Sr. Francisco, de apelido “Espanhol”, casado com D. Adelaide, 4 filhos, vindo de país não identificado. Expressava-se em língua espanhola, daí o cognome espanhol. Era um expert em cultivo de pomares e hortaliças. No Rincão do Alves organizou vários pomares e instruiu muitos moradores na arte do cultivo de árvores frutíferas e hortaliças. O pomar da família de Marcírio foi o maior da região organizado e plantado por ele. A escolha de local, do solo, da adubação conferia à plantação qualidade de boa produtividade e durabilidade. Daí a razão da grande procura por seus serviços na região. Passados 80 anos ainda existia pé de macieira, laranjeira plantada por ele – Veja o exemplar à beira do açude, antiga morada de Antonio Machado de Oliveira, hoje propriedade da família Piecha.


Cerro Da Ovelha

  Quem chega ao Rincão dos Alves tem a sua direita um Cerro ou Morro que passou a denominar-se “Cerro da Ovelha”, tudo porque na medida em que se vai chegando à área mais povoada, nota-se contra o horizonte o formato de uma ovelha. Em torno desse Cerro tem surgido controvérsias sobre a existência de aparições como bola de fogo caindo sobre o centro. Por outro lado tem despertado o interesse de muitos caçadores de tesouro que lá comparecem equipados com detectores de metais na esperança de encontrar um enterro de libras esterlinas, moedas de ouro, cabedal de jóias e tantos outros requintes da imaginação dos seus pseudos exploradores. Em 1980, o Sr. Otacilio Marchioro, ferroviário, Agente de Estação de Santa Maria, para lá se deslocou levando equipamentos de última geração na busca de objetos metálicos enterrados. Escavou em diversos locais e nada achou e nada levou, a não ser picada de mosquito e chupão de morcego. A parte plana do cerro foi mutilada por escavações mudando seu visual. Quem passa pelo local percebe a remoção de pedras gigantes e solo revolvido.


Linguajar Chulo – ditados e ditos populares

  Registramos neste espaço alguns termos usados pelos moradores de Rincão dos Alves, de modo a simplificar a comunicação falada. Ao poucos vão perdendo seu uso, devido à invasão do rádio e da televisão nos lares rinconenses. Citamos alguns textos ou ditados e respectivos significados: Pra mode – De modo que, a fim de, para que... Não Diga ! – Interjeição de espanto ou contestação no modo de falar coloquial ou forma de espichar o” papo”(a conversa). Servindo de suquinho ou fazer de alguém um suquinho – É pegar no pé do indivíduo; não parar de encher ou torrar sua paciência. Se mandou a La cria – Foi embora do lugar sem perspectiva de retorno. Saiu para sempre... Chegou de mala e cuia ou foi embora de mala e cuia – Saiu do local ou foi embora de mudança, com todos seus pertences. É verdade ! É lógico ! Concordando com a opinião do outro. Tá louco ! Tá braba a coisa ! A coisa tá Preta ! - Admirando-se de algum fato que lhe surpreende. Deus me Livre, Nossa Mãe, Mãe do Céu, Minha Nossa, Virgem Maria ! – Quando quer se proteger de um mal que atinge uma pessoa conhecida ou amiga. Olho grosso, olho gordo – Diz-se de pessoa com influencia psicológica aguçada.Quando põe os olhos naquilo que deseja possuir e, se negado, ou morre ou se aniquila ou se quebra. Vista Grossa – Fazer que não enxerga. Passar ao largo sem dar atenção a alguma coisa ou pessoa. Ou ainda, não dar a devida importância propositalmente. Queimando lenha de taquara ou queimando taquara – Pessoa em dificuldade financeira. Quem Leva uma vida apertada no bolso. Inverno de muito couro – Muito animal morrendo de magro e de frio. Só se aproveita o couro. Turma do deixo disso – Apartadora de briga ou conselheiros ou apaziguadores de discórdias. Bochincho - Bagunça, perturbação, entrevero de arma branca, briga . Deus nos acuda – É o conhecido salve-se quem puder !. Fugir da raia – Isto é, quem se acovarda, abandona a luta, foge da briga ou do trabalho. Arranque de velho – Rapadura de amendoim, ou passoquinha ou pé- de-moleque. Manantial – Roça ou lavoura tomada de inço ou campo sujo de planta prejudicial à sua finalidade. Animal descontado – Animal com defeito físico que não se presta para alguma atividade. Rebolar a cola – Cavalo de corrida que cansa. Demonstração de cansaço. Chegou no seu limite de velocidade ou capacidade de corrida ou esgotamento físico. China – Mulher meretriz, profissional do sexo. Em outros lugares, china tem outra conotação, isto é, se atribui à moçoila, prenda, guria, moça direita. Pejorativo de mulher da vida é vagabunda, Quenga, galinha, prostituta. Vamos a luta ou ao sacrifício – Convite para uma refeição ou uma festa. Suco de outro ou suquinho ou virar suco – Pegar no pé de alguém, encher ao saco de Alguém. Papel de cachorro magro – Almoçar ou jantar na casa visitada e sair imediatamente. Veio buscar fogo – Vir às pressas e retornar sem muitas palavras.(Manter a chama acesa) Aprendiz de gaiteiro – Passa a noite dedilhando para tocar uma música na madrugada. Por analogia, arreto... Caúna – Erva mate de pouco sabor para o chimarrão. Topeira, matungo – Cavalo ou animal sem origem genética, baixa qualidade. Timba, Timbeira - local de difícil acesso, capoeiral, matagal, encosta de cerro. Tufuma – Uma marca antiga de cigarro que virou símbolo de produto popular e sinônimo de cigarro. Retovador – Cavalo inteiro que só excita a fêmea e não a cobre. Fez mal à moça - Significa engravidá-la e não assumir a paternidade. Pular a cerca, Riscar fora da caixa – Envolver-se em adultério, trair seu cônjuge. Quem menos corre, voa – Espertalhão, avião, ligeiro na oportunidade, oportunista Troteia ou sái da estrada – Alguém impedindo de fazer alguma coisa. Faz ou deixa os outros fazer. Quem não ajuda, não estorva !– Quando a presença de alguém atrapalha o serviço em andamento. Comer merenda antes do recreio – Relações íntimas antes do casamento. Pêsco não, vó, é pêssego ! – Netas corrigindo o português da vovó. Ó Louco(Faustão), Não diga ! – interjeição de espanto, de admiração, discordância. Linguajar do povo simples, caipira, matuto, jeca, interiorano, homem da roça, pouca cultura, dificuldade na articulação das palavras : -Trabaio, em lugar de trabalho; - Careta ou Caroça,em lugar de Carreta ou carroça–influencia da origem alemã ou italiana. - Véio(Velho), gentaia(Gentalha), truce(trouxe), oveia(Ovelha),sandaia(sandalha), nóis(nós) fumo,(fomos) nóis bamo(Nós vamos). Tratramento pessoal de relacionamento de família e amizade: - Compadre, Comadre - Quem batiza ou crisma o filho do parente ou amigo ou vizinho. - Seu (Senhor), Patrão, Patraozinho, vosmecê – Sinal de respeito aos mais velhos. -Senhora, Patroa, D.(Dona), Siá, Siazinha – Sinal de respeito ás senhoras de mais idade.


Disputa Por Um Nome

  Quem não se lembra do episódio na época da denominação do Clube social quando um grupo defendia uma homenagem ao patriarca João Alves Machado e outro, Sociedade Harmonia ? O primeiro grupo radicalizou: “Não sendo João Alves Machado, quem tiver meu sobrenome não colocará os pés nesse clube, enquanto eu viver !” Dito e feito...


Repassando a história

  Se alguém imaginar uma sociedade certinha onde todos respeitam as leis, cumprem totalmente suas obrigações individuais e não cometem falhas, este alguém é um sonhador, um utopista ou melhor dizendo, um perfeccionista frustrado. O ser humano nasce, cresce e se desenvolve no meio de conflitos que partem de todos os núcleos – familiar, social, partidário, em fim, onde está o homem o fenômeno da discórdia e do desajuste está presente. Tentar justificar a razão de certas posturas indesejáveis ou contrárias aos bons costumes, não quer dizer que se está fazendo apologia a certas atitudes rejeitadas pela sociedade, mas tentando ratificar que a comunidade de Rincão dos Alves não é diferentes de outras. Esta abertura tem a ver com os fatos a serem relatados na seqüência desta abordagem, envolvendo personagens que viveram ou vivem por lá. Em princípio cabe ressaltar a predominância dos bons costumes que reinou e reina na consciência de cada morador. Costumava-se dizer que, para a maioria, um fio de bigode constituía um documento ou um ato de respeito para com o outro. Era uma forma figurada de dizer que uma palavra valia mais que mil documentos oficiais. A exceção à regra, como sempre, é parte integrante deste contexto. Quantos casos de infidelidade aconteceram ? Quantas pessoas se prostituíram ou se corromperam – ou por necessidade ou por opção de vida profissional de sua livre escolha ? Mas foram punidas e corrigidas pela sociedade, ora rejeitando-as ora reintegrando-as. Quantas pessoas cometeram o suicídio levadas pela doença moderna chamada “depressão”, que pode ser de origem psíquica ou somática ou provocada por situações de negócios ou amor mal sucedidos. Todavia sempre ficou a lição, o ensinamento, o alerta, o tratamento. Quantas pessoas se deixaram envolver pela doença do ciúme doentio, levando-as a trágicos desfechos? Mas deve ter servido para corrigir atitudes e mudar conceitos de melhor convivência. Esta sociedade também testemunhou crime de filho ter atacado o pai em discussão de família, seguida de agressão fatal com arma branca. Porém, o trabalho da justiça mostrou que estas atitudes têm preço elevado e o cidadão tem que se dobrar às leis Quem não se lembra de um casamento desfeito e a noiva devolvida aos pais porque na noite de núpcia constatou que sua mulher não era virgem ? O acontecimento deixa seqüela, mas adverte que sempre haverão fatos não escritos no Gibi. Como se explica pessoa que abandona a família e deixa a casa por longos meses, sem dizer para onde vai, e ainda fazia isso repetidas vezes ? Pode não haver explicações convincentes, mas os palpites se cruzam e enriquecem o tema. Quem pode esquecer que na localidade, lá pelos idos de 1930, havia acirrada disputa entre chimangos e maragatos, culminando com a morte cruel dos inimigos de uma das facções ? O pior é que se exigia como prova da execução do trabalho - a cabeça da vítima - sob o compromisso de não enterrar o corpo unido à cabeça. No entanto, quem participou dessas atrocidades alega ter feito em nome de um ideal que na época tinha seu espaço. Quem pode esquecer o terror passado aos habitantes, principalmente as indefesas meninas e senhoras quando entravam na localidade os piquetes de cavaleiros, desrespeitando os princípios de propriedade e os direitos do ser humano ? A população foi ameaçada, prejudicada, mas o instinto de defesa local não deixou a safadeza reinar por muito tempo. Por outro lado, no Rincão dos Alves, povo acostumado a conviver com a boa fé, um trabalhador do campo foi enganado por um empresário da cidade que lhe emprestou dinheiro para investir na lavoura de arroz irrigado. No fim do contrato, ao tentar liquidar o empréstimo, constatou que as notas promissórias haviam sido adulteradas com o acréscimo de um “zero” à direita do valor a ser pago, tornando a dívida exorbitante e impagável, comprometendo o patrimônio do avalista. Resultado final, mesmo pagando a dívida: suicídio do casal tomador do empréstimo, porque a justiça deu ganho de causa ao astuto corrupto. Os mais antigos ainda lembram do rigoroso controle dos pares em salão de baile quando se expulsava da festa quem se atrevesse a lustrar a fivela do cinto na barriga da prenda ! E ainda, terminada a música, ninguém podia permanecer, “de par”, no salão, devendo liberar a dama para se recolher ao toalete. Houve um tempo em que não havia liberdade do cidadão manifestar publicamente sua preferência partidária porque seria perseguido pela facção adversária. Quem detinha o poder obrigava o adversário a esconder sua identidade como lenço vermelho - maragato, usado muitas vezes não como preferência partidária, mas como complemento da indumentária gaúcha.


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